sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Picnic na Montanha Misteriosa

Finalmente assisti ao cult Picnic na Montanha Misteriosa (Picnic at Hanging Rock, 1975), filme que revelou o diretor australiano Peter Weir para Hollywood.

Escrevo com certo tom de alívio porque se trata de uma produção que há tempos eu vinha querendo conferir, mas não estava muito disposto a comprá-lo ou baixá-lo em torrent, tampouco estava a fim de ficar checando grade de TV para ver aqueles horários ótimos das madrugadas, pois, como toda obra cinematográfica classificada como Filme de Arte, este trunfo do cinema australiano corria o risco de ser uma bomba.

Felizmente não é, embora eu deva ressalvar que não é um filme indicado para o grande público. Alguns podem se incomodar com seu desenvolvimento lento e diálogos taciturnos.
Ambientado em 1900, num idílico colégio inglês vitoriano, em que moças ricas eram mandadas  para  receberem bons estudos, regras de etiquetas e controle emocional, o filme, logo de início, nos impressiona pela bela fotografia e pela trilha sonora envolvente.

A história se desenvolve em torno do momento de maior destaque do filme, que é o dia do piquenique na tal montanha do título original, em que três moças e uma governanta desaparecem sem deixar vestígios. Apesar de não haver ênfase nas investigações, as situações do filme giram, predominantemente, em cima desse único fato, sem se preocupar em distrair o público com tramas paralelas.
Por meio de imagens que mais parecem um quadro pintado, o espectador é conduzido a um jogo de  informações que, à medida que a história avança, vai ficando cada vez mais intrigante.

Existe uma certa angústia, pois tentamos veementemente descobrir a relação do fato com o dilema de uma das moças que, por motivos não esclarecidos, não havia ido ao piquenique, passando a ser, desde então, a estranha entre as garotas.

Quebrando um pouco do ritmo morno do filme, dois rapazes curiosos, que se mostraram sempre dispostos a ajudar nas buscas, conseguem encontrar uma das moças. O que parecia ser a solução do mistério, torna-se mais um elemento de inquietação, pois a garota, aparentemente normal e não tendo sofrido qualquer tipo de violência, não conseguia se recordar dos fatos mas, quando forçada a falar, entrava em prantos e tinha crises histéricas.

Alguns pontos merecem destaque, como o momento em que as moças parecem hipnotizadas ao subirem a montanha, numa cena de muito bom gosto do ponto de vista da fotografia, e a cena imediatamente após, em que temos uma moça que desce a montanha gritando e correndo,  instaurando um corte abrupto nas tomadas até então muito lentas.

Difícil explicar, mas, durante a projeção, temos insistentes e alternados trechos que nos mostram a força das árvores, a imponência dos rochedos, a destreza dos pequenos bichos, coisas que nos fazem acreditar que há uma força maior e oculta na natureza, algo que os humanos não podem controlar. Também, o fato de o desaparecimento ter acontecido no Dias dos Namorados sugere um possível crime passional, fortalecido com a curiosidade das adolescentes sobre o mundo adulto. Seria insinuação para o desejo sexual reprimido? 

O diretor conseguiu o que queria: incomodar o espectador. Imaginem aqueles que saíram do cinema,  após uma forte revelação nos minutos finais, com a notícia plantanda de que o longa se baseava em fatos reais.  Foram discussões e mais discussões. Não existia Google naquela época, o que deve ter deixado o público sedento por debates e esclarecimentos.

No elenco, dois destaques: a jovem Jacki Weaver e a veterana Rachel Roberts (1927–1980), num papel vigoroso e à altura de seu jeitão robusto.

Não procurem muitas informações sobre o filme. Vejam e se deixem seduzir por esta composição magnífica, mas fiquem certos de que, muito provavelmente, será uma experiência mágica e perturbadora.

4 comentários:

Flávio disse...

Não conhecia este filme Gilvan. Parece ser muito interessante. Abs!

Gilvan disse...

Procure assisti-lo, Flavio, e, se possível, faça um artigo no OIVALF.
Abraço

Daniella disse...

Vc tem conhecimento do capítulo 18 do livro no qual o filme foi baseado? Trata-se do capítulo que esclarece o desaparecimento das garotas e que foi publicado após o falecimento da autora Joan Lindsay. Já estive a procura desse capítulo que foi publicado como "The secret of hanging hock", mas não consegui muitas informações.
Obrigada.
Abraço.

Gilvan disse...

Não tenho, Daniella, mas esta sua informação me deixou curioso. Quando pesquisei sobre o filme, não me lembro de ter lido alguma citação sobre a publicação desse capítulo. Vou sair em busca. Qualquer coisa, atualizo o post. Obrigado e um abraço.