quinta-feira, 17 de julho de 2014

A Marca do Medo (The Quiet Ones, 2014)




Procurando seguir a linha do bem-sucedido Invocação do Mal (The Conjuring, 2013), este filme foi divulgado como baseado em fato reais, tendo ainda ressaltado seu vínculo com a mesma produtora de longas de relativo sucesso, como Deixe-me Entrar (Let Me In, 2010) e A Mulher de Preto (The Woman in Black, 2012).

Outro ponto que merece destaque é o trailer oficial da produção. Utilizando parte de suas eficientes cenas e um visual que salta aos olhos, a Hammer (aquela mesma dos filmes do Christopher Lee, mas completamente repaginada) conseguiu cativar um público que ficou curioso e cheio de expectativas com relação ao filme.


Nesse cenário de filmes de terror estapafúrdios, vislumbrar um longa bem produzido e com uma história verídica a ser contada, mesmo sabendo que as ciladas são frequentes, já é um certo incentivo para para se deslocar às salas de cinema e torcer por alguns sustos.

Não é um filme ruim, mas não é bem o que os espertos anúncios passaram. Embora inspirado num fato real, a história foi significativamente alterada para obter aquela linguagem padrão de filmes de terror (eu não quis escrever clichê). Assim, ao contrário de Invocação do Mal, que se atreveu a mudar parte do relato verídico para garantir uma roupagem cinematográfica de maior impacto, esse The Quiet Ones pegou apenas o mote e criou personagens e ideias diferentes do fato real.

Infelizmente, pelas já comentadas decepções com o filme, este A Marca do Medo não terá o mesmo destino de seus irmãozinhos da Hammer. Deixe-me Entrar, refilmagem do cultuado filme sueco Deixa Ela Entrar (Làt den rätte komma, 2008), foi muito bem na tela grande, ao passo que A Mulher de Preto teve um desempenho razoável, talvez pela presença de Daniel "Harry Potter" Radcliffe,  sobrando para essa terceira produção o menor impacto para público e crítica.


Um professor universitário (Jared Harris) é cético com relação às aparições de fantasmas, entendendo que seres humanos podem, por meio de intensa atividade mental, criar situações que se caracterizam como obras do sobrenatural ou de possessão demoníaca. Seguindo esta ideia, ele decide criar um grupo de pesquisa e experimentos, chamando alguns de seus alunos para empreitada. Assim, em virtude de problemas na universidade, o professor convida o grupo a desenvolver o método numa isolada mansão situada em local bucólico (grande originalidade!). Com ele, seguem para a experiência os alunos Harry Abrams (Rory Fleck-Byrne) e Krissi Dalton (Erin Richards), a loira provocante que gosta de transar, e o tímido e bem-intencionado cinegrafista Brian McNeil (Sam Claflin), incumbido de registrar as sessões de investigação.


A principal figura do projeto é a jovem Jane Harper (Olivia Cooke), uma garota com sérios problemas emocionais, que não se deu bem com as famílias que a adotaram e que vivia sob a tutela de instituições psiquiátricas. Perturbada e capaz de criar situações assustadoras em virtude de seu suposto poder paranormal, a paciente se torna o objeto perfeito para as teorias do professor.

Acossada e submetida a constrangedores testes, Jane começa a ficar cada vez mais violenta, terminando por criar uma circunstância pior do que os pesquisadores podiam imaginar e manter sob controle.



Aproveitando-se dos registros audiovisuais do personagem de Claflin, o filme lança mão, ainda que em dosagem razoável, das incômodas sequências de found footage, algo muito explorado em vários filmes do gênero, mas que pouco têm ajudado na obtenção de boas e assustadoras cenas para esse tipo de longa.

Entre sons estrondosos, boa ambientação e uma direção mediana, não há muita coisa além para arrebatar os espectadores, fazendo com que a decepção seja ainda maior com o final previsível e sem diferencial.

Olivia Cooke e Sam Claflim conseguem se sair bem nos seus papéis, criando um clima de cumplicidade cênica e romance quase convincente. Destaque também para a canastrice elegante de Jared Harris.

