terça-feira, 19 de fevereiro de 2013
terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
Hitchcock (2012)
O trabalho que tiveram com a escolha de um grande ator e a preocupação com uma maquiagem irrepreensível ficaram parecendo maiores do que o cuidado devido com o roteiro e outros elementos que garantem o sucesso de um filme.
Alfred Hitchcock, o Mestre do Suspense, é uma figura lendária no cinema, por conseguinte, trazer para os dias de hoje uma produção que retrate bem o jeitão do cineasta e os fatos importantes de sua história é um verdadeiro exercício de criatividade e destreza.
Apesar de oportuno, afinal, conhecer um pouco mais dos bastidores do clássico Psicose (Psycho, 1960) é sempre um brinde para legião de fãs da obra do Mestre, o longa deixou a sensação de uma arranjo incompleto, de uma abordagem que não conseguiu retratar fielmente a engrenagem da emblemática produção.
Hitchcock (idem, 2012) não se trata da cinebiografia do diretor, pois contempla somente uma fase de sua carreira, exatamente o momento em que o Mestre, ainda colhendo os louros do sucesso obtido com Intriga Internacional (North by Northwest, 1959), decide adaptar um romance de Robert Bloch para seu próximo filme.
Ocorre que o livro de Bloch era baseado na vida do assassino psicopata Ed Gein, considerado um monstro pela opinião pública norte-americana, e o estilo do escritor passava pela violência e uma certa dose de terror.
Os grandes estúdios recusaram e a censura caiu de cima. Morte, nudez, perversão. Como a conservadora família americana iria reagir diante de um filme como aquele?
E é diante desse entrave que Hitchcock mostra todo seu talento de persuadir pessoas e de driblar questões de investimento. Visto como ranzinza e temperamental, o cineasta não desistiu de sua ideia e teve de amargar o descrédito e a falta de apoio financeiro para um longa que todos achavam que seria um fiasco.
Da escalação do elenco ao acordo arriscado com a Paramount, a produção teve de se adaptar ao orçamento baixo (utilizando inclusive os estúdios da série televisiva Suspense) e confiar na determinação de Hitchcok.
Psicose tem várias cenas que nos despertam muita vontade de saber mais sobre os bastidores, mas Hitchcock (2012) mostra essa parte de forma rasa. É difícil mesmo inovar para falar desse filme. Parece que tudo já foi exaustivamente mostrado, debatido, explorado. Porém, o roteiro poderia ter ido por um caminho mais contundente na relação do diretor com atores e produtores.
A escolha do premiado Anthony Hopkins para viver Hitchcock, apesar de todo prestígio do ator, soou-me como um grande vacilo. A voz impostada e a perfeita maquiagem chamaram mais atenção do que a própria interpretação. Não bastava ficar gordo e excêntrico, tinha de dar o tom debochado e carismástico que o cineasta transmitia. Hopkins tem um jeito aborrecido, olhar de tédio e a face amarga, o que não combina com a imagem de bonachão do Mestre. Com tanto aparato, ele não conseguiu se esquivar da caricatura. Sorte de Helen Mirren, que brilhou no papel de Alma Reville Hitchcock, esposa e grande colaboradora dos trabalhos do diretor.
O filme deu considerável ênfase ao relacionamento pitoresco de Hitchcock e sua mulher, que sempre era relegada ao segundo plano. Alma Reville andava flertando - de maneira muito sutil - com o roteirista Whitfield Cook (Danny Houston), e isto vinha arranhando o companheirismo incondicional que ela tinha com o marido. Essa relevância da relação comprimiu a participação mais eficaz de outros importantes nomes daquele momento, assim como reduziu os bastidores das filmagens. A demonstração da elaboração e montagem das cenas, algo que eu gostaria muito de ter visto, passou como rápidos trechos adicionais, sem dar muito tempo para degustar. A distribuição de personagens e episódios foi tão irregular que até Ed Gein (Michael Wincott) andou dando as caras mais do que o necessário.
Com isso, os grandes ficaram pequenos: o cultuado compositor Bernard Herrmann (interpretado por Paul Schackman), o roteirista Joseph Stefano
(Ralph Macchio - o Karatê Kid!!!) e o designer gráfico Saul Bass (Wallace Langham), que participaram efetiva e brilhantemente da produção, ficaram relegados a meras aparições no longa.
O 'Anthony Perkins' de James d'Arcy ficou mais para um Norman Bates do que para o próprio ator (mas também tem aquela questão de papéis que se encaixam como luva por aproveitar a própria vida e o jeito do artista), ao passo que Scarlett Johansson (que deu vida à estrela Janet Leigh) e Jessica Biel (que interpretou Vera Miles) tiveram um pouco mais de proveito na interprestação das atrizes, e não de suas personagens. A eficiente Toni Collette, como sempre, deixou sua marca no papel da assistente e braço direito do diretor, graças ao talento e à forte presença da atriz.
A atriz Patricia Hitchcock, filha do diretor, que participou do longa Psicose, não apareceu e sequer foi citada no filme, enquanto que o galã do filme John Gavin ganhou uma ponta inexpressiva feita por um magrelo chamado Josh Yeo (quem?).
