segunda-feira, 26 de julho de 2010

Rosto de Menina...

... Lembranças Monstruosas!

Para quem não sabe, o filme O Exorcista (The Exorcist, 1973) conta a história da possessão demoníaca de uma garota de 12 anos por um demônio pazuzu. Sem entender o motivo da mudança de comportamento da filha e após tê-la submetido a vários exames médicos, a mãe da garota (Ellen Burstyn) recorre a um padre jesuíta (Jason Miller) que, cético e emocionalmente instável, busca ajuda no crente e forte Padre Merrin (Max von Sydow). O roteiro do filme foi baseado no livro de William  Peter Blatty, que, por sua vez, teve inspiração em um exorcismo real de um garoto de 14 anos de idade documentado em 1949.

Que o filme O Exorcista se tornou um clássico, a grande maioria do público concorda, afinal, foi um dos raros filmes de terror a entrar para a seleta lista da Academy Awards, conseguindo o trunfo de receber 10 indicações para o Oscar, incluindo o de melhor filme, e vencendo nas categorias de melhor roteiro adaptado e melhor som.

Porém, dizer que o filme foi um grande negócio para seus participantes, já não é tão certo assim. O promissor diretor William Friedkin, que já havia dirigido o cult Operação França (The French Connection, 1971), flertou com o estrelato, mas não conseguiu manter o prestígio. Depois de dirigir filmes medianos na década de 80, o diretor passou a errar a mão e não se encontrou nos seus trabalhos seguintes.

Ellen Burstyn e Max Von Sidow são casos à parte. Eles permaneceram firmes e respeitados em seus trabalhos pelo fato de já terem uma carreira sólida e reconhecida pela indústria cinematográfica antes mesmo de atuarem nesse filme assustador. Tanto que partes do roteiro tiveram de ser alterados a pedido de Burstyn, para que ela aceitasse o papel.
O ótimo Jason Miller (Padre Karras) e Linda Blair (a garota Regan), embora tenham ganhado projeção no mundo cinematográfico, não conseguiram mais fazer papéis que lhes dessem crédito e reconhecimento artístico.
Após ficar com o papel que foi indicado para várias atrizes mirins e mais famosas, Blair viveu um momento sem igual. Virou uma estrela e teve grande parte de sua infância tomada pelos holofotes, pela participação em programas de televisão, por reportagens de revista e muitos encontros e seminários.

Com apenas 12 anos de idade, ela não pode assistir no cinema o próprio filme que lhe deu uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, mas ela sabia bem do resultado. Apesar de ter sido substituída por uma dublê nas cenas de maior impacto físico (quem se lembra da cena do crucifixo, sabe bem que não seria correto submeter uma menina àquela situação), assim como de ter sido dublada pela atriz Mercedes McCambridge quando possuída pelo demônio, o mérito pelo sucesso da personagem foi mesmo de Linda Blair, visto que a  garota trabalhou bem o processo de composição da complexa Regan, convencendo-nos de sua pureza e inocência ao início do filme e de sua intenção malévola no decorrer da possessão.
Depois de uns poucos papéis medianamente interessantes, a atriz começou a fazer filmes muito ruins, entre continuações de mal gosto e produções de terror padrão B.

Ela continuou a carreira, mas assumiu que havia perdido sua chance de se consagrar em Hollywood, tanto que aceitou fazer a paródia  A Repossuída (Repossessed, 1990), uma comédia que debochava do filme que a lançou, assim como de seu destino infeliz após o fim do sucesso.

A garotinha de rosto redondo viria também a fazer pontas especiais em filmes famosos que zombavam do terror, como Pânico (Scream, 1996), e a atuar em projetos curiosos, como o The Blair Bitch Project (1999), uma sátira divertida, cujo título fazia um trocadilho infame com o grande sucesso The Blair Witch Project, 1999 (A Bruxa de Blair).
De tudo isso, fica o reconhecimento de que Linda Blair realmente teve um desempenho memorável no seu melhor papel no cinema, bem como de que a atriz, madura e consciente, soube aceitar o seu destino não muito feliz e debochar de si mesma.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

O Terror no Início da Carreira

Em entrevista sobre sua filmografia, a oscarizada Renée Zellweger não mencionou sua participação, como protagonista, na infeliz sequência intitulada O Massacre da Serra Elétrica - O Retorno (The Return of the Texas Chainsaw Massacre, 1994). Se foi por lapso, desinteresse ou simples vergonha do passado cinematográfico, nunca iremos saber, mas é curioso o fato de o prestigiado Matthew McConaughey, que fez o vilão nesse mesmo filme, também omitir essa produção ao falar de sua carreira.

Se foi por constrangimento, as ironias de Hollywood fizeram Zellweger  ter um flerte com o passado ao protagonizar, recentemente, o sofrível terror Caso 39 (Case 39, 2009). Omissão por omissão, eu esconderia este último.

