domingo, 18 de setembro de 2016

Ferris Bueller's Day Off



Curtindo a Vida Adoidado (Ferris Bueller's Day Off, 1986) se tornou um verdadeiro cult em meio a tantos filmes direcionados ao público adolescente nos anos 80. A ânsia por uma sequência foi grande, mas, assim como outras produções brilhantemente dirigidas por John Hughes, não houve uma continuação para aplacar o desejo de milhares de fãs.

Talvez tenha sido um grande acerto, uma vez que temos exemplos de filmes que se arriscaram em sequências e que não conseguiram sequer fazer sombra ao filme original.

O diretor John Hughes (1950-2009) soube retratar com maestria e impecável humor várias histórias dos adolescentes daquela década, conseguindo agradar a espectadores de muitos países e de diversas faixas etárias. 

Assim como Curtindo a Vida Adoidado, outros filmes de sucesso do diretor não tiveram continuações e, talvez por isto, eles tenham ficado tão bem guardados na memória de quem os assistiu. Gatinhas e Gatões (Sixteen Candles, 1984), com Molly Ringwald e Anthony Michael Hall, Clube dos Cinco (The Breakfast Club, 1985), com Judd Nelson, Emilio Estevez, Anthony Michael Hall e, mais uma vez, a musa teen Molly Ringwald, e o hilário Mulher Nota 1000 (Weird Science, 1985), com Anthony Michael Hall (de novo) e a super gata daquele momento Kelly LeBrock, todos dirigidos por Hughes, são bons exemplares de comédias adolescentes que ditaram regras para outras produções da época.



John Hughes ainda produziu e roteirizou dois filmes adolescentes que se tornaram referências no gênero comédia romântica de adolescentes: A Garota de Rosa-Shocking (Pretty in Pink, 1986), que transformou Molly Ringwald numa estrela dos anos 80,  e Alguém Muito Especial (Some Kind of Wonderful, 1987), com Eric Stoltz, Lea Thompson e Mary Stuart Masterson.

Entre todos esses pequenos clássicos, não há dúvidas de que Curtindo a Vida Adoidado se sobressaiu como um dos mais divertidos e perspicazes da década, conseguindo o feito de entreter o público do início ao fim, sem escorregar em cenas repetidas ou vazias. Com uma história leve e cheia de diálogos inspirados, o filme não envelheceu, mantendo com primor sua abordagem despretensiosa acerca de jovens peraltas, desencontros familiares e ambientes escolares enfadonhos. Podemos dizer também que foi um encontro acertado de pessoas e momento: protagonistas e elenco de apoio talentosos,  roteiro bem executado e, claro, um diretor sagaz .



Neste filme, Ferris Bueller (Matthew Broderick) é um adolescente esperto e muito cínico que se finge de doente para matar um dia de aula e passar uma tarde de aventuras com  sua namorada (Mia Sara) e seu melhor amigo, o descompensado Cameron (Alan Ruck). No entanto, a facilidade que ele tinha de enganar seus ingênuos pais não se aplicava em duas pessoas sedentas por desmascará-lo: a irmã ciumenta e problemática (Jennifer Grey, de Dirty Dance, 1987) e o diretor vilão e atrapalhado, eficaz e histrionicamente interpretado por Jeffrey Jones.





Como grande parte da jornada foi no improviso, Ferris passa por muitas peripécias, levando os três adolescentes a hilárias situações de fugas, calotes e disfarces, sem nunca comprometer o bom humor do protagonista. É quase um anti-herói que poderia ter caído na crítica negativa do público, mas o carisma de Broderick garantiram a Ferris Bueller um lugar de respeito entre os caçadores de aventuras de plantão. 





No decorrer dos passeios, o filme tem um momento antológico, no qual Broderick sobe num carro alegórico de uma parada alemã e dubla "Twist and Shout", dos Beatles, numa cena citada e lembrada com muito entusiasmo, até por quem não conferiu o longa na íntegra.




Recentemente, surgiu um teaser na internet que mostrava Ferris em sua vida adulta, o que causou certa especulação sobre uma retomada do projeto, porém, o vídeo tratava-se tão somente de uma campanha de marketing de um veículo Honda. Ainda assim, o vídeo reacendeu a probabilidade de um revival para Curtindo a Vida Adoidado, afinal, Matthew Broderick, em entrevista, desconversou sobre seu interesse na continuação do longa.

