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sábado, 15 de fevereiro de 2014

O Conselheiro do Crime


Há alguns meses, ao sair da sala de cinema e ainda sem uma análise elaborada, pensei que O Conselheiro do Crime (The Counselour, 2013) fosse fazer um estardalhaço no público sedento por roteiros ousados e personagens marcantes, como também imaginei que haveria indicações para o Golden Globe e para o Oscar... Não aconteceu nem uma coisa e nem outra.  Até a nota no IMDb está baixa. 

Dirigido pelo voraz Ridley Scott (Blade Runner, Alien, Prometheus) e roteirizado por Cormac McCarthy, vencedor do Pulitzer e autor do romance que deu origem ao quase clássico Onde Os Francos Não Têm Vez (No Country for Old Men, 2007), o longa tinha muito para se firmar como uma das melhores produções do ano. Além disso, a produção contou com um elenco de astros de Hollywood: Michael Fassbender, Javier Bardem, Cameron Diaz, Penélope Cruz e Brad Pitt, assim como com atores de inegável talento, como Bruno Ganz, Toby Kebbel, John Leguizamo (em participação não creditada) e Rosie Perez (num papel curto, mas marcante).

Poucas vezes vimos uma Cameron Diaz tão visceral e convincente. Sua personagem certamente entrará para galeria de mulheres extraordinárias, devassas, ousadas e vagabundas (opa!) do cinema.


O longa mostra a trajetória de um advogado tranquilo (Michael Fassbender, que é o tempo todo chamado de Counselor), apaixonado por sua noiva virtuosa (Penélope Cruz - recatada e sensual), que decide entrar num arriscado negócio de tráfico de drogas, pensando tão somente na fortuna que iria ganhar. Sem avaliar todas as variáveis possíveis daquele jogo, o personagem de Fassbender, apesar de alertado por um experiente traficante (um Brad Pitt estereotipado e dispensável), aceita fazer parte do plano de entrada de cocaína pela fronteira entre o México e os Estados Unidos, pensando que poderia tão somente ganhar uma bolada e voltar para sua vida equilibrada e romântica.

Uma falha na execução da jogada e uma infeliz coincidência jurídica colocam o nobre conselheiro (e companhia limitada) na mira dos furiosos grandões do tráfico. Somente ante o desespero dos comparsas é que o ingênuo advogado percebe que aquele dinheiro não viria tão fácil e que era tarde demais para sair ileso daquele universo cruel e sanguinário. A até então segura transação se torna um inferno para o protagonista, virando de ponta-cabeça seu trabalho, seu relacionamento amoroso e sua vida social. Amedrontado e impotente, ele passa a correr desenfreadamente para entender o funcionamento do esquema de queima de arquivo. A transformação do homem elegante num ser atabalhoado é apresentada com coerência e boa dose de tensão, tendo sido adicionado elementos que aplicaram com afinco o mesmo sentimento no espectador. Sem dúvida, um ótimo trabalho do ator alemão.


Não por acaso (em virtude do roteiro de McCarthy), a estrutura e os personagens do filme em muito se assemelham aos mesmos itens de Onde Os Fracos Não Têm Vez, não obtendo, contudo, o excelente resultado do longa dirigido pelos irmãos Joel e Ethan Coen. É aquela história de um homem que se aventura em uma  ação de risco e que só percebe não ser tão forte o bastante no meio da jornada. Nos dois casos, eles foram movidos pela ambição de ganhar uma fortuna rápido. "Eu faço algo errado, ganho muito dinheiro e pulo fora". Simples assim. Este é o pensamento dos ingênuos seduzidos pelo poder temporário.  Logo no início do filme, temos uma caça apreciada pelo casal formado por Diaz e Bardem (um par exótico, colorido e despudorado), que guarda a mesma estética e função do abatimento mostrado no prólogo de Onde Os Fracos Não Têm Vez. Uma alusão ao que seria mostrado no filme: o caçador pode virar a caça.


No decorrer do filme, uma série de personagens surgem e se mostram muito mais que meras aparições, conferindo destaque e cenas de tirar o fôlego.

E por que o longa não deu certo?

A ótima fotografia, o brilhante texto e o desempenho eficiente dos atores não garantiram que o conjunto ficasse arrebatador. Talvez boa parte dos entraves tenham se concentrado nos longos diálogos do filme, que, embora interessantes (que contradição!), ficaram desconexos no contexto em que foram inseridos. Como por exemplo, o que o relato de Bardem sobre a performance pornográfica da personagem de Cameron Diaz tem a ver com o assunto tratado inicialmente pelo Conselheiro? Ao final, ele (Bardem) ainda admite que a confidência não tinha nada a ver mesmo com a questão da confiança (???). Acho que é mais ou menos isso. Não obstante, o histriônico personagem de Bardem é o que dispara as mais divertidas e inspiradas frases durante a projeção.


A conversa ao telefone (com o Conselheiro aos prantos e acuado dentro do carro) e o irônico discurso de Diaz numa cena de impacto são apenas dois exemplares da instauração segura produzida entre o roteiro e a competência dos atores. É uma pena que a concatenação de cenas tenha sido infeliz.