À critério.




sexta-feira, 11 de julho de 2014

Stage Fright (2014)


Depois das três primeiras cenas, temos a impressão de que Stage Fright (2014) será um bom filme de terror, que será encaixado naquelas listas de filmes medianos. "Olha, não é um desastre, mas está longe de ser uma obra-prima". É como podemos dizer. Nesse estágio, classificamos o prólogo positivamente, considerando dois pontos: o talento e o carisma da suposta protagonista (ninguém menos que a ótima Minnie Driver) e o acerto no visual sombrio e requintado da introdução.

O filme tem impacto logo em seu início, quando somos induzidos a acreditar que estamos vendo um filme de terror de época, sendo revelado, em poucos minutos, que se trata da encenação teatral da personagem de Driver. Depois disso, o assassinato da atriz é graficamente forte, abusando de detalhes e de golpes sanguinolentos.

Porém, depois de constatarmos que a participação de Minnie Driver é curta, provavelmente para se ter um nome bem conceituado nos créditos, passamos a temer pelo que virá na sequência. E o que vem realmente traz um certo terror. E não estou me referindo ao gênero cinematográfico.

Somente após essas poucas cenas é que se iniciam os créditos do longa, que aparecem durante a execução de uma cena pitoresca: adolescentes excêntricos chegando a um lugar que mais parece uma colônia de férias, cantando, dançando, pulando, fazendo micagens e contando histórias difíceis de engolir para uma produção de terror. Se formos comparar com o lúgubre início do filme, os jovens felizes e o atraente dia ensolarado proporcionam uma quebra debochada na obra, o que pode até causar certa repulsa no espectador. Por outro lado, a ousada ruptura desperta uma curiosidade. Em que lugar se pretende chegar?


Embora tropece em uma montagem problemática, como também em seu roteiro desencontrado, a produção consegue um resultado positivo com a atrevida mesclagem do gênero musical (mesmo que apresentado sem muito esmero) e o subgênero de terror slasher.

Por não se firmar no drama (a garota tem trauma com a morte da mãe, mas parece se esquecer disso em vários momentos), tampouco na linguagem musical (as cenas de cantoria são zombeteiras ou apresentam cortes abruptos), o filme ganha seu diferencial exatamente por fazer o público compreender, por meio dessa ida a lugar nenhum, que aquela produção não foi feita para ser levada a sério.

É claro que uma proposta coesa e uma definição de estilo são fatores que pesam no acerto do público alvo e no alcance do objetivo do projeto, mas, no caso de Stage Fright, essa miscelânea parece ser o necessário alerta para o espectador. Apesar de não ter um resultado primoroso, o filme foi por um caminho diferente daqueles vistos nos habituais filmes de jovens perseguidos por um mascarado assassino, o que, nesse turbilhão de produções capengas, soa como uma aceitável criatividade. O jogo lúdico e perverso da trama termina por ir de encontro ao perfil mordaz do assassino mascarado, que ataca suas vítimas de forma cruel e coreografada.

Comentadas as ciladas iniciais, vamos à sinopse:

A famosa atriz-cantora Kylie Swanson (Minnie Driver) estava no auge de seu sucesso quando foi brutalmente assassinada em seu camarim, após uma bem-sucedida apresentação teatral. No momento da violenta morte, Camilla Swanson, a filha da artista, brincava no palco vazio, tentando imitar a mãe que tanto admirava.

Anos mais tarde, mesmo ainda não tendo se recuperado do trauma, a garota (interpretada pela atriz Allie MacDonald) sonha em ser uma estrela na Broadway, mas amarga um desprestigiado trabalho como cozinheira numa escola para artistas. Nesse ambiente, Camilla tem a oportunidade de fazer um teste, fingindo-se passar por outra pessoa, para ter a tão almejada chance de mostrar seu potencial e se consolidar no trabalho como atriz. Uma vez aprovada, a garota percebe que seus anseios estão muito certo de serem concretizados, mas eis que se inicia uma série de assassinatos nos arredores, todos cometidos por um mascarado misterioso, o que leva a jovem a acreditar que ela estará entre as vítimas, como também que a tensa situação está relacionada com o final trágico de sua mãe.

À exceção de Driver, que faz uma participação especial, e do ator e cantor Meat Loaf, não há grandes nomes envolvidos na produção.

Sugiro arriscar, pois, apesar de trêfego, eu gostei.