Diante da chama reacesa, bem que podiam produzir um Curtindo a Vida Adulta Adoidado, com um Ferris Bueller maduro procurando pelo amigo solteirão e hipocondríaco e pela ex-namorada Sloane, hoje casada e cheia de regras, para viverem mais um dia de aventura e ruptura nos compromissos.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

007 - Operação Skyfall


Sean Connery, um ator do qual eu sou fã, foi uma excelente escolha para iniciar a saga do agente secreto criado por Ian Fleming. Como o famoso James Bond, de codinome 007, o astro provou seu talento e conduziu três filmes da série (um deles não faz parte da franquia oficial) com carisma e segurança. O ícone deixou sua marca ao imprimir um jeito debochado e paquerador no agente, sem, contudo, perder a elegância e a destreza necessárias à composição de um espião de primeira linha.

Ian Fleming não aprovou a escolha de Connery, um ator escocês, para interpretar o personagem, visto que o criador do agente queria o inglês Roger Moore para papel. Porém, Moore estava protagonizando uma série de TV de grande sucesso no momento, O Santo (The Saint, 1962–1969), e não teve chances de rescindir seu contrato televisivo. Descartado o santo, o escritor pediu que o papel fosse oferecido a Cary Grant, também inglês, alegando que este era mais requintado e tinha maior projeção no mundo cinematográfico. Mas os produtores foram firmes e contrataram Sean Connery para o ser o 007. Com o resultado do longa, a objeção deve ter se esvaído, pois o filme teve um estrondoso sucesso e rendeu uma arrecadação muito superior ao investimento.


Após Sean Connery, cinco atores já tiveram a proeza de interpretar o tenaz agente do serviço de espionagem britânico MI6 (Military Intelligence - Section 6): o australiano George Lazenby, que fez somente um filme; o inglês Sir Roger Moore, que embora bem sucedido, deu um tom mais leve ao personagem (e protagonizou cenas mirabolantes e difíceis de se acreditar); Thimothy Dalton, ator britânico nascido no País de Gales, que não brilhou, mas que também não foi um fiasco, e que não participou de um terceiro filme por ter se envolvido em projetos no teatro; Pierce Brosnan, um ator irlandês que só não entrou na frente de Dalton por estar comprometido com um trabalho de sucesso na TV (Remington Steel, 1982-1987), e que, na minha opinião, foi a melhor escolha após Sean Connery. O jeito cínico e elegante de Brosnan foi trabalhado de forma a tornar o herói terno e viril o bastante para seduzir as mulheres, como também ágil e seguro para lidar com os homens; e, por fim, o atual dono do posto, o inglês Daniel Craig, que apesar de ter dividido opiniões quando foi escolhido, deu um novo vigor ao herói e recuperou o desgaste que a franquia vinha sofrendo com os últimos filmes de seu antecessor.

Os filmes protagonizados por Sean Connery, hoje, figuram na galeria de clássicos ou de memoráveis exemplares do cinema, seja por cenas isoladas, seja por todo conjunto. Com relação ao único longa de George Lazenby, podemos considerar que ao menos foi uma história bem contada, com roteiro eficiente e um protagonista mediano. O problema é que as comparações foram inevitáveis, pois Lazenby substituiu um senhor ator e, apesar de ter sido convidado para o filme seguinte, não teve condições para repetir o papel. Com isto, Roger Moore, o queridinho de Fleming (já falecido nesta época), foi convidado novamente e pode aceitar o papel. E não é que o ator caiu no gosto do público? Por outro lado, embora tenha brilhado em grande parte do tempo, é incrível como os filmes protagonizados por Moore envelheceram; da mesma forma que os filmes de Timothy Dalton, um ator que esbanjou talento, ficaram datados.

Porém, nessas contradições da vida, foi o mesmo ótimo Pierce Brosnan que quase afundou a franquia do agente secreto galã.

O problema é que os dois últimos filmes protagonizados pelo ator foram para um lado difícil de se engolir, causando risos até em alguns fãs mais fervorosos da saga. 007 - O Mundo Não É O Bastante (The World Is Not Enough, 1999) não convenceu e 007 - Um Novo Dia Para Morrer (Die Another Day, 2002) ficou sofrível com a cena de surf na geleira derretida e com o carro invísível, sem mencionar que a bela e oscarizada Halle Berry só serviu para ser bolinada, jogada e capturada como a bond girl da vez.

Então, foi com grande surpresa e satisfação que recebemos as vigorosas mundanças na franquia com Casino Royale (idem, 2006), que substituiu Brosnan por Daniel Craig e empregou maior realismo nas cenas de luta. Conduzido pelo talentoso diretor Martin Campbell, que já tinha dirigido o ótimo 007 Contra Goldeney (Goldeneye, 1995), o novo filme reelaborou a conduta do herói e trabalhou cenas de ação que causaram bastante impacto, sem incorrer no ridículo dos dois últimos filmes de Brosnan.