Apesar das considerações, pelo roteiro, pela fotografia e pelos atores, eu recomendo que o filme seja visto (e talvez até revisto), pois pessoas interessantes e texto bem cuidado nem sempre têm dado as caras no cinemão.






por Dean Norris: http://c1n.tv/tag/dean-norris/



terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Hitchcock (2012)


O trabalho que tiveram com a escolha de um grande ator e a preocupação com uma maquiagem irrepreensível ficaram parecendo maiores do que o cuidado devido com o roteiro e outros elementos que garantem o sucesso de um filme.

Alfred Hitchcock, o Mestre do Suspense, é uma figura lendária no cinema, por conseguinte, trazer para os dias de hoje uma produção que retrate bem o jeitão do cineasta e os fatos importantes de sua história é um verdadeiro exercício de criatividade e destreza.

Apesar de oportuno, afinal, conhecer um pouco mais dos bastidores do clássico Psicose (Psycho, 1960) é sempre um brinde para legião de fãs da obra do Mestre, o longa deixou a sensação de uma arranjo incompleto, de uma abordagem que não conseguiu retratar fielmente a engrenagem da emblemática produção.



Hitchcock (idem, 2012) não se trata da cinebiografia do diretor, pois contempla somente uma fase de sua carreira, exatamente o momento em que o Mestre, ainda colhendo os louros do sucesso obtido com Intriga Internacional (North by Northwest, 1959), decide adaptar um romance de Robert Bloch para seu próximo filme.

Ocorre que o livro de Bloch era baseado na vida do assassino psicopata Ed Gein, considerado um monstro pela opinião pública norte-americana, e o estilo do escritor passava pela violência e uma certa dose de terror.

Os grandes estúdios recusaram e a censura caiu de cima. Morte, nudez, perversão. Como a conservadora família americana iria reagir diante de um filme como aquele?

E é diante desse entrave que Hitchcock mostra todo seu talento de persuadir pessoas e de driblar questões de investimento. Visto como ranzinza e temperamental, o cineasta não desistiu de sua ideia e teve de amargar o descrédito e a falta de apoio financeiro para um longa que todos achavam que seria um fiasco.

Da escalação do elenco ao acordo arriscado com a Paramount, a produção teve de se adaptar ao orçamento baixo (utilizando inclusive os estúdios da série televisiva Suspense) e confiar na determinação de Hitchcok.

Psicose tem várias cenas que nos despertam muita vontade de saber mais sobre os bastidores, mas Hitchcock (2012) mostra essa parte de forma rasa. É difícil mesmo inovar para falar desse filme. Parece que tudo já foi exaustivamente mostrado, debatido, explorado. Porém, o roteiro poderia ter ido por um caminho mais contundente na relação do diretor com atores e produtores.


A escolha do premiado Anthony Hopkins para viver Hitchcock, apesar de todo prestígio do ator, soou-me como um grande vacilo. A voz impostada e a perfeita maquiagem chamaram mais atenção  do que a própria interpretação. Não bastava ficar gordo e excêntrico, tinha de dar o tom debochado  e carismástico que o cineasta transmitia. Hopkins tem um jeito aborrecido, olhar de tédio e a face amarga, o que não combina com a imagem de bonachão do Mestre. Com tanto aparato, ele não conseguiu se esquivar da caricatura. Sorte de Helen Mirren, que brilhou no papel de Alma Reville Hitchcock, esposa e grande colaboradora dos trabalhos do diretor.

O filme deu considerável ênfase ao relacionamento pitoresco de Hitchcock e sua mulher, que sempre era relegada ao segundo plano. Alma Reville andava flertando - de maneira muito sutil  - com o roteirista Whitfield Cook (Danny Houston), e isto vinha arranhando o companheirismo incondicional que ela tinha com o marido. Essa relevância da relação comprimiu a participação mais eficaz de outros importantes nomes daquele momento, assim como reduziu os bastidores das filmagens. A demonstração da elaboração e montagem das cenas, algo que eu gostaria muito de ter visto, passou como rápidos trechos adicionais, sem dar muito tempo para degustar. A distribuição de personagens e episódios foi tão irregular que até Ed Gein (Michael Wincott) andou dando as caras mais do que o necessário. 

Com isso, os grandes ficaram pequenos: o cultuado compositor Bernard Herrmann (interpretado por Paul Schackman),  o roteirista Joseph Stefano (Ralph Macchio - o Karatê Kid!!!) e o designer gráfico Saul Bass (Wallace Langham), que participaram efetiva e brilhantemente da produção, ficaram relegados a meras aparições no longa.


O 'Anthony Perkins' de James d'Arcy ficou mais para um Norman Bates do que para o próprio ator (mas também tem aquela questão de papéis que se encaixam como luva por aproveitar a própria vida e o jeito do artista), ao passo que Scarlett Johansson (que deu vida à estrela Janet Leigh) e Jessica Biel (que interpretou Vera Miles) tiveram um pouco mais de proveito na interprestação das atrizes, e não de suas personagens. A eficiente Toni Collette, como sempre, deixou sua marca no papel da assistente e braço direito do diretor, graças ao talento e à forte presença da atriz.



A atriz Patricia Hitchcock, filha do diretor, que participou do longa Psicose, não apareceu e sequer foi citada no filme, enquanto que o galã do filme John Gavin ganhou uma ponta inexpressiva feita por um magrelo chamado Josh Yeo (quem?).

