quinta-feira, 5 de julho de 2012

Shoot on Sight


Jag Mundhra já dirigiu muitos thrillers eróticos do tipo "direto para locadora" e fez a festa para canais de TV aberta que exibiam aquelas tramas de roteiros fracos e beldades peladas.

Mas quando esse diretor indiano resolve abordar temas mais sérios e polêmicos, ele pode até escorregar em alguns momentos dramáticos maniqueístas, mas se sai bem na condução de uma matéria que ele conhece bem: o preconceito sofrido pelos muçulmanos e o recorrente pavor do terrorismo.

E é com muito acerto que ele dirige o equilibrado Ataque Terrorista (Shoot on Sight, 2007), uma produção inglesa que passou despercebida nos cinemas brasileiros, mas que tem conquistado o público da TV fechada, embora já se tenha passado um bom tempo de sua realização.


O excesso de divulgação sobre iminentes ataques terroristas, quem nem sempre ocorrem como especulado, faz com que alguns inocentes sejam taxados de criminosos, enquanto que alguns homicidas sejam encobertos pelas dúvidas que tanta paranóia pode causar.

Inspirado claramente no incidente que envolveu o brasileiro Jean Charles, o filme retrata a intolerância de uma conservadora Inglaterra com  a raça que, após o fatídico atentado de 11 de setembro ao World Trade Center,  ficou com um estigma ainda maior de rebeldia e ameaça. Se o preconceito já existia em virtude do fanatismo de alguns, após o ataque terrorista, o ódio mascarado em deprezo (ou vice-versa) se potencializou em muitos países ocidentais.


Neste longa, um estudante mulçulmano, ao não entender uma abordagem na plataforma de um metrô, é morto a tiros por policiais, e isto deflagra uma crise interna na polícia londrina, justamente no momento em que um cargo importante era almejado por dois oficiais de diferentes linhas de trabalho. Pretendendo desviar o foco da quase inquestionável situação de racismo, o dúbio chefe de polícia (o veterano e eficiente Brian Cox) designa um oficial de conduta irrepreensível para prestar os esclarecimentos sobre a morte do estudante à imprensa e ao público de uma maneira geral. Numa boa jogada, ele escolhe esse oficial pelo fato de ele ser de origem paquistanesa e... muçulmano.
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A partir desse instante, entramos no universo desse nobre comandante chamado Tariq Ali, conhecendo seu lar, sua família e seus hábitos. Ele faz parte daqueles cidadãos que deixaram sua pátria para construir uma vida sólida e segura em algum país ocidental. Então ficamos sabendo de sua esposa inglesa (a sempre adorável e ex-sexy simbol Greta Schacchi) e de seus dois filhos: uma rebelde garota adolescente e um garoto em fase escolar.
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Em meio às investigações sobre atividades terroristas no país, como também a uma ensandecida busca de informações para esclarecer a morte do jovem inocente no metrô, o paternal e sereno Ali (interpretado magistralmente por Naseeruddin Shah), recebe seu sobrinho (Mikaal Zulfikar), um jovem engenheiro que veio do Paquistão para aprimorar seus estudos em Londres.
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O problema é que o filme incita-nos a acreditar que algo muito grave está para acontecer, e a chegada oportuna (no filme) desse sobrinho (engenheiro, muçulmano, arredio...) nos leva a crer que ele tenha algun envolvimento com um plano de ataque.



Com cenas de ação tensas e momentos de sincera emoção, Ataque Terrorista mantem-se firme a cada passagem, levando-nos a uma imersão num mundo cruel, que afasta sentimentos de compaixão,  compreensão e piedade, tão vitais para a tão desejada paz mundial, em prol da defesa de seguimentos que se entendem corretos, mas que também carregam falhas.

Destaques para a belíssima Laila Rouass, que interpreta uma policial idealista e muito amiga de Ali, e para o próprio ator que interpreta Ali, que, numa das cenas com seu amigo também muçulmuno (Gulshan Grover), revela o lado sombrio e velado que o medo pode causar às pessoas.
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Nota: Antes de assistir ao filme, não preste atenção no pôster de divulgação que circula pela internet. Nunca vi tamanha falta de sutileza.




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2 comentários:

Flavio Junio disse...

Gilvan, tenho assistido atualmente muitos filmes que abordam a cultura muçulmana e percebo uma riqueza singular proveniente da simplicidade de um povo,com muitos pouco instruídos -- ao lidar com problemas graves como a fome , a miséria e desigualdade dos sexos. Gostaria que vc assistisse ao longa O Apedrejamento de Soraya M. (The Storming Soraya M. tem no You tube) para debatermos sobre ele.Abs amigo!

Gilvan disse...

Grande Flávio, vou assistir, sim. É um tema muito forte e cheio de vertentes. Vamos debater sobre o filme. Abraços.