domingo, 8 de setembro de 2013

Invocação do Mal (The Conjuring, 2013)


Ainda bem que, mesmo com baixa frequência, aparecem filmes de terror com qualidade técnica e convincentes interpretações dos atores.

O risco de parecer mais um caça níquel é grande, pois a indústria que explora os sustos baratos e os efeitos sanguinolentos tem lançado uma sucessão de filmes que não valem sequer o tempo gasto na compra do ingresso. Diante desse amontoado, não é uma tarefa fácil selecionar os bons exemplares do gênero de terror; afinal, nem todos fazem pesquisas e aprofundamentos prévios para conferir filmes. A função do cinema é essencialmente o entretenimento. 

Nesse contexto, temos ainda a cilada dos bons trailers que são produzidos para divulgação dos filmes de terror. Eu já assisti a alguns que me despertaram expectativas e que se revelaram uma armadilha. Algumas vezes esses trailers mostram todas as cenas de impacto do filme, exatamente porque não têm mais nada a apresentar. Diante do ótimo teaser, lá vamos nós conhecer a obra por trás da boa chamada; e temos quebrado a cara, constantemente. Também já vi o contrário: o filme era bom, mas o trailer exibido no cinema era tão ruim que eu deixei para ver a produção no vídeo ou na TV (no torrent...)

Há também o desagradável cenário daqueles que criam uma história (pobre), baseada em algum evento importante, ou pegando carona numa tendência criativa, com a simples intenção de jogar gore na cara do público adepto a filmes de terror. Sem muitas opções, os espectadores vão assim mesmo ao cinema, já descontando a possibilidade de ter uma decepção... E acabam tendo mesmo.

Essas produções negativas depreciam e difamam as excelentes produções que se preocupam em construir uma trama concisa, despertando sugestiva e eficientemente o medo. 

Estamos diante de um desses casos. 


Invocação do Mal (The Conjuring, 2013) é um filme que recebeu cuidado estético, pequisa de conteúdo e investimentos nas fases de pré e pós-produção. Os trailers e videos de making of (com um "f" só, ok?), que estão incorporados ao final desta postagem, mostram boa parte dos mecanismos que conduzem à magia cinematográfica, o que é um ótimo sinal.

Produzido por Rob Cowan (As Duas Faces da Lei - Righteous Kill, 2008), Peter Safran (Armadilha - ATM, 2012, e Enterrado Vivo - Buried, 2010) e Tony DeRosa-Grund (que fez algumas bobagens), o filme deste post já ganhou confiança somente com os primeiros teasers, que mostravam nos créditos a distribuição feita pela Warner Bros. e o investimento da New Line Cinema. Se acha que são simples citações, eu digo que os longas mencionados foram protagonizados por atores de peso e que as companhias de cinema não têm o hábito de embarcar em furadas. Claro que nomes robustos não garantem sucesso de bilheteria, mas já afastam a ideia de que uma equipe qualquer chamou alguns atores quaisquer para executar um roteiro qualquer... Se a história não for boa, ao menos não estaremos diante de uma bomba qualquer.


Roteirizado pelo experiente Chad Hayes e dirigido pelo controverso James Wan, que tem no currículo sucessos de bilheteria (Jogos Mortais - Saw, 2004), filmes acima da média (Sobrenatural - Insidious, 2010) e certos deslizes (Gritos Mortais - Dead Silence, 2007), alguma coisa positiva poderia se esperar desse longa, uma vez que reuniu uma boa equipe.



Então nos deparamos com a chamada do elenco: Vera Farmiga (Amor em Escalas - Up in the Air, 2009), Patrick Wilson (Watchmen, 2009), Ron Livingston e a excelente Lily Taylor, o que é mais um bom indicador, pois teremos personagens assumidos por atores competentes.

O fato de Invocação do Mal ser baseado em uma história real, tendo inclusive recebido a consultoria da parapsicóloga que acompanhou o caso, faz com que, mesmo que inconscientemente, iniciemos uma busca em nossas memórias de acontecimentos similares, como também, procuremos resgatar corriqueiros sinais que fazem parte do nosso dia-a-dia. A clara intervenção da Igreja Católica e os registros reais do casal (feitos em fotos e fitas VHS), expostos sem delongas na produção, também corroboram com a identificação que experimentamos com o medo vivenciado por aquela família.



Por fim, vem a história: uma tradicional família americana se muda para uma grande casa antiga, arrematada num leilão, pensando em iniciar um novo momento em suas vidas. Com problemas financeiros, eles pretendem, ansiosamente, gostar daquele lar. Porém, desde os primeiros dias, a família se depara com acontecimentos, barulhos e odores estranhos, levando-os a acreditar que a casa era mal-assombrada. Que clichezão, não é mesmo?