Estão pensando que eu não gostei do filme? Eu gostei, sim, pois não deixou de ser mais um acréscimo à galeria de itens que tenho do diretor. O problema é que retratar o mestre ou abordar sua obra-prima, a meu ver, é uma tarefa para produtores e diretores de primeira linha, pois, do contrário, nunca terá um conteúdo que satisfaça.

Entre os grande momentos, temos o confronto de Hitchcock com sua Alma Reville, quando ele, protestando por se sentir preterido, recebe de volta todos os argumentos e a revolta da mulher que sempre o ajudou. Nesta cena, temos uma verdadeira aula de interpretação da incrível Helen Mirren, na realidade, o maior destaque do longa. Outra cena vibrante é aquela em que Hitchcock, na primeira exibição de seu filme no cinema, orquestra, particularmente, a reação do público diante da famosa cena da morte no chuveiro.

Scarlett Johansson deu um tom delicado na sua interpretação de Janet Leigh, mostrando-nos uma relação terna e tranquila com o diretor; contrariando o ocorrido com algumas outras atrizes que trabalharam com o Mestre.


Outra cena que eu gostei, apesar de breve (mais uma...), foi a que mostrou os motivos da mágoa de Hitchcock com a magnífica Vera Miles (de O Homem Errado - The Wrong Man, 1956). A atriz, que havia sido escolhida para ser a estrela de Um Corpo que Cai (Vertigo, 1958), abandonou as filmagens uma semana antes do início das gravações. O texto colocado na voz serena - e ao mesmo tempo segura -  de Jessica Biel revelou que a atriz não quis ser uma nova Grace Kelly, por achar que se dedicar à família e ao seu filho (tido com o 'Tarzan' Gordon Scott) eram coisas mais importantes na sua vida.




Ainda não assisti ao The Girl (2012) produção televisiva de BBC de Londres, que mostra a relação tempestuosa do diretor Alfred Hitchcock com uma das atrizes que ele lançou: a belíssima Tippi Hedren, que protagonizou Os Pássaros (The Birds, 1963) e Marnie, Confissões de Uma Ladra (Marnie, 1964). Neste filme, o Mestre é interpretado pelo esquisito Toby Jones, enquanto que Tippi Hedren é vivida pela bela Sienna Miller.

Hitchcock (2012) é a execução de uma intenção interessante, mas ficou longe de poder ser considerado um filmaço.





sábado, 28 de julho de 2012

Doce Vingança


Há tempos eu estava querendo escrever sobre este filme, mas eu custei a ter um diagnótico sobre a qualidade e a procedência do que foi mostrado. Pois bem, transcorrido mais de um ano após o lançamento, eu resolvi tecer algumas considerações.
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Ter sido submetida a uma violência hedionda justifica as atrocidades cometidas pela protagonista com os seus algozes? O revide de uma pessoa do bem deve ser no mesmo estilo empregado pelos criminosos? Foi com um certo incômodo que assisti ao filme Doce Vingança (I Spit on Your Grave, 2010), uma produção que não foi um grande sucesso no cinema, mas que foi conferido por muitos adeptos das tramas "fazer justiça com as próprias mãos".



A sinopse não traz novidades: um bela jovem resolve se hospedar em uma cabana situada em lugar bucólico para escrever seu livro, sendo notada por alguns moradores do vilarejo próximo. Assim, quatro caipiras curiosos e sedentos por uma novidade, aproveitam-se do isolamento do lugar e resolvem fazer uma visitinha bem mal intencionada para garota. Se o objetivo inicial era um simples susto, o descontrole da situação se transforma num estupro com excessivos atos de humilhação. Após a violência extrema, os caras pensam que a violentada tinha morrido, mas ela, por um lance de sorte, consegue sobreviver e voltar com um plano de vingança. Nada doce como sugere o título em português.



Concentrando o primeiro e o terceiro ato em cenas de tortura física e mental, muitas vezes beirando o grotesco, o filme segue seu caminho sem se preocupar em empregar veracidade nas situações apresentadas, tampouco em dar uma dimensão maior aos personagens. Todo tipo de estereótipo está ali: o valentão metido a gostoso, o bobão que tenta recuar, o policial inescrupuloso que engana bem a comunidade local, o sádico que incita maiores atrocidades no ataque... E a moça ingênua que parece não raciocinar antes e depois do ataque.

Apesar do choque com a violência sexual sofrida pela garota, o que, num impulso imediato, faz com que todos queiram punição para os agressores, a tortura sanguinária empregada nos quatro caras desperta uma dúvida sobre a verdadeira índole da vítima.

É certo que o público desse filme não buscou registro de questões morais, religiosas,  comportamentais e outras coisas do gênero, uma vez que a proposta foi causar sensações de medo,  horror e sadismo (ainda que os espectadores não admitam isto), mas não é facil aceitar a violência gráfica e visceral sem questionar se a lição nos agressores deveria ser daquela forma.


A despreocução no emprego de dilema moral é tanta que as ações são cronometradas para a simples execução do que já estava anunciado. Ninguém ali pensou ou planejou com rigor como deveria agir, deixando a impressão de que tudo se encaixou por uma questão de acaso.

