O argumento de Visões de Um Crime (Faces in the Crowd, 2011) acerta em nos apresentar uma protagonista com uma desordem neurológica que a impede de visualizar detalhes de algo que põe sua vida em risco. O título em português não poderia ter sido mais infeliz e desleixado, considerando que já há uma outra produção (péssima por sinal) com este nome e que a escolha pouco se relaciona com o mote principal do filme.
A interessante Milla Jovovich, acostumada a papéis de mulheres valentes, neste filme, interpreta Anna Marchant, uma professora de escola infantil, que, após uma noite de balada com suas amigas, resolve retornar para casa sozinha e por um caminho sombrio. A razão de uma moça bela e frágil optar por um retorno tão perigoso, ainda mais com recentes notícias de um assassino psicopata à solta, é apenas um dos vários pontos do roteiro preguiçoso de trama. Ingenuidade é pouco...
O assassino em questão é chamado de Tearjerk Jack pelo fato de deixar lágrimas nos corpos das mulheres que ele estruprava e estrangulava. E não é que Anna presencia o final de um estupro seguido de estrangulamento ao atravessar uma ponte? Assustada, ela procura sair do local sem ser notada, mas seu celular toca e chama a atenção do serial killer.
A garota foge, mas é alcançada e derrubada pelo assassino furioso. Na luta, sendo pressionada sob a grade de proteção da ponte, Anna se desequilibra e bate a cabeça numa barra de ferro, caindo, em seguida, nas águas geladas do rio.
Resgatada por um mendigo, ela acorda num hospital e leva o maior susto com os presentes falando seu nome. Ela não conhecia nenhum deles. Então, lá íamos nós para mais uma história de vítima que sobrevive a um ataque e desenvolve amnésia... Mas não era bem isto.
A batida na cabeça atingiu uma parte do cérebro de Anna, conhecida como Lobo Occiptal, o que a fez desenvolver uma rara doença, que atinge somente a 2% da população. Esse distúrbio se chama prosopagnosia, uma junção das palavras gregas prosopo (rosto) e agnosia (sem conhecimento). Com isto, nossa protagonista havia perdido a capacidade de identificar o rosto das pessoas, inclusive o seu.
A princípio, Anna reluta com o fato de ter adquirido um problema irreversível, mas acaba sem saída ao se ver diante de dúvidas e dificuldades para resolver suas limitações. Entre os vários percalços, ela se vê impotente ao não conseguir um mecanismo para identificar seus próprios alunos.
Outro acerto na concepção do filme é a utilização de vários atores para interpretação do papel do marido de Anna, aproximando-nos de parte das inquietações e das dúvidas que cercavam a personagem.
A parte de investigação dos assassinatos é um caso à parte e só serve para empregar um clima mais tenso à história. Em sua necessária contribuição nas investigações, afinal ela era a única testemunha viva que esteve próxima ao Tearjerk Jack, Anna é tachada de esnobe e requintada pelo policial que a recebe. O homem rude e sem tato, interpretado por Julian McMahon (de Quarteto Fantástico/Fantastic Four, 2005), não aceita as justificativas dadas por Anna para sua impossibilidade de reconhecer os homens nas fotos do arquivo policial. Entre idas e vindas, a professora e o policial acabam desenvolvendo uma ligação de cumplicidade e carinho.
Dando sequência à sua vida, Anna passa por momentos de descobertas e superação, intermediados por situações embaraçosas e apreensivas. Assim como Anna, o público também fica sem saber se ela estava na companhia de seu marido, de algum policial ou do assassino...
Para instaurar um link imediato entre a parte dramática e as sequências de suspense do filme, o roteiro nos retorna às palavras da psiquiatra de Anna. Ela deveria encontrar sua própria música para poder se orientar diante das situações de incerteza...
2 comentários:
Gilvan, sempre achei que a Mila, passva uma imagem meio ameaçadora, acho que ela não combina muito com tipo ingênuos. Gosto bastante da atriz, acredito que só falta ela cair nas mãos de um bom diretor , pra conseguir ser reconhecida como boa atriz.
Grande Flávio!! Então assista a esse filme. Mila está bem no papel de uma mulher "normal" e delicada. Abraços!!!
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