quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

InSight, 2011



Visão do Crime (InSight, 2011) tem um trailer oficial que nos remete a mais um filme de suspense com sobrenatural, mas a história não é bem essa.

Não posso deixar de comentar a incrível preguiça dos distribuidores que dão os títulos em português para os lançamentos aqui no Brasil... Visões de Um Crime, Visão do Crime, Visão da Morte, A Versão do Crime... Falta de criatividade, desleixo ou incompetência?

InSight trata da tensa situação enfrentada por uma jovem enfermeira ao atender uma moça supostamente atacada por um bandido.


Tendo sofrido uma crise nervosa recentemente, a enfermeira Kaitlyn (Natalie Zea) sensibiliza-se com as últimas palavras da jovem atendida na emergência do hospital, passando, a partir de então, a buscar maiores esclarecimentos sobre o ataque sofrido pela garota.

À medida que ela avança nas investigações por conta própria, os acontecimentos ficam cada vez mais nebulosos, comprometendo a atenção que ela precisa dar à sua mãe (Veronica Cartwright, perfeita), que se encontra num delicado tratamento de câncer, e aos seus deveres profissionais.

Incomodado com a presença descontrolada da moça no caso, o detetive Peter Rafferty (o talentoso Sean Patrick Flanery) passa a observá-la e a repreendê-la pelas sucessivas interferências que ela faz nas investigações. Seguindo o velho clichê, ele, um policial que não deu certo no último envolvimento, ela, uma mulher carente e perturbada, terminam por se envolver afetivamente. E é neste relacionamento mais próximo que o detetive vê os fatos tomarem um rumo inesperado.

Neste mediano filme, a bonita atriz Natalie Zea (do seriado de TV Justified, 2010-2011) consegue se sair bem com sua ambígua personagem, criando algumas cenas de tocante emoção.

Ainda no elenco, o conhecido Adam Baldwin (que não tem parentesco com os demais Baldwins), do seriado Chuck (idem, 2007-2012), Thomas Ian Nicholas (da trilogia inicial de American Pie, 1999, 2001, 2003) e o sempre histriônico Christopher Lloyd.

Sem muitas expectativas, o filme é um bom entretenimento.


segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Brincadeira Mortal

O diretor inglês Stephen Frears, que ganhou o mundo cinematográfico com seus instigantes trabalhos promovidos nos Estados Unidos, tinha uma discreta carreira em seu país de origem quando realizou este bom exemplar de drama psicológico.



Brincadeira Mortal (Bloody Kids, 1979), que foi intitulado One Joke too Many nas salas norte-americanas, aborda a perversidade que se apresenta em pessoas aparentemente ingênuas. E, neste caso, a proposta se potencializa pelo fato de a maldade vir de uma criança com pensamentos incógnitos.

Dois garotos resolvem chamar a atenção de adultos, simulando uma briga em local público, com a intenção de provocar e testar a reação das pessoas. Porém, durante a luta combinada, um deles acaba se ferindo gravemente, sendo levado para um hospital. Ao invés do acidentado esclarecer que se tratava de uma brincadeira, ele se mantém na condição de vítima, instaurando uma dúvida sobre sua obscura personalidade.

Sem ser inocentado pelo amigo, o outro garoto passa a ser perseguido pela polícia, enveredando-se em agonizantes ruas escuras que contrastam com as cores berrantes, por muitas vezes rubras, que predominam em outros momentos do filme.

O ponto forte da história é exatamente a inversão do jogo, pois o garoto mais esperto e insolente fica refém da palavra de seu amiguinho menos articulado, sendo atirado no ridicularizado mundo de adultos, cercado de riscos e apreensão.




Perturbador...

OivalF no Cinema é o vencedor do Top Blog 2011



O OivalF no Cinema, de meu amigo Flávio Júnio, foi o vencedor do Top Blog Brasil 2011, na Categoria Arte e Cultura.

Tendo concorrido com blogs de todo país, o OivalF ficou entre os três finalistas que participaram da  Cerimônia de Premiação realizada em São Paulo.

E o troféu de primeiro lugar foi entregue ao Flávio no dia 17 de dezembro de 2012.