Pensem nas circunstâncias da vingança: estava todo mundo no lugar certo, na hora certa. E se aparecessem dois de uma vez? A garota magrinha conseguiria dar uma prensa da forma apresentada?

"Garota violentada arma um plano para fazer com que seus estupradores sejam desmascarados,  presos e submetidos a todo tipo de violência num presídio..." Ficaria legal, não é mesmo? Mas será que a chamada iria atrair aquele público contumaz? Fica a dúvida.



De toda forma, justiça seja feita ao desempenho da linda Sarah Butler, que interpreta a protagonista Jennifer Hills. A atriz se mostra bastante corajosa ao encarar um papel tão degradante e consegue conferir uma eficiente caracterização da jovem escritora tranquila, como também da fera assassina que ela se transforma após o ataque.






Nota: refilmagem de A Vingança de Jennifer (Day of the Woman, 1978), que foi classificado pelo renomado crítico Roger Ebert como o pior filme da história do cinema. Não vi este de 1978, mas existe tanto filme ruim por aí. Será que essa classificação procede?
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quinta-feira, 5 de julho de 2012

Shoot on Sight


Jag Mundhra já dirigiu muitos thrillers eróticos do tipo "direto para locadora" e fez a festa para canais de TV aberta que exibiam aquelas tramas de roteiros fracos e beldades peladas.

Mas quando esse diretor indiano resolve abordar temas mais sérios e polêmicos, ele pode até escorregar em alguns momentos dramáticos maniqueístas, mas se sai bem na condução de uma matéria que ele conhece bem: o preconceito sofrido pelos muçulmanos e o recorrente pavor do terrorismo.

E é com muito acerto que ele dirige o equilibrado Ataque Terrorista (Shoot on Sight, 2007), uma produção inglesa que passou despercebida nos cinemas brasileiros, mas que tem conquistado o público da TV fechada, embora já se tenha passado um bom tempo de sua realização.


O excesso de divulgação sobre iminentes ataques terroristas, quem nem sempre ocorrem como especulado, faz com que alguns inocentes sejam taxados de criminosos, enquanto que alguns homicidas sejam encobertos pelas dúvidas que tanta paranóia pode causar.

Inspirado claramente no incidente que envolveu o brasileiro Jean Charles, o filme retrata a intolerância de uma conservadora Inglaterra com  a raça que, após o fatídico atentado de 11 de setembro ao World Trade Center,  ficou com um estigma ainda maior de rebeldia e ameaça. Se o preconceito já existia em virtude do fanatismo de alguns, após o ataque terrorista, o ódio mascarado em deprezo (ou vice-versa) se potencializou em muitos países ocidentais.


Neste longa, um estudante mulçulmano, ao não entender uma abordagem na plataforma de um metrô, é morto a tiros por policiais, e isto deflagra uma crise interna na polícia londrina, justamente no momento em que um cargo importante era almejado por dois oficiais de diferentes linhas de trabalho. Pretendendo desviar o foco da quase inquestionável situação de racismo, o dúbio chefe de polícia (o veterano e eficiente Brian Cox) designa um oficial de conduta irrepreensível para prestar os esclarecimentos sobre a morte do estudante à imprensa e ao público de uma maneira geral. Numa boa jogada, ele escolhe esse oficial pelo fato de ele ser de origem paquistanesa e... muçulmano.
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A partir desse instante, entramos no universo desse nobre comandante chamado Tariq Ali, conhecendo seu lar, sua família e seus hábitos. Ele faz parte daqueles cidadãos que deixaram sua pátria para construir uma vida sólida e segura em algum país ocidental. Então ficamos sabendo de sua esposa inglesa (a sempre adorável e ex-sexy simbol Greta Schacchi) e de seus dois filhos: uma rebelde garota adolescente e um garoto em fase escolar.
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Em meio às investigações sobre atividades terroristas no país, como também a uma ensandecida busca de informações para esclarecer a morte do jovem inocente no metrô, o paternal e sereno Ali (interpretado magistralmente por Naseeruddin Shah), recebe seu sobrinho (Mikaal Zulfikar), um jovem engenheiro que veio do Paquistão para aprimorar seus estudos em Londres.
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O problema é que o filme incita-nos a acreditar que algo muito grave está para acontecer, e a chegada oportuna (no filme) desse sobrinho (engenheiro, muçulmano, arredio...) nos leva a crer que ele tenha algun envolvimento com um plano de ataque.



Com cenas de ação tensas e momentos de sincera emoção, Ataque Terrorista mantem-se firme a cada passagem, levando-nos a uma imersão num mundo cruel, que afasta sentimentos de compaixão,  compreensão e piedade, tão vitais para a tão desejada paz mundial, em prol da defesa de seguimentos que se entendem corretos, mas que também carregam falhas.

Destaques para a belíssima Laila Rouass, que interpreta uma policial idealista e muito amiga de Ali, e para o próprio ator que interpreta Ali, que, numa das cenas com seu amigo também muçulmuno (Gulshan Grover), revela o lado sombrio e velado que o medo pode causar às pessoas.
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Nota: Antes de assistir ao filme, não preste atenção no pôster de divulgação que circula pela internet. Nunca vi tamanha falta de sutileza.




