Sean Connery, um ator do qual eu sou fã, foi uma excelente escolha para iniciar a saga do agente secreto criado por Ian Fleming. Como o famoso James Bond, de codinome 007, o astro provou seu talento e conduziu três filmes da série (um deles não faz parte da franquia oficial) com carisma e segurança. O ícone deixou sua marca ao imprimir um jeito debochado e paquerador no agente, sem, contudo, perder a elegância e a destreza necessárias à composição de um espião de primeira linha.
Ian Fleming não aprovou a escolha de Connery, um ator escocês, para interpretar o personagem, visto que o criador do agente queria o inglês Roger Moore para papel. Porém, Moore estava protagonizando uma série de TV de grande sucesso no momento, O Santo (The Saint, 1962–1969), e não teve chances de rescindir seu contrato televisivo. Descartado o santo, o escritor pediu que o papel fosse oferecido a Cary Grant, também inglês, alegando que este era mais requintado e tinha maior projeção no mundo cinematográfico. Mas os produtores foram firmes e contrataram Sean Connery para o ser o 007. Com o resultado do longa, a objeção deve ter se esvaído, pois o filme teve um estrondoso sucesso e rendeu uma arrecadação muito superior ao investimento.
Após Sean Connery, cinco atores já tiveram a proeza de interpretar o tenaz agente do serviço de espionagem britânico MI6 (Military Intelligence - Section 6): o australiano George Lazenby, que fez somente um filme; o inglês Sir Roger Moore, que embora bem sucedido, deu um tom mais leve ao personagem (e protagonizou cenas mirabolantes e difíceis de se acreditar); Thimothy Dalton, ator britânico nascido no País de Gales, que não brilhou, mas que também não foi um fiasco, e que não participou de um terceiro filme por ter se envolvido em projetos no teatro; Pierce Brosnan, um ator irlandês que só não entrou na frente de Dalton por estar comprometido com um trabalho de sucesso na TV (Remington Steel, 1982-1987), e que, na minha opinião, foi a melhor escolha após Sean Connery. O jeito cínico e elegante de Brosnan foi trabalhado de forma a tornar o herói terno e viril o bastante para seduzir as mulheres, como também ágil e seguro para lidar com os homens; e, por fim, o atual dono do posto, o inglês Daniel Craig, que apesar de ter dividido opiniões quando foi escolhido, deu um novo vigor ao herói e recuperou o desgaste que a franquia vinha sofrendo com os últimos filmes de seu antecessor.
Porém, nessas contradições da vida, foi o mesmo ótimo Pierce Brosnan que quase afundou a franquia do agente secreto galã.
O problema é que os dois últimos filmes protagonizados pelo ator foram para um lado difícil de se engolir, causando risos até em alguns fãs mais fervorosos da saga. 007 - O Mundo Não É O Bastante (The World Is Not Enough, 1999) não convenceu e 007 - Um Novo Dia Para Morrer (Die Another Day, 2002) ficou sofrível com a cena de surf na geleira derretida e com o carro invísível, sem mencionar que a bela e oscarizada Halle Berry só serviu para ser bolinada, jogada e capturada como a bond girl da vez.
Os fãs sempre criam expectativas ante a produção de uma nova aventura, que precisam trabalhar muito bem o vilão (um personagem que deve ser tão forte e empolgante como o herói), escolher com acerto a atriz que terá o privilégio de ser a bond girl (Eva Green - linda! - não quis ser chamada de bond girl, alegando que sua personagem não era uma mulher como as outras), trazer uma música tema empolgante (constantemente muito bem escolhida) e apresentar as surpresas tecnológicas que ajudarão o agente nos momentos mais apreensivos. Logicamente que o encaixe de cenas de ação impactante num bom roteiro também se revela como trunfos para o sucesso.
Dado como morto, o MI6 (Military Intelligence - Section 6) inicia o processo de aposentadoria de M., em virtude da exposição que o roubo de dados estava promovendo no serviço, citando, muito sem real consideração, o incidente de Bond.
Diante de ataques cibernéticos e explosões pungentes, o herói retorna do limbo para ajudar sua arrogante chefe que, no fundo, tem uma relação especial com Bond. Não por acaso, numa cena muito interessante, ao ouvir o codinome da implacável senhora, o herói se refere a ela como bitch.
Não tenham dúvida e confiram este exemplar que certamente entrará para a lista dos melhores filmes do personagem criado por Ian Fleming.
Notas: (a) nem prestem muita atenção na bond girl de Bérénice Marlohe, pois a moça - bonita e exótica - entra e sai de cena sem deixar muita lembrança.
(b) divirtam-se com a interpretação digna de um Oscar de Javier Bardem e não levem muito a sério tudo o que o personagem afirma.
(b) divirtam-se com a interpretação digna de um Oscar de Javier Bardem e não levem muito a sério tudo o que o personagem afirma.
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