O que torna o filme ímpar é que a construção do medo não é imediata, tampouco lenta, e é exatamente isto que denota o acerto dos roteiristas, editores e diretor. A situação de terror é gradativa, mas não enrola o espectador com aqueles sustos módicos e outros recursos enfadonhos que assolam o gênero, seguindo um caminho de cenas bens construídas e boas atuações. 



Muitas produções de terror tentam camuflar a falta de cuidado com a captura de imagens, exagerando na escuridão das cenas e nos movimentos rápidos das câmeras. Até nesse ponto, Invocação do Mal se destaca. O emprego do stead cam, que permite movimentos rápidos sem tremor das cenas, e o emprego de técnicas mecânicas (cabos de sustentação, por exemplo) para os efeitos especiais garantiram a saída do lugar comum e renderam momentos de visível qualidade visual. Em muitos trechos, o espectador foi poupado da recorrente dúvida que surge sobre o que se acabou de ver, pois a técnica empregada produziu cenas de boa visibilidade. Isto é muito bom, pois temos nos deparado com o abuso da computação gráfica, que tem criado uma overdose de cenas rápidas e tremidas. Um pouco de trabalho in loco é muito bem-vindo para os cinéfilos.

Os quatro atores principais brilham e elenco infantil também tem um ótimo aproveitamento, com destaque para a promissora Joey King.

Vejam sem medo. Ou com medo mesmo.


The Conjuring - Official Main Trailer [HD]
The Conjuring - Official Main Trailer [HD]
The Conjuring - Official Main Trailer [HD]
The Conjuring: Behind the Scenes Footage Part 1
The Conjuring: Behind the Scenes Footage Part 2
The Conjuring: Behind the Scenes Footage Part 3



terça-feira, 3 de setembro de 2013

American Horror Story




A série de TV teve início com uma história da terror convencional e não apresentou um argumento expressivo para o estilo. Muito talvez, os idealizadores quiseram, num primeiro momento, cativar o público adeptos ao universo de horror com o padrão dos padrões dos roteiros de filmes de terror: a família inocente que compra uma casa mal-assombrada.

Apesar disso, American Horror Story (idem, 2011 - ) foi uma ótima surpresa para o público que aprecia o gênero, pois há tempos não se via uma série televisiva que realmente se assumisse como gênero de horror e que não mediu esforços (ou orçamento) para apresentar um produto acima da média. O seriado teve ótima recepção em virtude da qualidade técnica, do roteiro bem escrito e dos ótimos atores escolhidos.

A cada temporada, American Horror Story vem apresentando uma história diferente, usando praticamente os mesmos atores, que assumem personagens distintos da fase anterior.

A primeira história mostrou um casal em crise (Dylan McDermott e Connie Britton) que investiu muito dinheiro na compra de uma antiga mansão de estilo clássico, buscando superar traumas e propiciar um novo começo para relação familiar. Junto com eles nesse novo momento, está a  filha adolescente (Taissa Farmiga), uma garota problemática (para variar) e contestadora. O talentoso McDermott (do premiado The Practice, 1997-2004) emprestou seu charme para o papel de um pai de família sério, mas que não resistiu aos encantos de uma jovem bonita e lasciva (a graciosa Kate Mara, de House Of Cards, 2013), engravidando a moça que fica no seu encalço, ao passo que a interessante Connie Britton (de Spin City, 1996-2000) defendeu o quanto pode o resignado papel da mãe de família instável, entupida de remédios, ligeiramente histérica e sem bom relacionamento com a filha. Se formos considerar que assumir uma personagem tão usual não é tarefa tranquila, podemos dizer que Britton se saiu muito bem no ofício.



Sem citar nomes, vamos novamente à sinopse: "Após viver uma certa crise, uma família compra um imóvel antigo para dar um novo início à vida e descobre, gradativamente, que o lugar é assombrado e antigo palco de graves assassinatos". Quer um clichê maior do que esse? Provavelmente, nesse início, os idealizadores do seriado estavam sondando o terreno, buscando não fugir do genérico, ou seja, daquele argumento clássico das histórias de fantasmas. 