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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Heavenly Creatures, 1994

A explosiva estréia de Kate Winslet no cinema...



Como fã do talentoso diretor Peter Jackson, fui assistir ao filme Um Olhar no Paraíso (The Lovely Bones, 2009) com ótimas expectativas, mas terminei por sair frustrado do cinema. 

As belas imagens de um mundo idílico, o prestigiado nome do diretor, os desempenhos memoráveis de Saoirse Ronan, assim como de Stanley Tucci, e a presença de atores de primeira linha (Mark Whalberg, Susan Sarandon e Rachel Weisz) não ajudaram a emplacar a trêfega história  da garota que, após ser assassinada por seu vizinho, acompanha a trajetória das investigações acerca de sua vida e visualiza o sofrimento de seus familiares.

Fantasia, drama, suspense, romance... Afinal, o que Peter Jackson quis apresentar ao produzir, roteirizar e dirigir esse filme?

Debates à parte, não é possível deixar de reconhecer a excelente qualidade das cenas passadas no mundo paralelo à realidade.

Assassinato e situações oníricas já nos foram apresentados pelo diretor em uma produção do início de sua carreira e, talvez, o filme Um Olhar no Paraíso tenha sido uma vontade de revisitar o supreendente Almas Gêmeas (Heavenly Creatures, 1994), o filme que marcou a estréia da premiada Kate Winslet no cinema.



O ponto positivo é que, no filme de 1994, o mundo surreal se encaixou perfeitamente ao contexto, visto que representava bem as mentes insanas e apaixonadas das duas garotas que protagonizam a história.

Baseado em fatos, o filme retrata a amizade obsessiva de duas adolescentes que, ao primeiro risco de serem afastadas por suas famílias, planejam o assassinato da mãe de uma delas. A primeira cena do filme é marcada por um momento da mais pura histeria e causa um certo incômodo, no entanto, isso é rapidamente atenuado com a transição para uma situação mais amena e corriqueira. E é com essa construção que percebemos a competente mão do diretor, pois, ao invés de nos colocar diante de uma mal arrumada ruptura, consegue-se transformar o impacto numa expectativa, numa vontade de saber o que irá nos conduzir àquele tenso prólogo, sem, contudo, tornar-se a espera fundamental dos espectadores, uma vez que o roteiro e o ótimo desempenho das atrizes preenchem os pensamentos com uma história firme e envolvente.


Kate Winslet, então com 19 anos, após participações em seriados de TV, com esse intenso filme, teve sua chance de aparecer na tela grande e de provar que não estava brincando de ser atriz.

Num dueto interessante com Melanie Lynskey (a Rose de Two and a Half Man, 2003-2011), Kate Winslet mantém-se firme nos momentos de docilidade, sensualidade e ferocidade de sua personagem. Uma atriz menos ousada não teria dado credibilidade ao dúbio sentimento que as garotas sentiam uma pela outra.

A partir desse trabalho, diretor e atriz começaram suas ascensões no mundo cinematográfico e estão presentes em vários filmes arrasa-quarteirões e em produções mais contidas, mas de inquestionáveis qualidades criativas.



Winslet mantém-se rigorosa em suas escolhas, seguindo uma linha de princípios e critérios parecida com a conduta adotada pela excepcional Jodie Foster, e Peter Jackson, após sucessivos sucessos de crítica e público, pode se dar ao luxo de escorregar nesses Olhares no Paraíso da vida...


quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

InSight, 2011



Visão do Crime (InSight, 2011) tem um trailer oficial que nos remete a mais um filme de suspense com sobrenatural, mas a história não é bem essa.

Não posso deixar de comentar a incrível preguiça dos distribuidores que dão os títulos em português para os lançamentos aqui no Brasil... Visões de Um Crime, Visão do Crime, Visão da Morte, A Versão do Crime... Falta de criatividade, desleixo ou incompetência?

InSight trata da tensa situação enfrentada por uma jovem enfermeira ao atender uma moça supostamente atacada por um bandido.


Tendo sofrido uma crise nervosa recentemente, a enfermeira Kaitlyn (Natalie Zea) sensibiliza-se com as últimas palavras da jovem atendida na emergência do hospital, passando, a partir de então, a buscar maiores esclarecimentos sobre o ataque sofrido pela garota.

À medida que ela avança nas investigações por conta própria, os acontecimentos ficam cada vez mais nebulosos, comprometendo a atenção que ela precisa dar à sua mãe (Veronica Cartwright, perfeita), que se encontra num delicado tratamento de câncer, e aos seus deveres profissionais.

Incomodado com a presença descontrolada da moça no caso, o detetive Peter Rafferty (o talentoso Sean Patrick Flanery) passa a observá-la e a repreendê-la pelas sucessivas interferências que ela faz nas investigações. Seguindo o velho clichê, ele, um policial que não deu certo no último envolvimento, ela, uma mulher carente e perturbada, terminam por se envolver afetivamente. E é neste relacionamento mais próximo que o detetive vê os fatos tomarem um rumo inesperado.

Neste mediano filme, a bonita atriz Natalie Zea (do seriado de TV Justified, 2010-2011) consegue se sair bem com sua ambígua personagem, criando algumas cenas de tocante emoção.

