Após sair da sessão de cinema, cheguei a pensar que os resultados medianos de
Thor (idem, 2011) e de
Capitão América (Captain America: The First Avenger, 2011) poderiam ser relevados se fossem classificados como simples prelúdios para realização de
Os Vingadores (The Avengers, 2012).
Digamos que o histórico dos super-heróis não poderia ser contado na introdução do longa, tampouco em uma primeira parte de franquia (imagine a bagunça), razão pela qual entendo como um acerto a prévia apresentação de seus protagonistas em produções isoladas. Desta forma, boa parte do público foi ao grande lançamento já com uma certa bagagem de conhecimento, mesmo que obtida em dois filmes tépidos.
Os super-heróis do longa tiveram filmes exclusivos que introduziram previamente o complexo universo de Os Vingadores, à exceção de o Gavião Arqueiro, que teve uma participação rápida em Thor, e da Viúva Negra, que apareceu com médio destaque em Homem de Ferro 2 (2010).
É lógico que não podemos afirmar propositalidade nas contenções criativas de
Thor e de
Capitão Américas, ousando concluir que as produções foram meros recursos para o lançamento do
blockbuster, até porque a franquia de
Homem de Ferro (Iron Man, 2008; Iron Man 2, 2010), que também serviu de prólogo para o super encontro dos heróis, foi um grande sucesso de público e crítica.
O ambicioso projeto teve como missão reunir Tony Stark, o Homem de Ferro (Robert Downey Jr.), Steve Rogers, o Capitão América (Chris Evans), Thor (Chris Hemsworth), Bruce Banner, o Hulk (Mark Ruffalo) e Natasha Romanoff, a Viúva Negra (Scarlett Johansson), por meio de uma orquestrada ação do arrojado Nick Fury (Samuel L. Jackson), o diretor da agência internacional de paz do Universo Marvel, conhecida como S.H.I.E.L.D. O recrutamento dos super-heróis visava a criação de uma poderosa aliança para conter o possível domínio da terra pelo vilão Loki (Tom Hiddleston).
Para quem assistiu ao Thor, sabe que Loki foi jogado no espaço cósmico após uma tensa batalha com seu irmão (o personagem-título). Para grande parte do público, principalmente aqueles que estão acostumados aos comics da Marvel, isso não foi visto como o fim do personagem. O que de fato não foi, pois ele realmente reaparece no início de Os Vingadores, tentando mostrar que não estava para brincadeiras.
Se o personagem Loki parecia fraco para engendrar um plano de domínio do Planeta Terra, pelo menos para aqueles que o conheceram somente pelo filme Thor, sua estrondosa chegada, acompanhada de curiosos artefatos bélicos e o domínio da mente de dois importantes personagens, o Dr. Erik Selvig (Stellan Skarsgard) e o Gavião Arqueiro (Jeremy Renner), prometeram um bom duelo entre o bem e o mal. Por trás de toda coragem, havia o apoio dos Chitari, uma raça de alienígenas com força e poder de destruição.
.
A produção teve o desafio de consolidar diversos componentes, como também de produzir um legítimo exemplar que agradasse o habitual público dos cinemas e que saciasse a legião de nerds, devoradores de comics e sujeitos afins, e, a julgar pelo sucesso de bilheteria, logo na primeira semana, e pela impressões que tive durante a sessão, entendo que o objetivo foi alcançado.
Com eficientes cenas de reapresentação dos personagens centrais, o filme caminha com reserva no primeiro ato, sem, contudo, tornar-se entediante, graças ao texto afiado e ao tempo tecnicamente correto destinado às cenas.
Com essa introdução sagaz e uma inegável qualidade técnica, o filme foi conquistando os espectadores, tornando-se, a partir do segundo ato, um entretenimento bastante agradável.
Algo que me pareceu arriscado foi a entrega da direção ao, até então, pouco expressivo Joss Whedon, que tem pouca experiência no cinema, tendo como principal trabalho em tela grande o fraco Serenity (idem, 2005). Seu trabalho se concentrava em roteiros e direção de séries de TV, como Buffy - A Caça-Vampiros (Buffy, 1996-2003), Angel - O Caça-Vampiros (Angel, 1999-2004) e Firefly (idem, 2002,2003). Os fatores que devem ter contribuído para sua escolha podem ser atribuídos ao seu vasto e seguro conhecimento acerca da trajetória de cada um dos heróis da Marvel, como também seu trabalho na cultuada série em quadrinhos Os Surpreendentes X-Men.
Se isto parece pouco, talvez tenha sido um grande chute no escuro mesmo. Porém, o importante é que o diretor provou competência e capacidade de dividir bem o universo grandioso de cada personagem, acertando na dose de aparição dos heróis, assim como na oscilação entre os momentos cômicos e dramáticos.
Com relação aos atores, o destaque ficou com o carismático Robert Downey Jr., que, a despeito de sua projeção no cinema, foi o que mais se mostrou à vontade nas cenas, tirando de letra a desenvoltura necessária ao personagem (provavelmente ele já está no piloto automático).
O ator Tom Hiddleston, inseguro e pouco eficaz no outro filme, perdeu os receios e suou a camisa para ficar mais ameaçador no papel, provavelmente por ter se entusiasmado com o roteiro e se conscientizado de que o tom insosso adotado no trabalho anterior não se encaixaria nas proporções fantásticas de
Os Vingadores. Não entrará para galeria de grandes vilões do cinema, mas cumpriu a cartilha como um bom intérprete.
A belíssima Scarlett Johansson, sabendo que seus atributos físicos pesaram na sua contratação para o papel da Viúva Negra, não se inibiu com isto e fez bom uso do corpão e do rosto lindo com muita propriedade. Chris Evans e Chris Hemsworth ficaram no meio termo adequado aos galãs de cinema, embora Evans tenha demonstrado maior preparo para convencer no deslocamento temporal de seu personagem. O talentoso Mark Ruffalo se desprendeu do tom melancólico dado por Eric Bana e Edward Norton nas outras versões do
Hulk (talvez inspirados em Bill Bixby, da série de TV) e se saiu bem com o leve cinismo utilizado na composição de seu
Bruce Banner.
Destaque também para a segura performance de Jeremy Renner e para a sincera emoção que o equilibrado Clark Gregg deu ao seu
Agente Coulson.
Todo aparato refletiu num bom roteiro, sem nenhuma grande idéia, em que foram eliminados os delírios e estrondos comuns nas produções do gênero, o que garantiu que o enredo transcorresse em solo seguro e, infelizmente, com algumas banalidades no decorrer da trama.
Descontado esse ponto, a minha opinião é a de que houve um encontro muito acertado de todos os itens envolvidos nesse filme.
Não é possível agradar a todos, mas cientes de que a linguagem das histórias em quadrinhos, tal como acontece nos livros, sempre precisa de adaptação para o cinema, o filme se revela como um entretenimento de primeira, deixando muitos com vontade de
bis.
Trailers: