Existe uma corrente de cinéfilos que criticam a mania dos norte-americanos de promoverem adaptações de filmes de outros países que fizeram sucesso pelo mundo afora. Cheguei a ler que isso se deve à preguiça dos cidadãos dos Estados Unidos de lerem legendas e à falta de inspiração dos grandes estúdios para produzirem filmes com um bom argumento. E as críticas vão além: a s refilmagens de longas originados em países de língua não inglesa estão apresentam resultados muito ruins. Os
remakes (com alteraçãos para atender o estilo hollywoodiano) têm como fontes os filmes de sucesso de países como o Japão, a Tailândia e a Espanha.
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Como exemplos, temos: "O Grito" (The Grudge , USA, 2004) e sua deprimente continuação, refilmagem de "Ju-On - O Grito" (2000); "O Olho do Mal" (The Eye, USA, 2008), com Jessica Alba (provando que é realmente bonita e péssima atriz), refilmagem de "The Eye - A Herança" (2002); "Imagens do Além" (Shutter, USA, 2008), refilmagem do ótimo "Espíritos - A Morte Está ao Seu Lado" (2004); e "Uma Chamada Perdida" (One Missed Call, USA, 2008), refilmagem de "Chakushin Ari" (2003). Os remakes mencionados acima nos apresentaram filmes inferiores aos originais e, em alguns casos, verdadeiras bombas, o que me leva a sugerir que as pessoas procurem assistir aos longas que serviram de base para o produto norte-americano. Acho que serão mais felizes.
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E notem que os filmes originais nem são tão antigos e poderiam ter sido distribuídos dignamente no país, sem a necessidade de um alto custo para uma versão fraca.
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Felizmente nem todas as versões norte-americanas ficaram ruins, uma vez que temos sido presenteados com gratas surpresas como "Água Negra" (Dark Water, USA, 2005), com a ótima Jennifer Connelly, sendo uma refilmagem de "Honogurai Mizu No Soko Kara" (2002); "Vanilla Sky" (Vanilla Sky , USA, 2001), um filme bom, embora inferior ao original espanhol "Abre los Ojos" (1997) e "O Silêncio do Lago" (The Vanishing, USA, 1993), refilmagem de "Spoorloos" (1988), da Holanda. Eu tenho ciência de que os dois últimos citados foram "condenados" pela crítica especializada, mas ficaram bastante razoáveis e renderam bons comentários de muitos que os assistiram.
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Mas vamos ao que interessa:
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Diante dessa introdução, quero me referir a um filme que marcou a trajetória de filmes de terror e trouxe um diferencial para os fãs do gênero: o excelente "O Chamado" (The Ring, USA, 2002). A prova disso é que, logo após o grande sucesso dessa refilmagem, a quantidade de filmes que tentaram copiá-lo foi absurda e descarada, chegando ao ponto de produzirem (gastando dinheiro) filmes toscos e risíveis.
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À exceção do excelente "
Os Outros" (The Others, USA, 2001), estávamos sendo invadidos por uma bateria de produções que entraram na onda dos sucessos das franquias de "
Pânico" (Scream), mas sem a inteligência deste, que sabia brincar consigo mesmo, de "
Lenda Urbana" (Urban Legend) e "
Eu sei o que vocês fizeram no verão passado" (I know what you did last summer), ressucitando até a franquia de "
Halloween", e passando por aqueles filminhos que mostravam vários jovens atores nos cartazes de divulgação, como o chato "
Alucinação" (Soul Survivors, USA, 2001),
o mediano
"Comportamento Suspeito"(Disturbing Behavior, Australia, USA, 1998) e o aceitável
"Prova Final" (The Faculty, USA, 1998).
Nesse cenário, surgiu "O Chamado", uma produção caprichada e bem divulgada que rompeu com os estilos que predominavam para um filme de terror, valorizando o aspecto psicológico, a dúvida e a sugestão. É claro que a produção norte-americana não conseguiria deixar de usar o que seus cidadãos adoram: efeitos especiais e sons altos nos momentos de impacto, o que não teve no original "Ringu" (1998).
Com direção de Gore Verbinski (de "Piratas do Caribe"), que até então só havia dirigido o "A Mexicana" (um filme sem muita prosperidade), um curta-metragem e o infantil "Um Ratinho Encrenqueiro", e distribuído pela DreamWorks (de Steven Spielberg e cia), "O Chamado" despertou interesse logo que a inteligente campanha de marketing começou a divulgá-lo.