Os fãs sempre criam expectativas ante a produção de uma nova aventura, que precisam trabalhar muito bem o vilão (um personagem que deve ser tão forte e empolgante como o herói), escolher com acerto a atriz que terá o privilégio de ser a bond girl (Eva Green - linda! - não quis ser chamada de bond girl, alegando que sua personagem não era uma mulher como as outras), trazer uma música tema empolgante (constantemente muito bem escolhida) e apresentar as surpresas tecnológicas que ajudarão o agente nos momentos mais apreensivos. Logicamente que o encaixe de cenas de ação impactante num bom roteiro também se revela como trunfos para o sucesso.


Apesar da controvesa escolha de Daniel Craig para o papel, é certo que o ator provou segurança e propriedades para encarar um dos melhores filmes do agente secreto James Bond. Sim, 007 - Operação Skyfall (Skyfall, 2012) foi um desafio para equipe de produção e para por em prova o talento do ator. Como alguém poderia imaginar o Bond, James Bond como um beberrão barbado, incapaz de acertar um tiro num alvo a poucos metros? Somente por meio de um roteiro bem elaborado, uma direção segura e uma interpretação visceral do protagonista.

Durante uma intensa perseguição, com direito a manobras automobilísticas de tirar o fôlego, o nosso herói se vê em cima de um trem em movimento,  numa luta mano a mano com um perigoso assassino profissional. Precisando recuperar um super importante pacote de dados cibernéticos, M. (de novo, a estupenda Judi Dench) ordena que a bela agente Eve (Naomi Harris) atire no inimigo antes que perca os dois de vista. Sem visão e segurança, a moça hesita e informa não ser possível acertar o alvo, mas M., numa tomada de decisão atroz, exige o disparo. Resultado: é o bom e velho Bond que leva o tiro, caindo do trem em movimento, rumo a um gélido e extenso rio.



Dado como morto, o MI6 (Military Intelligence - Section 6) inicia o processo de aposentadoria de M., em virtude da exposição que o roubo de dados estava promovendo no serviço, citando, muito sem real consideração, o incidente de Bond.

Diante de ataques cibernéticos e explosões pungentes, o herói retorna do limbo para ajudar sua arrogante chefe que, no fundo, tem uma relação especial com Bond. Não por acaso, numa cena muito interessante, ao ouvir o codinome da implacável senhora, o herói se refere a ela como bitch.

Despreparado, angustiado e sedento por vingança, James Bond parte para uma missão de perigo extremo, tendo de lidar com um dos melhores inimigos criados pela saga, o terrorista virtual Silva (um fenomenal Javier Bardem).




A história é longa e tem vários momentos de diferentes arranjos e concepções, condensando com boa dosagem de personagens ricos em suas dimensões, assim como cenários e locações aprazíveis. O filme dá um considerável destaque à personagem M., traz uma partner interessante para Bond e apresenta o o novo Q. da era digital. Acertados foram os momentos em que antigos filmes tiveram sutis homenagens.

Não tenham dúvida e confiram este exemplar  que certamente entrará para a lista dos melhores filmes do personagem criado por Ian Fleming.


Notas: (a) nem prestem muita atenção na bond girl de Bérénice Marlohe, pois a moça - bonita e exótica - entra e sai de cena sem deixar muita lembrança.
            (b) divirtam-se com a interpretação digna de um Oscar de Javier Bardem e não levem muito a sério tudo o que o personagem afirma.


            

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Suspense, Sustos e Loiras Surpreendentes

Janet Leigh

O que as loiras acima têm em comum com a estrela Janet Leigh?

ATENÇÃO: ESTA POSTAGEM POSSUI SPOILERS SOBRE OS SEGUINTES FILMES:

“Psicose” (Psycho, USA, 1960), “Vestida Para Matar” (Dressed to Kill, USA, 1980), “Pânico” (Scream, USA, 1996), “O Ente Maldito” (The Ghol, UK, 1975), “A Hora do Pesadelo” (Nightmare on Elm Street, USA, 1984), “Sexta-Feira 13″ (Friday the 13th, USA, 1980 e “O Corte da Navalha” (Razorback, Australia, 1984).
..................................................................................................................................................................
Além do fato de também serem (ou estarem) loiras e de terem atuado em bons filmes do cinema, elas foram apresentadas ao público como a (suposta) protagonista da produção, mas encerraram suas participações em pouco tempo da projeção, passando o bastão para outras atrizes.

O mestre do suspense Alfred Hitchcock foi o cineasta que mais brilhou nessa jogada de induzir o público a um enredo e chocar toda uma platéia ao eliminar a “protagonista” após alguns minutos do filme. A façanha foi apresentada no clássico “Psicose” (Psycho, USA, 1960) e serviu de inspiração para vários outros diretores. Neste filme, a tarefa de assumir o papel da mocinha da história ficou a cargo da não menos talentosa e também loira Vera Miles.




