Vendo a falta de criatividade de algumas cenas do filme Piranha 3D (idem, 2010), lembrei-me de uma reportagem que li sobre a concepção de Missão Impossível 2 (Mission: Impossible II, 2000), em que foi relatada a prioridade das cenas de ação para se delinear o roteiro. Diferenças à parte, parece-me que Piranha 3D foi montado a partir dos objetos que seriam projetados na fuça do espectador.
Diálogos pouco inspirados, cenas copiadas de outros filmes e algumas interpretações risíveis são partes dos acessórios para um verdadeiro show de mulheres peladas, cenas eróticas, música dançante e eficiente maquiagem. Não obstante, é possível assistir ao filme do início ao fim, podendo, ainda, se divertir. Acreditem...
O principal cartaz de divulgação é muito parecido com o pôster do cult e bem-sucedido Tubarão (Jaws, 1975). Não por acaso, Richard Deyfruss, o astro desta produção de Steven Spielberg, faz uma ponta no primeiro ato de Piranha, numa tentativa de causar impacto dramático logo de início, como também numa forma de valorizar as chamadas para o cast. Acredito que os nomes de Ving Rhames, Christopher Lloyd e Dreyfuss serviram para isto. Sem falar na protagonista, a indicada e premiada Elisabeth Shue.
Os personagens habituais desse tipo de produção estão todos lá: os policiais corretos e protetores, a suposta namoradinha virgem que fica em perigo, as pessoas hedonistas que não se preocupam com os alertas e continuam na bandalheira, o jovem irresponsável que se mete em enrascada por causa dos hormônios, os palhaços que não levam nada a sério e as belas piranhas que aprontam todas e que nós já sabemos que irão morrer (não estou falando dos peixes).
Como se não bastasse tanto clichê e tanta falta de inspiração, ainda temos Lloyd, mais uma vez, fazendo o cientista maluco, num papel que serve somente para dar uns explicações básicas para lógica do filme.
Quando o filme for passar na TV paga, tirem as crianças da sala, pois a linda e escultural Kelly Brook protagoniza uma longa cena lésbica e esteticamente bem cuidada. Ah, mas o papel não é de lésbica, é apenas de uma garota que gosta de curtir diferentes momentos, se é que vocês me entendem...
Depois de muita descontração, música, dança, bebidas, um natural abalo císmico ocorrido nas profundezas do mar liberta criaturas demoníacas com sede de sangue e apetite voraz por carne (calma, eu ainda estou falando do filme Piranha). Na explicação científica do personagem de Lloyd, trata-se de um espécime tido como extinto há milhares de anos, mas que, por algum motivo, conseguiu sobreviver abaixo do solo marítimo e se procriar (ah, não queiram entender...). A partir de então, o azul contagiante do filme é tingido de vermelho para a apresentação de um verdadeiro espetáculo de maquiagem (bem-feita) e de cenas cruéis ao estilo da franquia Jogos Mortais (Saw)
Além da diversão, dos recursos tecnológicos e da publicidade em torno do filme, a presença da belíssima e eficiente Elisabeth Shue também foi um motivo que me levou a conferir a produção. A prestigiada atriz ficou com o difícil papel de dar credibilidade às cenas e de impor o tom dramático nos momentos que precisavam ser críveis. As cenas com as peladas de plantão e com o cientista maluco são aquelas em que nos compadecemos com o esforço de Shue em parecer séria. Ao final, ela consegue.
Pelas fotos do Avant-Première, em que está registrado o clima de festa e sorrisos, ficamos certos de que atores e diretor não fizerm o filme com a intenção de parecer sério realmente (criticaram a gostosinha da Megan Fox que andou admitindo essas coisas em outro filme...), mas sim de propor um entretenimento sem maiores pretensões para o verão norte-americano.
Bem, apesar do tom da postagem, eu sugiro um conferida no filme. Vale a diversão.