Ainda no elenco, o conhecido Adam Baldwin (que não tem parentesco com os demais Baldwins), do seriado Chuck (idem, 2007-2012), Thomas Ian Nicholas (da trilogia inicial de American Pie, 1999, 2001, 2003) e o sempre histriônico Christopher Lloyd.

Sem muitas expectativas, o filme é um bom entretenimento.


segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Brincadeira Mortal

O diretor inglês Stephen Frears, que ganhou o mundo cinematográfico com seus instigantes trabalhos promovidos nos Estados Unidos, tinha uma discreta carreira em seu país de origem quando realizou este bom exemplar de drama psicológico.



Brincadeira Mortal (Bloody Kids, 1979), que foi intitulado One Joke too Many nas salas norte-americanas, aborda a perversidade que se apresenta em pessoas aparentemente ingênuas. E, neste caso, a proposta se potencializa pelo fato de a maldade vir de uma criança com pensamentos incógnitos.

Dois garotos resolvem chamar a atenção de adultos, simulando uma briga em local público, com a intenção de provocar e testar a reação das pessoas. Porém, durante a luta combinada, um deles acaba se ferindo gravemente, sendo levado para um hospital. Ao invés do acidentado esclarecer que se tratava de uma brincadeira, ele se mantém na condição de vítima, instaurando uma dúvida sobre sua obscura personalidade.

Sem ser inocentado pelo amigo, o outro garoto passa a ser perseguido pela polícia, enveredando-se em agonizantes ruas escuras que contrastam com as cores berrantes, por muitas vezes rubras, que predominam em outros momentos do filme.

O ponto forte da história é exatamente a inversão do jogo, pois o garoto mais esperto e insolente fica refém da palavra de seu amiguinho menos articulado, sendo atirado no ridicularizado mundo de adultos, cercado de riscos e apreensão.




Perturbador...

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Faces in the Crowd, 2011

"I just have to close my eyes and listen. And you too are going to have to learn to find your inner music. Everyone always goes on about sight, hearing, smell. But there's another sense. A hidden one." 



O argumento de Visões de Um Crime (Faces in the Crowd, 2011) acerta em nos apresentar uma protagonista com uma desordem neurológica que a impede de visualizar detalhes de algo que põe sua vida em risco. O título em português não poderia ter sido mais infeliz e desleixado, considerando que já há uma outra produção (péssima por sinal) com este nome e que a escolha pouco se relaciona com o mote principal do filme. 

A interessante Milla Jovovich, acostumada a papéis de mulheres valentes, neste filme, interpreta Anna Marchant, uma professora de escola infantil, que, após uma noite de balada com suas amigas, resolve retornar para casa sozinha e por um caminho sombrio. A razão de uma moça bela e frágil optar por um retorno tão perigoso, ainda mais com recentes notícias de um assassino psicopata à solta, é apenas um dos vários pontos do roteiro preguiçoso de trama. Ingenuidade é pouco...

O assassino em questão é chamado de Tearjerk Jack pelo fato de deixar lágrimas nos corpos das mulheres que ele estruprava e estrangulava. E não é que Anna presencia o final de um estupro seguido de estrangulamento ao atravessar uma ponte? Assustada, ela procura sair do local sem ser notada, mas seu celular toca e chama a atenção do serial killer.



A garota foge, mas é alcançada e derrubada pelo assassino furioso. Na luta, sendo pressionada sob a grade de proteção da ponte, Anna se desequilibra e bate a cabeça numa barra de ferro, caindo, em seguida, nas águas geladas do rio.

Resgatada por um mendigo, ela acorda num hospital e leva o maior susto com os presentes falando seu nome. Ela não conhecia nenhum deles. Então, lá íamos nós para mais uma história de vítima que sobrevive a um ataque e desenvolve amnésia... Mas não era bem isto.

A batida na cabeça atingiu uma parte do cérebro de Anna,  conhecida como Lobo Occiptal, o que a fez desenvolver uma rara doença, que atinge somente a 2% da população. Esse distúrbio se chama prosopagnosia, uma junção das palavras gregas prosopo (rosto) e agnosia (sem conhecimento). Com isto, nossa protagonista havia perdido a capacidade de identificar o rosto das pessoas, inclusive o seu.


A princípio, Anna reluta com o fato de ter adquirido um problema irreversível, mas acaba sem saída ao se ver diante de dúvidas e dificuldades para resolver suas limitações. Entre os vários percalços, ela se vê impotente ao não conseguir um mecanismo para identificar seus próprios alunos.

Neste trecho do filme, em que a mocinha marca consulta com uma psiquiatra meio aloprada, temos o momento mais poético e significativo da proposta inicial do longa. A excêntrica médica (Marianne Faithfull) propõe à Anna que ela procure outras formas de identificar as pessoas, buscando características que não estivem restritas a um rosto. São gestos, perfumes, roupas, cabelos, vozes, um conjunto de itens que ela deveria se concentrar para se sair melhor na sua nova condição. Ela teria de aprender sua própria música, sua forma de administrar seu complexo e novo mundo.

Outro acerto na concepção do filme é a utilização de vários atores para interpretação do papel do marido de Anna, aproximando-nos de parte das inquietações e das dúvidas que cercavam a personagem.