Ainda que as outras produções não tenham atingido a importância de "Psicose", a idéia, em alguns casos, foi até bem aplicada, conseguindo criar o inevitável incômodo no público.

Em questão de impacto, o que mais se aproximou do clássico de Hitchcock foi o filme de seu assumido discípulo Brian De Palma. Em “Vestida Para Matar” (Dressed to Kill, USA, 1980), o diretor fez alarde com a volta triunfal da estrela da série de TV Police Woman, a belíssima Angie Dickinson, prometendo cenas picantes com a recatada loira, da mesma maneira que o Mestre do Suspense fez com Leigh (embora com muito mais discrição). E não é que Brian De Palma fez o mesmo com a personagem da atriz? A substituição da heroína ficou a cargo da também loira Karen Allen.



Quando do lançamento do filme “Pânico” (Scream, USA, 1996), dirigido pelo renomado Wes Craven, os cartazes de divulgação nos fizeram pensar que a loirinha Drew Barrymore seria a protagonista do filme. Em entrevista de divulgação do longa, a jovem atriz (não sabemos se ingenuamente) jogou por terra toda uma jogada (sem trocadilho) de marketing ao dizer que não queria antecipar muito sobre as surpresas do filme, mas que ela estava se “sentindo uma Janeth Leigh, uma Angie Dickinson…”. Os cinéfilos entenderam o recado. Desta vez, a substituição da protagonista ficou a cargo da bela morena Neve Campbell.



Querendo copiar ou não o grande mestre, o filme inglês “O Ente Maldito” (The Ghol, UK, 1975) conseguiu a façanha de fazer o público acreditar e torcer para que a personagem Angela, interpretada pela sensual Veronica Carlson (loira, sexy e envolvente!!!), desvendasse o mistério da mansão gótica no meio de uma floresta. Entretanto, a “inocente” garota não sabia que estava prestes a ser eliminada numa cena inusitada. Nessa produção, a quase ruiva (quase sempre loira em outros filmes) Alexandra Bastedo (suave no início e completamente histérica ao final) fez a vez da mocinha substituta.

 


Falando de substituição de loiras por quase ruivas, o diretor Wes Craven (olha ele aqui de novo!!!) já havia feito essa mesma jogada antes de seu filme “Pânico”. Em “A Hora do Pesadelo” (Nightmare on Elm Street, USA, 1984), ele nos apresentou a linda Amanda Wyss como a garota que iria conduzir o público ao longo desse grande sucesso do cinema, mas o tenebroso Fred Kruegger (Robert Englund), talvez para já mostrar aos espectadores que não estava para brincadeiras, atacou a mocinha e mudou o rumo da história. A ruivinha Heather Langenkamp assumiu o jogo e partiu para o ataque (ou para fuga).



Sean S. Cunningham dirigiu a bonitinha Adrienne King em “Sexta-Feira 13″ (Friday the 13th, USA, 1980), a jovem ingênua que sobrevive ao massacre e que consegue liquidar a malévola Pamela Voorhees (Betsy Palmer). Risível e depreciado por alguns, é inegável que o filme se tornou um grande sucesso e suas continuações foram a prova de que a franquia fora (ou ainda é) promissora. A inevitável seqüência, que introduziu o assassino Jason Voorhees, anunciou que a loirinha sobrevivente do primeiro filme estaria de volta. Mas eis que a produção, dirigida por Steve Miner, resolveu dar um susto na platéia com a eliminação da gorota (King) logo na primeira cena da parte 2. A substituta loira, em papel muito parecido com o de Adrienne, foi Amy Steel.



Com “O Corte da Navalha” (Razorback, Austrália, 1984), o diretor Russell Mulcahy trouxe ao público um filme acima da média na proposta e na condução inicial do enredo, valorizado por uma fotografia muito bem cuidada. Já estávamos intrigados com a investigação sobre uma devassa mostrada logo no início do longa e acostumados à corajosa repórter Beth Winters, vivida com sobriedade pela charmosa Judy Morris (loira), quando algo monstruoso faz um estrago geral e nos deixa simplesmente atônitos. O ator Gregory Harrison, que faz o marido da personagem de Morris, assume o posto central do filme e vai ao local da tragédia para saber notícias de sua desaparecida esposa, recebendo a ajuda da loirinha da vez, a bonitinha Arkie Whiteley.


O Mestre do Suspense deixou seu legado e outros cineastas conseguiram fazer bons filmes com essa idéia de surpreender o público com a eliminação da protagonista, no entanto, até o momento, ninguém conseguiu superar a importância de Alfred Hitchcock no estilo suspense, tampouco desbancar a performance do ícone Janet Leigh.