Mas a grande World Wide Web não perdoa ninguém e o site Liquid Generation fez  um Top 10 de atores consagrados que, no início de suas carreiras, apareceram em filmes de terror  B de gosto duvidoso. 

Alguns escaparam da lista, como a super Naomi Watts, que estrelou o filme Colheita Maldita IV (Children of the Corn: The Gathering, 1996), mas sabemos que esses Top's dificilmente conseguem ser exaustivos e agradar a todos.

Demi Moore, em Parasita (Parasite, 1982), e Patricia Arquette, em A Hora do Pesadelo 3 (A Nightmare on Elm Street 3 - Dream Warriors, 1987), capricharam nos gritos e quase pegaram o posto da insubstituível Jamie Lee Curtis. O interessante é que as duas, muitos anos depois, resolveram se enveredar novamente em produções de terror. É um sinal?

Vamos aos trechos:

segunda-feira, 5 de julho de 2010

É muito bom rir

Eu gosto quando acontece de eu estar zapeando no controle remoto e uma determinada cena de filme me chama a atenção. É aquele momento em que a gente resolver parar e verificar do que se trata aquela composição que nos agradou. Muito bom quando eu sinto que estou gostando de continuar assistindo. Ótimo quando eu descubro que é o início de um bom filme. Melhor ainda quando eu tomo ciência de que o filme tem um elenco de primeira.
Foi dessa forma agradável que eu me deparei com a cena inicial de "De Bico Calado" (Keeping Mum, 2005). Trata-se de um filme inglês de apurado humor negro. Quase todas as vezes que resolvi assistir às comédias inglesas eu tive uma grata supresa (à exceção dos filmes daquele grupo vulgar chamado Monthy Python).

Só o início já tem uma sequência digna de se citar naqueles momentos em que nos lembramos de hilárias cenas do humor negro.

Um garota muito bonita está num vagão de trem, seguindo viagem, e observa as crianças que estão em sua cabine. Eu cheguei a pensar que a moça era a queridinha Courteney Thorne-Smith (a Alisson, de Melrose Place), mas era apenas uma atriz parecidíssima chamada Emilia Fox. Ela tem a expressão doce e se veste como uma lady. Enquanto isso, no vagão de bagagens, um inspetor descobre que um baú de passageiro está escorrendo sangue e fica horrorizado. Na cena seguinte, o inspetor e o cabineiro entram no vagão da moça e informam que encontraram dois corpos mutilados dentro do baú de sua propriedade, e indagam se ela sabia do que se tratava. A bela garota sorri com naturalidade e informa que os corpos eram de seu marido e da amante dele. Com o sorriso mais ingênuo possível, ela conclui que eles estava planejando uma fuga, então ela não tinha outra coisa a fazer senão executá-los.

Calma! Isso é só o início. Exatamente a primeira cena. Daí para frente, há uma passagem de anos (talvez uns 40) e somos levados para uma bucólica cidade no interior da Inglaterra, onde vive uma frustrada dona-de-casa (a elegante Kristin Scoth Thomas), seu marido (um reverendo anglicano), sua filha ninfomaníaca e seu filho que apanha todos os dias na escola.

O marido é ninguém menos que o divertido Rowan Atkinson (o Mr. Bean), fazendo o papel que ele executa em piloto automático: o bobão bom, desastrado e ingênuo.

Insatisfeita com o marido vigário, a confusa esposa vê no seu sedutor professor de golfe um momento em que ela poderia voltar a se sentir mais... Bem, como eu posso explicar isso? Digamos: mulher. Se é que vocês me entendem...

O professor é o saudoso Patrick Swayze (1952-2009) que, interpretando um norte-americano moderno e safado, abusa dos clichês e das caras de canastrão de forma impagável.

Pelo que eu tinha visto até então, eu imaginei que teria um certo e bom entretenimento, mas, quando entrou em cena a nova governanta do casal, eu percebi que iria adorar o filme até o fim.

Mostrando ao público, mais uma vez, que ter sido vencedora do Oscar de Melhor Atriz por "Primavera de uma Solteirona" (The Prime of Miss Jean Brodie, 1969) foi algo mais do que justo, Maggie Smith surge vigorosa como a excêntrica Grace Hawkins, a governanta que usa métodos pouco convencionais, mas extremamente eficazes, para resolver os problemas da família que a contratou.

A partir de então, Maggie rouba todas as cenas em que ela aparece, tendo como ótimos momentos aqueles em que ela contracena somente com Scott Thomas ou com Atkinson.

Eu nem sou muito de ver comédias, mas tenho um gosto especial por humor negro. O que eu sei é que eu ri em vários instantes e gostei muito do resultado do filme.

Fica a sugestão. Grandes nomes, grandes performances e diálogos naquele tom exato para nos fazer rir.

O que a cena inicial tem a ver com a grande parte do filme? É fácil imaginar, mas o melhor é a forma com que vamos tendo certeza de que Mrs. Hawkins tem uma "missão" a ser cumprida naquela pequena e bonita cidade inglesa.