A parte de investigação dos assassinatos é um caso à parte e só serve para empregar um clima mais tenso à história. Em sua necessária contribuição nas investigações, afinal ela era a única testemunha viva que esteve próxima ao Tearjerk Jack,  Anna é tachada de esnobe e requintada pelo policial que a recebe. O homem rude e sem tato, interpretado por Julian McMahon (de Quarteto Fantástico/Fantastic Four, 2005), não aceita as justificativas dadas por Anna para sua impossibilidade de reconhecer os homens nas fotos do arquivo policial. Entre idas e vindas, a professora e o policial acabam desenvolvendo uma ligação de cumplicidade e carinho.

Dando sequência à sua vida, Anna passa por momentos de descobertas e superação, intermediados por situações embaraçosas e apreensivas. Assim como Anna, o público também fica sem saber se ela estava na companhia de seu marido, de algum policial ou do assassino...


Para instaurar um link imediato entre a parte dramática e as sequências de suspense do filme, o roteiro nos retorna às palavras da psiquiatra de Anna. Ela deveria encontrar sua própria música para poder se orientar diante das situações de incerteza...




domingo, 11 de dezembro de 2011

Um Bonde Chamado Desejo


"Um Bonde Chamado Desejo" (A Streetcar named Desire, USA, 1951), dirigido por Elia Kazan, é baseado na peça teatral homônima de Tennessee Williams, que foi um grande sucesso da Broadway.

Na adaptação para o cinema, os produtores inicialmente quiseram que a mesma atriz do sucesso teatral (Jessica Tandy) repetisse o papel no cinema, porém as questões comerciais, quase sempre presentes na tela grande, falaram mais alto. Havia necessidade de se contratar uma atriz que garantisse público e, por conseguinte, retorno de bilheteria. Desta forma, convidaram a estrela Vivien Leigh para assumir a complexa personagem Blanche DuBois.

Bom para o público e ótimo para atriz, pois a inesquecível intérprete da Scarlett O'Hara de "E o vento levou..." (Gone With The Wind, 1939) teve, mais uma vez, a chance de brilhar no cinema

O longa ganhou quatro Oscars: Melhor Atriz (Vivien Leigh), Melhor Atriz Coadjuvante (Kim Hunter), Melhor Ator Coadjuvante (Karl Malden) e Melhor Direção de Arte, e ainda recebeu outras oito indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator (Marlon Brando), Melhor Fotografia em Preto e Branco, Melhor Figurino em Preto e Branco, Melhor Trilha Sonora, Melhor Som e Melhor Roteiro.
Blanche DuBois, a personagem central da trama, é uma mulher fina e bem criada, mas que passa por uma situação de decadência econômica e moral. O drama inicia-se quando Blanche vai visitar sua irmã Stella (Kim Hunter) que, ao contrário do restante da família, preferiu encarar os fatos e não viver de ilusão e lembranças do passado.
Ciente ou não da sua real situação financeira, Blanche continua a se comportar como uma mulher rica e não aceita o casamento de sua irmã com o grosseirão e viril Stanley Kowalski, interpretado pelo super astro Marlon Brando.


Nessa visita, Blanche acaba tendo vários embates com seu cunhado, num amontoado de alfinetadas, sarcasmos e ofensas.

Apesar da repulsa que um sente pelo outro (ela o acha pobre e vulgar, ele a considera fútil, velha e desequilibrada), a tensão sexual entre os dois é crescente.

Entre os desentendimentos e os poucos momentos aprazíveis (Stanley tinha uma turma de amigos muito divertida), Blanche fala de seu primeiro namorado, o grande amor de sua vida, de forma um pouco desconexa. No entanto, num momento de tensão, ela acaba por revelar à sua irmã que tudo terminou de forma trágica*.



Poético, duro e reflexivo como quase todos os outros textos de Tennessee Williams.

Notas:


Quando assisti ao filme, fiquei sem entender parte dos motivos que levaram a personagem de Leigh a um estado de devaneio e histeria. Posteriormente, assistindo a uma peça teatral, que teve Leona Cavalli e Milhem Cortaz (excelente ator, mas um pouco inadequado para o personagem) nos papéis principais, entendi muita coisa, pois eles não pouparam as revelações que foram omitidas no filme.
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Existe uma versão feita para TV, tendo a talentosa Jessica Lange (sempre eficaz em papéis de mulheres histéricas), no papel de Blanche, e o canastrão Alec Baldwin, interpretando Stanley. Não entendam o uso desse termo para Alec como uma ofensa, pois eu gosto muito de atores canastrões. Particularmente, achei que a versão ficou ótima, devendo também ser conferida.

sábado, 5 de novembro de 2011

A Casa dos Sonhos


Há tempos eu não iniciava a sessão de um filme com tão boa expectativa. Uma sinopse interessante, um diretor premiado e várias vezes indicado ao Oscar, duas belíssimas estrelas do momento e o atual 007 como protagonista... Só ficou no anúncio mesmo.