Estão pensando que eu não gostei do filme? Eu gostei, sim, pois não deixou de ser mais um acréscimo à galeria de itens que tenho do diretor. O problema é que retratar o mestre ou abordar sua obra-prima, a meu ver, é uma tarefa para produtores e diretores de primeira linha, pois, do contrário, nunca terá um conteúdo que satisfaça.
Entre os grande momentos, temos o confronto de Hitchcock com sua Alma Reville, quando ele, protestando por se sentir preterido, recebe de volta todos os argumentos e a revolta da mulher que sempre o ajudou. Nesta cena, temos uma verdadeira aula de interpretação da incrível Helen Mirren, na realidade, o maior destaque do longa. Outra cena vibrante é aquela em que Hitchcock, na primeira exibição de seu filme no cinema, orquestra, particularmente, a reação do público diante da famosa cena da morte no chuveiro.
Scarlett Johansson deu um tom delicado na sua interpretação de Janet Leigh, mostrando-nos uma relação terna e tranquila com o diretor; contrariando o ocorrido com algumas outras atrizes que trabalharam com o Mestre.
Outra cena que eu gostei, apesar de breve (mais uma...), foi a que mostrou os motivos da mágoa de Hitchcock com a magnífica Vera Miles (de O Homem Errado - The Wrong Man, 1956). A atriz, que havia sido escolhida para ser a estrela de Um Corpo que Cai (Vertigo, 1958), abandonou as filmagens uma semana antes do início das gravações. O texto colocado na voz serena - e ao mesmo tempo segura - de Jessica Biel revelou que a atriz não quis ser uma nova Grace Kelly, por achar que se dedicar à família e ao seu filho (tido com o 'Tarzan' Gordon Scott) eram coisas mais importantes na sua vida.
Ainda não assisti ao The Girl (2012) produção televisiva de BBC de Londres, que mostra a relação tempestuosa do diretor Alfred Hitchcock com uma das atrizes que ele lançou: a belíssima Tippi Hedren, que protagonizou Os Pássaros (The Birds, 1963) e Marnie, Confissões de Uma Ladra (Marnie, 1964). Neste filme, o Mestre é interpretado pelo esquisito Toby Jones, enquanto que Tippi Hedren é vivida pela bela Sienna Miller.
Hitchcock (2012) é a execução de uma intenção interessante, mas ficou longe de poder ser considerado um filmaço.
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Gilvan
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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013
La Casa Muda
O cinema norte-americano tem uma necessidade constante de adaptar sucessos de outros países, seja por uma boa história, como foi o caso de Perfume de Mulher (Scient of a Woman, 1992), seja pelo impacto de uma nova linguagem, como foi o caso de O Chamado (The Ring, 2002), seja pela vontade de reproduzir filmes ousados e de gosto duvidoso, como foi o caso do repugnante Violência Gratuita (Funny Games, 2007).
Nessa onda, temos mais uma tentativa de pegar um filme estrangeiro de baixo orçamento e transformar num sucesso. E eu não entendo como é que imaginaram que transformar o precário A Casa (La Casa Muda, 2010) em A Casa Silenciosa (Silent House, 2011) poderia render alguma coisa boa.
O filme uruguaio A Casa foi sucesso em vários festivais de cinema internacionais e chamou a atenção em Cannes, durante as exibições da Quinzena do Diretor, pelo fato de ser uma produção dirigida a um público local, mas que acabou ganhando projeção graças a fervorosos comentários feitos na internet. Ora, o que despertou a admiração do público e da crítica foi a questão de o filme ter sido rodado em apenas quatro dias e com uma câmera fotográfica (!). Ok! Foi com uma Cannon 5D que filma em Full HD. Mas não é uma filmadora, ora!
E para acrescentar notoriedade à produção de baixo custo, o diretor Gustavo Hernández teve a proeza de filmar A Casa num único plano, sem cortes e em tempo real, ou seja, passando a impressão de um take único, tal como foi feito no magnífico Festim Diabólico (Rope, 1948), do mestre Alfred Hitchcock. Completando os méritos, o filme contou uma história assustadora, baseada em fatos reais que ocorreram na década de 1940.
Um pai, sua filha e um amigo chegam num antigo sobrado isolado no interior do Uruguai para iniciarem, no dia seguinte, um serviço de reforma da casa, que seria colocada à venda. Assim que anoitece, vozes, alucinações e muito barulho passam a incomodar as três pessoas, colocando a garota numa situação de isolamento e medo.
Não é legal? Sim, mas paremos de encher a bola do filme por aqui. A história nem é tão boa assim e o roteiro ficou capenga da metade para o final. Acontece que o sucesso se deve à genialidade de criação, afinal, produzir um filme com uma câmera fotográfica emprestada e com apenas alguns mil dólares é algo de se admirar.
Então uma produtora de Nova York e um diretor da Califórnia veem essa pequena pérola e resolvem fazer uma adaptação americana.
Com planejamento e recursos, o que tinha de notório foi por água abaixo. E ainda convidaram a bonitinha Elizabeth Olsen (irmã das famosas gêmes Mary-Kate e Ashley Olsen) para protagonizar o filme.
Resultado: um filme sem graça e com uma história confusa. A parte boa é que ficou sem legendas e em língua inglesa, facilitando a vida dos norte-americanos.
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Gilvan
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domingo, 3 de fevereiro de 2013
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