Esqueça o infeliz título em português, que nos remete a qualquer outra coisa que já assistimos em algum momento da vida. Deveriam ter optado pelo simples, apenas traduzindo o título original, afinal, o garoto do filme em questão tem nome, história, fotografias e representatividade na vida daqueles que o cercam. Estar presente em cena como um boneco não é um fator, pelo menos na proposta do filme, para ser visto como tal. Na realidade, os distribuidores brasileiros quiseram aproveitar o trunfo de alguns filmes que fizeram sucesso com seus bonecos diabólicos. Estão aí Annabelle (idem, 2014) e Chuck: O Boneco Assassino (Child's Play, 1998). Não entenderam (ou não quiseram entender) a sutileza e ironia do título em inglês.
O Boneco do Mal (The Boy, 2016) é um filme de terror em seu formato mais cômodo possível, aquele tipo que utiliza os mesmos itens e recursos das várias produções do gênero. Muitas vezes, argumento e roteiros muito elaborados para o gênero fazem com que o rumo se perca, incorrendo naquela triste sensação de que os idealizadores não souberam contar a história. Defendo que, na falta de um processo criativo de mestre (poucos o são), é preferível ir pelo terreno seguro mesmo. Se você não for um gênio de criação cinematográfica, fique no simples, da mesma forma sugerida para o título.
Por outro lado, nesse aspecto de se manter no usual ambiente do terror, é preciso estar ciente de que os clichês do gênero serão inevitáveis. Então, para o público, é necessário dar um desconto e embarcar na proposta, ao passo que, para os produtores, é esperado algum tipo de melhor do mesmo. Ou seja, trabalhar com o clichê não significa que os elementos deverão ser revisitados sem algum tipo de inovação. Trabalhe o ângulo, trabalhe o momento, trabalhe o ator, inverta a ordem. Recontar o conhecido de forma ímpar também é muito bem-vindo.
Veja se não parece com o conteúdo de qualquer coisa que já vimos: garota bonita sozinha e vulnerável, mansão isolada no meio de uma floresta, carros que não dão partida de início, barulhos estranhos, sonhos assustadores, acordes altos... Por aí vai! O importante é cuidar para que não fique burocrático (no sentido negativo do termo) e simplesmente jogado na cara do espectador.
Greta, uma bela garota norte-americana (Lauren Cohan, a Maggie de The Walking Dead), tentando esquecer os tormentos de um namoro sofrível, aceita um trabalho de babysitter numa mansão em lugar remoto da Inglaterra. No local, ela é recebida por um casal de meia-idade e termina por descobrir que havia sido contratada para cuidar de um boneco. Aí que entra a questão de dar esse nome ao título. Apesar de a criança ser realmente um boneco, sua existência era encarada como a de um garoto normal, com direito a rotinas próprias de um ser humano. E, o mais importante, ele tinha um histórico de vida: registros fotográficos (de quando existia), nome, certidão de nascimento...
Logicamente, a princípio, a mocinha acha a situação risível, mas como ela estava recebendo um bom dinheiro para aquele ofício e pretendia realmente manter distância do namorado complicado, resolveu entrar no jogo e tratar Brahams (o nome do garoto representado pelo boneco) como uma criança.
O casal, então, decide sair numa esperada viagem de férias (para isso eles haviam contratado Greta), deixando a babá completamente sozinha (e isolada) na mansão com o garoto.
A partir daí, não é difícil imaginar que Greta começaria a ouvir vozes, receber telefonemas, ter objetos desaparecidos, terminando, por fim, a entrar em pânico. É realmente necessário compreender a natureza tola das mocinhas de filmes de terror, senão fica impossível embarcar na história. O roteiro chega a ser bem patético em certos momentos. Ninguém tem pertences tirados de um local, ainda mais quando se está sozinho em casa, e sai em busca, adentrando aquele batido lugar escuro e sinistro, e o pior, apenas de toalha!
Relevem!
O bom do filme é que ele não invocou os velhos feitiços e maldições tão recorrentes nos filmes de terror atuais, indo por um caminho que, sem tanto alarde, ao menos foi sincero e acertado.
Longe de ser um filmão, O Boneco do Mal ao menos serve para uma boa sessão de filme de terror. sem muitas pretensões. Vale ver na TV, em VOD ou streaming.
Concluindo a ópera, eu gostei.
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