A Casa dos Sonhos (Dream House, 2011) traz a história de um  bem sucedido editor de Nova York (Daniel Craig) que, em busca de uma vida mais tranquila para si, sua esposa (Rachel Weisz) e suas duas filhas pequenas, decide se mudar para uma bela casa, situada numa cidade menor. Em pouco tempo na nova moradia, o casal se depara com situações estranhas e terminam por saber que aquela casa dos sonhos havia sido o local de um brutal assassinato de uma mãe e suas duas filhas. À medida que as situações bizarras aumentam, o homem conclui que ali era um lugar potencialmente perigoso para sua mulher e suas duas meninas.

Parece legal, não? Ainda mais com um elenco de peso, que inclui, além dos já citados atores,  a linda Naomi Watts (como a vizinha misteriosa que parece saber muita coisa), Elias Koteas e a veterana Jane Alexander.

De certa forma, eu já sabia que o mal formulado trailer tinha revelado algo que poderia ser um trunfo no filme, porém, mesmo se a cena tivesse sido omitida na chamada, o impacto não teria sido grandes coisas pela falta de inspiração do roteiro. Eu nem vou dizer qual é a cena.

O filme é tão mal conduzido e tem um desenvolvimento tão pouco convincente que os dois atores principais (Craig e Watts) parecem estar constrangidos nas últimos momentos da produção, demonstrando algo do tipo: olha a roubada que eu fui me meter!

Ainda bem que, mesmo dentro de um contexto tão ruim, Rachel Weisz consegue construir uma personagem terna e consistente, promovendo algumas boas cenas com Craig e interagindo perfeitamente com as duas talentosas atrizes mirins: Taylor Geare e Claire Geare.

Puro desperdício de grandes atores, de tempo e de um ideia original que poderia dar certo. Sugiro que aguardem o lançamento do filme em vídeo.



segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Lembranças



Alguns jovens atores alcançam o estrelato rápido em virtude de arrasa-quarteirões bem-sucedidos,  e muitos deles, aproveitando a onda do sucesso, procuram se firmar como bons atores antes que o estrondo  da fama se acabe.

Desta forma, rumam para papéis diferentes daqueles que os consagraram, buscando mostrar aos fãs e à crítica especializada que eles podem ser vistos (ou aproveitados) em outros estilos de interpretação ou em outras formas de apresentação da arte.

Foi o que pensei quando vi todo alarde em cima de "Lembranças" (Remember me, 2010), produção norte-americana dirigida por Allen Coulter, que conduziu a cultuada série "Família Soprano" (The Sopranos, 1999-2007), e estrelada por Robert Pattinson, o vampiro inexpressivo da cinessérie "Crepúsculo" (Twiligh, 2008; New Moon, 2009; e Eclipse, 2010).

O desinteresse foi tamanho que só deixei para assistir ao filme em casa, numa calma tarde de domingo, quando exibido na televisão. 

E que bom que existem esses momentos para que possamos nos redimir!



Acredito que grande parte dos especialistas em cinema ainda estão torcendo o nariz para o filme, pois, se pensarmos nas chamadas do cinema, a intenção foi mesmo a de promover Pattinson. Não por acaso, o desengonçado é um dos produtores executivos do filme.

A história está centrada no dia a dia de um jovem desajustado que rompeu com sua família após uma tragédia que se abateu sobre suas vidas. Apesar de contido, ele aceita o desafio de um amigo para seduzir a filha do policial que deu uma surra nos dois durante uma briga numa boate.



A bela garota, inicialmente invocada e arisca, cede aos encantos do rapaz e eles começam um namoro. No decorrer, o rebelde percebe que a mocinha também passava por um momento de superação, visto que ela havia perdido a mãe num assassinato cometido à sua frente. Forte o argumento, não?

Sem cair no piegas, o filme consegue mostrar  a gradativa e delicada inteiração de um jovem casal que tem dificuldades de encaixar a paixão sincera num mundo de dor e descrédito. Para piorar, havia a questão da mentira, pois a aproximação se deu  por uma irresponsável e perigosa intenção de vingança.


Interpretando o pai da moça, está o ótimo Chris Cooper, um policial rude que guarda a dor de não ter conseguido salvar a esposa de um assassino, mas que, em contrapartida, revela que seu jeito duro e pragmático é a sua maneira de proteger e amar a única filha. 



Pierce Brosnan está tão acostumado a papéis de homens sofisticados que parece conduzir o personagem do pai do protagonista num piloto automático, estando bem, como de costume, na personificação de um homem que usa o trabalho e a  projeção nos negócios como forma de não demonstrar a dor da perda. E isto é um problema, posto que o filho instável pensa em frieza e desamor, principalmente quando vê o desinteresse do pai pela  filha mais nova, um garota tímida e inteligente, interpretada com sinceridade e delicadeza pela doce Ruby Jerins.



Fechando o elenco principal, como a mocinha, temos a bela Emillie de Ravin, da série de TV Lost (idem, 2004-2010), e no papel da mãe do personagem de Pattinson, temos Lena Olin, de "A Insustentável Leveza do Ser" (The Unbearable Lightness of Bein, 1988).

Outro fator que me fez apreciar ainda mais o filme foi um item surpresa ao final. Acredito que todos se emocionam, de uma forma ou de outra, em maior ou menor grau, com um fato que abalou a opinião pública mundial. 

Sugiro uma visita a esta produção e finalizo com um registro que eu preciso fazer constar: eu não gosto de filmes (somente) românticos!
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