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É certo que houve algumas modificações do original japonês de forma a torná-lo mais próximo dos espectadores ocidentais, mas a trama foi mantida por ser muito boa (se não fosse, é claro que não haveria um remake norte-americano). A história começa com duas garotas (caracterizadas como típicas adolescentes dos Estados Unidos) que estão sozinhas na casa de uma delas e que chegam ao assunto de uma lenda urbana que rezava sobre uma maldição em torno de uma fita VHS. A fita tinha um conteúdo muito estranho e quem a assistia recebia uma ligação que sussurrava "sete dias". Com esse prenúncio, a pessoa estava amaldiçoada e iria morrer no prazo mencionado.
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Katy (Amber Tamblyn - que protagonizou o ridículo "O Grito 2"), uma das garotas, fica assustada, pois, há uma semana, ela esteve com o namorado e um casal de amigos num chalé e assistiu a uma fita muito estranha que estava no acervo do local. Rebecca (Rachael Bella), a outra garota, ri e conta que tudo não passava de bincadeira, de uma lenda urbana. Mas nessa mesma noite, algo tenebroso acontece com Katy. O que no original japonês é só insinuado, havendo um corte no momento crucial, na versão americana, há um número maior de detalhes, sem, contudo, revelar o que causou a morte de Katy.
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Calma! O que eu escrevi é só o início do filme. No funeral de Katy, sua mãe (Lindsay Frost ) se mostra indignada, querendo entender o que faria uma garota de 16 anos morrer do coração e apresentar uma expressão de puro pavor no rosto, enquanto sua amiga Rebecca enlouquece e é internada num hospital psiquiátrico, entrando em estado catatônico.
A partir de então, inicia-se o enigma de "
O Chamado", entrando em cena a prestigiada e linda atriz Naomi Watts (foto acima). Interpretando a repórter Rachel Keller (papel recusado por Jennifer Connelly, Gwyneth Paltrow e Kate Beckinsale - as duas primeiras até poderiam se dar ao luxo de recusar, mas a terceira...), Watts dá um tom dramático e dinâmico para sua personagem, o que trouxe um ótimo diferencial para o filme. Uma grande profissional que soube dar crédito às situações absurdas apresentadas na produção graças à sua seriedade e competência.
Rachel é tia de Katy e, durante o funeral, acaba ouvindo a conversa de algumas garotas sobre as coincidentes mortes trágicas dos três companheiros que tinham ido ao chalé com sua sobrinha (o namorado e o casal de amigos). Intrigada, Rachel resolve investigar a situação e se depara com uma história assustadora que pode comprometer a sua vida e a de seu filho Aidan (David Dorfman), um menino sensitivo que já havia previsto a morte de Katy.
Com incidência de sons muito bem acertados e um cuidadoso trabalho de fotografia, "O Chamado" envolve o espectador do início ao fim, causando uma sensação de ansiedade, medo e uma grande curiosidade para saber o que há por trás daquela fita VHS.
Completando o elenco, além do ator em ascensão Martin Henderson (de "Fúria em Duas Rodas"), temos os veteranos Brian Cox e a sempre agradável Jane Alexander (de "Kramer vs. Kramer").
Não foi por acaso que a angelical e bonitinha Daveigh Chase (foto acima) ganhou o MTV Movie Awards, na categoria de Melhor Vilã, por ter dado vida à estranha e malévola Samara Morgan, um dos trunfos do filme.
Destaque para um grande momento: a seqüência do cavalo furioso na balsa que, diante da proximidade de Rachel, sente o prenúncio da maldição, tornando-se um animal feroz e incontrolável que chega a romper a sua cela de proteção. É uma das cenas mais assustadoras do filme, embora o público eleja outras como aquelas que os deixaram com medo de dormir.
Algo que ficou interessante na versão norte-americana foi o título do filme. Em vários momentos, um círculo é mostrado (de forma explícita ou subliminar), o que poderia ser um anel (
ring), uma aliança, um simbolo de ligação; no entanto,
ring, no idioma inglês, também serve para os toques telefônicos. No filme, aqueles que chamam as vítimas para ouvir a mensagem fatal...
Seven Days! Desta forma, criou-se um dubiedade na interpretação do que seria "
The Ring". Tanto que o cartaz norte-americano do filme traz a seguinte mensagem: "
Before you die, you see", ou seja, não é "ouvir" como no pôster em português.
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Não posso deixar de comentar um ponto destoante: "O Chamado", talvez pela diferença de tempo da produção norte-americana com a japonesa, nos apresenta uma modernidade (grandes televisões de plasma - provavelmente com conversor digital integrado, HDTV, conexões HDMI e USB, celulares pequenos, computadores avançados, equipamentos de captura de imagens etc) que contrasta com a fita VHS, o objeto principal do filme, afinal, são poucos os que ainda têm seus aparelhos de video cassete instalados em casa...
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Segue abaixo o conteúdo da fita VHS que determinava a morte de quem assistia. Mas não se assuste se, ao terminar de assistir, você receber uma ligação com uma voz sussurrante, dizendo: "seven days".