Em American Horror Story, a casa assombrada teve histórias grotescas que se iniciaram logo com os primeiros moradores, por volta dos anos 20 do século passado, quando o cientista Charles Montgomery (Matt Ross) e sua sensível esposa (Lily Rabe, filha da estrela Jill Clayburgh), tentando dar vida a uma criança, criaram um verdeiro monstro. Assassinatos e suicídios foram os resultados do desequilíbrio do casal. E por aí caminhou a história da mansão. Como manda a lei norte-americana, os vendedores devem informar se ocorreu algum crime no imóvel, obrigatoriamente, nos últimos três anos, e, moralmente, em toda a sua história. Mas é claro que Marcy (Christine Estabrook), a esperta corretora de imóveis, não iria além da determinação legal para não perder a chance de venda para o casal sedento por uma mudança no padrão de vida. Cumprindo a norma à risca,  Marcy informa somente a morte dos inquilinos anteriores, um casal gay (Zachary Quinto e Teddy Sears) que vivia brigando e que, numa crise de ciúme, cometeu assassinato e suicídio.

Com o passar do tempo, percebemos que o casal gay, embora tivessem mesmo seus desentendimentos, foram vítimas dos fantasmas cruéis que assolavam aquela casa. Após um ou dois capítulos, entendemos que todos aqueles que morrem naquela casa também se tornam fantasmas.



O curioso da história é que os mortos brigam, dormem, brincam, namoram e enganam polícia. Interagindo com os humanos, eles se apaixonam, se relacionam, se tocam, podendo até engravidar uma mulher viva... E é exatamente essa a ótima (para não dizer outra coisa) parte do seriado. O mocinho da história, que, na realidade, está morto, ataca a mãe de sua namorada (viva) e a engravida (!). Imaginem o que iria surgir de um fato como este...

Com personagens medianos interpretados por atores eficientes, a série conseguiu fazer ganchos nas partes finais, despertando no espectador uma vontade ansiosa para conferir o episódio seguinte. Dentre as boas surpresas nas participações especiais, tivemos Mena Suvari (no seguimento Dahlia Negra) e Zachary Quinto (como o gay mais afetado), que foi um dos protagonistas da segunda temporada.

Não é possível deixar de mencionar que Jessica Lange (Constance) foi o ponto alto da temporada, dando vida a uma mulher elegante, misteriosa e mortalmente perigosa. Não por acaso, a atriz foi premiada com o Golden Globe pelo papel. O sucesso de Lange foi tão grande que os idealizadores da série criaram um papel especificamente para ela, não pensando numa segunda escolha. Daí surgiu a Irmã Jude de American Horror Story: Asylum (2012), uma das freiras mais cruéis, divertidas e insanas dos últimos anos. Assim, mais uma vez, foi Jessica Lange que apresentou a personagem mais interessante da fase, brindando-nos com uma personagem que transitou com propriedades entre a maldade, o autoritarismo e a luxúria. Magnífica! Um verdadeiro show de interpretação da oscarizada atriz.


Essa segunda temporada, intitulada American Horror Story: Asylum (2012), foi muito mais interessante que a primeira, trazendo uma história mirabolante dentro de um hospício dirigido por religiosos na década de 60.  Evan Peters, Dylan McDermott (em participação não creditada), Zachary Quinto, Sarah Paulson e Lily Rabe (divertida como a freirinha vagabunda), que estiveram na primeira temporada, retornaram em papéis sob medida para o talento de cada um.

É bem verdade que a segunda temporada pareceu ter dado tiro para tudo quanto é lado. Foram abordados assuntos que tratavam de possessão demoníaca, serial killer, ameaça extraterrestre, nazismo, loucura, lesbianismo e religião. Impossível não agradar a algum seguimento... Com tantos caminhos, com tantas possibilidades, com tantas subtramas, a série poderia ter ido na contramão e saído do rumo, mas a direção enérgica e as várias cenas de impacto asseguraram que American Horror Story: Asylum fosse uma das melhores minisséries do ano, tanto que as indicações para o Emmy confirmaram o sucesso de público e crítica.


As participações especiais de Franka Potente, Chloë Sevigny e Clea DuVall enriqueceram a história e também contribuíram para o sucesso estrondoso da fase Asylum.



A próxima temporada será intitulada American Horror Story: Coven e trará um grupo de bruxas que precisa se preparar para ataques que vêm sofrendo, desde que escaparam, há 300 anos, dos turbulentos momentos que julgaram e condenaram à fogueira centenas de mulheres tidas como feiticeiras.

Taíssa Farmiga (que é irmã da excelente Vera Farmiga) retorna como uma jovem que guarda muitos segredos e que busca abrigo numa escola especial para aprender a se proteger. Ainda no elenco: Lily Rabe, Sarah Paulson, Frances Conroy e Evan Peters. A estrela Jessica Lange também está de volta num papel que promete ser mais uma lição de interpretação da atriz. Para um duelo de força e talento, a temporada trará mais uma atriz de peso: Kathy Bates, no papel de um mulher rica, manipuladora e assassina. Promete...