Conheçam o blog e entendam a razão do merecido reconhecimento.

E pensar que na era pré-internet a gente trocava revistas para debater sobre assuntos de cinema, não é, Flávio?

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Faces in the Crowd, 2011

"I just have to close my eyes and listen. And you too are going to have to learn to find your inner music. Everyone always goes on about sight, hearing, smell. But there's another sense. A hidden one." 



O argumento de Visões de Um Crime (Faces in the Crowd, 2011) acerta em nos apresentar uma protagonista com uma desordem neurológica que a impede de visualizar detalhes de algo que põe sua vida em risco. O título em português não poderia ter sido mais infeliz e desleixado, considerando que já há uma outra produção (péssima por sinal) com este nome e que a escolha pouco se relaciona com o mote principal do filme. 

A interessante Milla Jovovich, acostumada a papéis de mulheres valentes, neste filme, interpreta Anna Marchant, uma professora de escola infantil, que, após uma noite de balada com suas amigas, resolve retornar para casa sozinha e por um caminho sombrio. A razão de uma moça bela e frágil optar por um retorno tão perigoso, ainda mais com recentes notícias de um assassino psicopata à solta, é apenas um dos vários pontos do roteiro preguiçoso de trama. Ingenuidade é pouco...

O assassino em questão é chamado de Tearjerk Jack pelo fato de deixar lágrimas nos corpos das mulheres que ele estruprava e estrangulava. E não é que Anna presencia o final de um estupro seguido de estrangulamento ao atravessar uma ponte? Assustada, ela procura sair do local sem ser notada, mas seu celular toca e chama a atenção do serial killer.



A garota foge, mas é alcançada e derrubada pelo assassino furioso. Na luta, sendo pressionada sob a grade de proteção da ponte, Anna se desequilibra e bate a cabeça numa barra de ferro, caindo, em seguida, nas águas geladas do rio.

Resgatada por um mendigo, ela acorda num hospital e leva o maior susto com os presentes falando seu nome. Ela não conhecia nenhum deles. Então, lá íamos nós para mais uma história de vítima que sobrevive a um ataque e desenvolve amnésia... Mas não era bem isto.

A batida na cabeça atingiu uma parte do cérebro de Anna,  conhecida como Lobo Occiptal, o que a fez desenvolver uma rara doença, que atinge somente a 2% da população. Esse distúrbio se chama prosopagnosia, uma junção das palavras gregas prosopo (rosto) e agnosia (sem conhecimento). Com isto, nossa protagonista havia perdido a capacidade de identificar o rosto das pessoas, inclusive o seu.


A princípio, Anna reluta com o fato de ter adquirido um problema irreversível, mas acaba sem saída ao se ver diante de dúvidas e dificuldades para resolver suas limitações. Entre os vários percalços, ela se vê impotente ao não conseguir um mecanismo para identificar seus próprios alunos.

Neste trecho do filme, em que a mocinha marca consulta com uma psiquiatra meio aloprada, temos o momento mais poético e significativo da proposta inicial do longa. A excêntrica médica (Marianne Faithfull) propõe à Anna que ela procure outras formas de identificar as pessoas, buscando características que não estivem restritas a um rosto. São gestos, perfumes, roupas, cabelos, vozes, um conjunto de itens que ela deveria se concentrar para se sair melhor na sua nova condição. Ela teria de aprender sua própria música, sua forma de administrar seu complexo e novo mundo.

Outro acerto na concepção do filme é a utilização de vários atores para interpretação do papel do marido de Anna, aproximando-nos de parte das inquietações e das dúvidas que cercavam a personagem.



A parte de investigação dos assassinatos é um caso à parte e só serve para empregar um clima mais tenso à história. Em sua necessária contribuição nas investigações, afinal ela era a única testemunha viva que esteve próxima ao Tearjerk Jack,  Anna é tachada de esnobe e requintada pelo policial que a recebe. O homem rude e sem tato, interpretado por Julian McMahon (de Quarteto Fantástico/Fantastic Four, 2005), não aceita as justificativas dadas por Anna para sua impossibilidade de reconhecer os homens nas fotos do arquivo policial. Entre idas e vindas, a professora e o policial acabam desenvolvendo uma ligação de cumplicidade e carinho.

