... Lembranças Monstruosas!
Para quem não sabe, o filme O Exorcista (The Exorcist, 1973) conta a história da possessão demoníaca de uma garota de 12 anos por um demônio pazuzu. Sem entender o motivo da mudança de comportamento da filha e após tê-la submetido a vários exames médicos, a mãe da garota (Ellen Burstyn) recorre a um padre jesuíta (Jason Miller) que, cético e emocionalmente instável, busca ajuda no crente e forte Padre Merrin (Max von Sydow). O roteiro do filme foi baseado no livro de William Peter Blatty, que, por sua vez, teve inspiração em um exorcismo real de um garoto de 14 anos de idade documentado em 1949.
Que o filme O Exorcista se tornou um clássico, a grande maioria do público concorda, afinal, foi um dos raros filmes de terror a entrar para a seleta lista da Academy Awards, conseguindo o trunfo de receber 10 indicações para o Oscar, incluindo o de melhor filme, e vencendo nas categorias de melhor roteiro adaptado e melhor som.
Porém, dizer que o filme foi um grande negócio para seus participantes, já não é tão certo assim. O promissor diretor William Friedkin, que já havia dirigido o cult Operação França (The French Connection, 1971), flertou com o estrelato, mas não conseguiu manter o prestígio. Depois de dirigir filmes medianos na década de 80, o diretor passou a errar a mão e não se encontrou nos seus trabalhos seguintes.
Ellen Burstyn e Max Von Sidow são casos à parte. Eles permaneceram firmes e respeitados em seus trabalhos pelo fato de já terem uma carreira sólida e reconhecida pela indústria cinematográfica antes mesmo de atuarem nesse filme assustador. Tanto que partes do roteiro tiveram de ser alterados a pedido de Burstyn, para que ela aceitasse o papel.
O ótimo Jason Miller (Padre Karras) e Linda Blair (a garota Regan), embora tenham ganhado projeção no mundo cinematográfico, não conseguiram mais fazer papéis que lhes dessem crédito e reconhecimento artístico.
Após ficar com o papel que foi indicado para várias atrizes mirins e mais famosas, Blair viveu um momento sem igual. Virou uma estrela e teve grande parte de sua infância tomada pelos holofotes, pela participação em programas de televisão, por reportagens de revista e muitos encontros e seminários.
Com apenas 12 anos de idade, ela não pode assistir no cinema o próprio filme que lhe deu uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, mas ela sabia bem do resultado. Apesar de ter sido substituída por uma dublê nas cenas de maior impacto físico (quem se lembra da cena do crucifixo, sabe bem que não seria correto submeter uma menina àquela situação), assim como de ter sido dublada pela atriz Mercedes McCambridge quando possuída pelo demônio, o mérito pelo sucesso da personagem foi mesmo de Linda Blair, visto que a garota trabalhou bem o processo de composição da complexa Regan, convencendo-nos de sua pureza e inocência ao início do filme e de sua intenção malévola no decorrer da possessão.
Depois de uns poucos papéis medianamente interessantes, a atriz começou a fazer filmes muito ruins, entre continuações de mal gosto e produções de terror padrão B.
Ela continuou a carreira, mas assumiu que havia perdido sua chance de se consagrar em Hollywood, tanto que aceitou fazer a paródia A Repossuída (Repossessed, 1990), uma comédia que debochava do filme que a lançou, assim como de seu destino infeliz após o fim do sucesso.
A garotinha de rosto redondo viria também a fazer pontas especiais em filmes famosos que zombavam do terror, como Pânico (Scream, 1996), e a atuar em projetos curiosos, como o The Blair Bitch Project (1999), uma sátira divertida, cujo título fazia um trocadilho infame com o grande sucesso The Blair Witch Project, 1999 (A Bruxa de Blair).
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