quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

O Lobisomem (The Wolfman, 2010)

Bom argumento, bom filme.

Sabendo tratar-se da refilmagem de um clássico, mais uma vez, eu fui ao cinema pensando que iria conferir outra heresia praticada pelos aventureiros da nossa década. Existiam alguns prenúncios de seriedade, tais como a presença de Sir Anthony Hopkins no elenco e a produção do talentoso ator Benicio del Toro, que também assumiu o papel de protatonista do filme; mas coisas assim, por si só, não garantem acerto e qualidade no resultado final.

E ainda tive de considerar que, para os padrões atuais dos filmes que assustam e impressionam, a história do original O Lobisomem (The Wolfman, 1941) me soou, a princípio, como uma cilada, pois a trama não tem fantasias suficientes para produção das imagens gráficas tão requeridas pelos espectadores atuais. Ou seja, como manter fidedignidade sem uma alteração significativa? O terror de antigamente não assusta tanto o público de agora. Dessa forma, a produção de O Lobisomem seria um desafio.

É aí que entra a genialidade. O filme deu certo e me agradou muito.


Estávamos precisando de um filme sobre lobisomem que não fragilizasse e que não tentasse humanizar a criatura como tem sido feito nos filmes atuais.

Esse negócio de lobisomens e vampiros introspectivos, emos, sensuais, apaixonados, contidos e o diabo a quatro já estava cansando.

Pronto: trouxeram de volta a fera sanguinária, amedrontadora e quase irracional que foi aduzida para o grande público nos lendários filmes de lobisomem.


Outro aspecto positivo foi a aparência mais próxima do humano, tal como foi no longa de 1941 (é claro que bem mais melhorada, pois o wolf visual do filme antigo é de quase fazer rir). O lobo anda em pé quando necessário (deixando clara a sua natureza humana) e corre de quatro quando dá vazão ao seu lado mais animal, uma boa sacada dos produtores.

Ao contrário de produções como O Lobisomem Americano em Londres (An American Werewolf in London, 1981), O Lobisomem Americano em Paris (An American Werewolf in Paris, 1997), Amaldiçoados (Cursed, 2005) e Grito de Horror (The Howling, 1981), dos quais eu gostei e recomendo, a fera não se apresenta como um lobo no seu aspecto mais Canis Lupus possível, tanto que ela nem tem o famoso e ridículo focinho comprido apresentado nesses filmes.

Li em sites de críticas especializadas que os bastidores do filme foram tumultuados, o que levou o lançamento a ser protelado por mais de um ano. Sinal de que a conclusão do longa não foi uma tarefa fácil.

O argumento foi mantido quase que na íntegra e a ambientação também ficou na obscura Inglaterra vitoriana da última década do século XIX. A história é sobre um famoso ator londrino (Benicio del Toro) que recebe o chamado da noiva de seu irmão para ajudá-la a localizar o noivo desaparecido. Para isso, ele retorna ao castelo de seu pai e se vê obrigado a participar de uma investigação local sobre assassinatos violentos, o que provavelmente teria vitimado seu irmão.

Utilizando a repetida fórmula de muitos filmes de terror, a trama nos revela que o equilibrado ator tinha sofrido alguns traumas na infância, supostamente resolvidos, e que o contato com elementos perturbadores poderiam abalar a sua estrutura emocional.

Delírio e provável insanidade sempre são atrativos interessantes na condução de uma história de terror.

A recriação da época e a bem elaborada fotografia garantiram nossa inserção no clima tenso e sombrio necessário ao bom desempenho do longa, assim como os figurinos utilizados que, embora eu não entenda bem desse aspecto de tecido e época, me pareceram adequadamente requintados e coerentes para os personagens. Só não vou comentar a qualidade e a resistência a toda prova das calças, das camisas e do colete do protagonista... Vira lobo, volta a ser homem, pula da janela, corre no bosque e a roupa está lá... Bacana!

Os efeitos visuais são muito bons e não mostram aquele excesso de computação gráfica presente na maioria dos filmes de terror da atualidade.

Falando do elenco, não gostei muito do papel principal ter ficado com Benicio del Toro. Eu admiro muito esse ator, mas não o achei adequado no papel do elegante filho de um nobre inglês. Ele é muito rude para isso. Por outro lado, apreciei a acertada a escolha de Anthony Hopkins para o papel do pai misterioso, visto que o ator desempenha papéis de ingleses requintados no piloto automático.

Hugo Weaving, no papel do Inspetor Aberline, como sempre, fez um trabalho impecável e deu a dose certa de correição e vilania necessária a esse tipo de personagem. Para a bela Emily Blunt (de O Diabo Veste Prada) não sobra muita coisa a se fazer como a mocinha de um filme de terror cheio com personagens masculinos mais proeminentes, no entanto, a atriz ainda consegue ter uma boa presença e executar uma atuação equilibrada e romântica.

Por falar em romântico, o filme pecou por não ter desenvolvido melhor a relação entre a mocinha e o personagem central, fazendo com que o amor verdadeiro (e necessário na trama) soasse como um pouco artificial.

Assistam ao filme e não tenham medo de gostar, assim como de rir dos outros filmes de vampiro e lobisomem que temos visto nos últimos tempos.

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