Dando sequência à sua vida, Anna passa por momentos de descobertas e superação, intermediados por situações embaraçosas e apreensivas. Assim como Anna, o público também fica sem saber se ela estava na companhia de seu marido, de algum policial ou do assassino...


Para instaurar um link imediato entre a parte dramática e as sequências de suspense do filme, o roteiro nos retorna às palavras da psiquiatra de Anna. Ela deveria encontrar sua própria música para poder se orientar diante das situações de incerteza...




domingo, 11 de dezembro de 2011

Um Bonde Chamado Desejo


"Um Bonde Chamado Desejo" (A Streetcar named Desire, USA, 1951), dirigido por Elia Kazan, é baseado na peça teatral homônima de Tennessee Williams, que foi um grande sucesso da Broadway.

Na adaptação para o cinema, os produtores inicialmente quiseram que a mesma atriz do sucesso teatral (Jessica Tandy) repetisse o papel no cinema, porém as questões comerciais, quase sempre presentes na tela grande, falaram mais alto. Havia necessidade de se contratar uma atriz que garantisse público e, por conseguinte, retorno de bilheteria. Desta forma, convidaram a estrela Vivien Leigh para assumir a complexa personagem Blanche DuBois.

Bom para o público e ótimo para atriz, pois a inesquecível intérprete da Scarlett O'Hara de "E o vento levou..." (Gone With The Wind, 1939) teve, mais uma vez, a chance de brilhar no cinema

O longa ganhou quatro Oscars: Melhor Atriz (Vivien Leigh), Melhor Atriz Coadjuvante (Kim Hunter), Melhor Ator Coadjuvante (Karl Malden) e Melhor Direção de Arte, e ainda recebeu outras oito indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator (Marlon Brando), Melhor Fotografia em Preto e Branco, Melhor Figurino em Preto e Branco, Melhor Trilha Sonora, Melhor Som e Melhor Roteiro.
Blanche DuBois, a personagem central da trama, é uma mulher fina e bem criada, mas que passa por uma situação de decadência econômica e moral. O drama inicia-se quando Blanche vai visitar sua irmã Stella (Kim Hunter) que, ao contrário do restante da família, preferiu encarar os fatos e não viver de ilusão e lembranças do passado.
Ciente ou não da sua real situação financeira, Blanche continua a se comportar como uma mulher rica e não aceita o casamento de sua irmã com o grosseirão e viril Stanley Kowalski, interpretado pelo super astro Marlon Brando.


Nessa visita, Blanche acaba tendo vários embates com seu cunhado, num amontoado de alfinetadas, sarcasmos e ofensas.

Apesar da repulsa que um sente pelo outro (ela o acha pobre e vulgar, ele a considera fútil, velha e desequilibrada), a tensão sexual entre os dois é crescente.

Entre os desentendimentos e os poucos momentos aprazíveis (Stanley tinha uma turma de amigos muito divertida), Blanche fala de seu primeiro namorado, o grande amor de sua vida, de forma um pouco desconexa. No entanto, num momento de tensão, ela acaba por revelar à sua irmã que tudo terminou de forma trágica*.



Poético, duro e reflexivo como quase todos os outros textos de Tennessee Williams.

Notas:


Quando assisti ao filme, fiquei sem entender parte dos motivos que levaram a personagem de Leigh a um estado de devaneio e histeria. Posteriormente, assistindo a uma peça teatral, que teve Leona Cavalli e Milhem Cortaz (excelente ator, mas um pouco inadequado para o personagem) nos papéis principais, entendi muita coisa, pois eles não pouparam as revelações que foram omitidas no filme.
.
Existe uma versão feita para TV, tendo a talentosa Jessica Lange (sempre eficaz em papéis de mulheres histéricas), no papel de Blanche, e o canastrão Alec Baldwin, interpretando Stanley. Não entendam o uso desse termo para Alec como uma ofensa, pois eu gosto muito de atores canastrões. Particularmente, achei que a versão ficou ótima, devendo também ser conferida.