Como estamos acostumados ao padrão norte-americano para filmes de ação, podemos sentir, a princípio, uma certa repulsa pela proposta sul-coreana.
Aceitei o quase desafio de assistir ao intenso O Caçador (Chugyeogja, 2008), um filme que apresenta uma estética similar ao do produto hollywoodiano, mas que reserva algumas surpresas (nem sempre boas) destoantes daquelas que estamos acostumados a ver no estilo ocidental.
Vamos à sinopse: um cafetão, meio camarada, meio pilantra, está preocupado com o sumiço de duas de suas garotas, mas imagina que os desaparecimentos estejam relacionados com o tráfico de mulheres para prostituição em outros países. Precisando equilibrar suas contas, ele obriga sua melhor garota a fazer um programa de última hora, desprezando o fato de ela estar se tratando de uma gripe. Resignada, a moça, que é mãe de uma garotinha muito esperta, sai de casa e vai fazer seu serviço, sem saber que estava indo para residência de um cruel matador em séries. Quando esta também desaparece, o cafetão, que já foi um policial, resolve seguir os passos da garota para saber o que havia acontecido.
Podemos identificar alguns elementos que demonstram a intenção de ganhar o mercado internacional, como os clichês presentes nas produções do gênero, tais como o tratamento de ineficiência dado à polícia, a existência de autoridades obstinadas com a boa imagem perante a imprensa, o personagem central na velha concepção de um ex-policial decadente que corre contra o tempo, a prostituta de bom coração que trabalha para sustentar sua filha pequena, as cenas de perseguição pelas escuras ruas de uma metrópole e, por fim, um serial killer frio e vingativo.
Porém, ao mesmo tempo que visualizamos esses pontos que aproximam o filme do cinemão, somos surpreendidos com uma linguagem que quebra o ritmo das sequências e nos fazem questionar se estamos diante de algo que valha a pena continuar assistindo.
A óbvia tentativa de fazer graça é empregada exatamente em cenas que deveriam ser tratadas com mais seriedade, pelo menos dentro das regras do ocidente, ao passo que o sério é jogado em cenas inacreditavelmente risíveis.
À exceção do serial killer, que se abriga nas oscilantes características de um demente, e da prostituta, que é atacada logo nos primeiros momentos do filme, os demais personagem surgem como caricaturas que perambulam num mundo farsesco.
Se as cenas cômicas (todas sem graça) não agradam, o que podemos dizer dos momentos de extrema violência? Poucas vezes o cinema norte-americano foi tão ousado com o grafismo explícito utilizado em O Caçador, que não poupa os espectadores do realismo e da agressividade visual.
Acho que o mundo ocidental gosta de redenção, e talvez seja a ausência de compaixão com os personagens (e com o próprio público) que nos traga uma aversão à forma de desenvolvimento e de conclusão empregados nesse filme de ação coreano.
Existem também aqueles momentos em que os personagens agem como tolos e seguem caminhos difíceis de se acreditar, mas que, ante a insistência, terminamos por concordar com aquele jeito confuso de se resolver as questões.
Estou disposto a encarar outro filme dessa safra coreana para entender melhor a narrativa utilizada, afinal, assisti a um outro filme coreano, o bem humorado O Hospedeiro (Gwoemul, 2006), que mistura ação, terror e crítica política (difícil, não?) e que conseguiu combinar rasoáveis efeitos digitais com uma história bem amarrada.
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