quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

As Aventuras de Pi



Mais uma vez, eu havia entrado numa sessão de cinema sem ter buscado maiores informações sobre o filme. Tinha assistido ao trailer e considerado a produção uma boa diversão para família, mas que não serviria para um público adulto desacompanhado de crianças.

Eis que sou convidado (insistentemente) a conferir este longa de classificação livre. Na entrada do cinema, uma sinopse breve: menino indiano, filho do dono de um zoológico, perde a família num naufrágio e tem de sobreviver num bote salva-vidas em meio ao Oceano Pacífico, na companhia de um tigre-de-bengala, de um orangotango, de uma hiena e de uma zebra.

Menino num bote na companhia de animais tão diferentes e (alguns) ferozes? Eu já estava imaginado diálogos, piadinhas e Moby Dick na história. Até uma cópia marítima de Mogli - O Menino Lobo (Jungle Book, 1942) passou pela minha cabeça.


Mas não era nada disso. O filme é ótimo e tem uma mensagem muito positiva sobre a vida. Dirigido pelo brilhante Ang Lee - de O Tigre e o Dragão (Wo hu cang long, 2000), Hulk (idem, 2003), Razão e Sensibilidade (Sense e Sensibility, 1995) e Tempestade de Gelo (The Ice Storm, 1997), ou seja, um diretor de incursões bem diferentes e de, na maioria das vezes, grande acerto na condução de seus trabalhos, o filme tem muitos predicados para agradar ao grande público e se tornar uma referência no estilo fábula moderna.

É certo que o filme é arrastado demais para o público infantil e, por vezes, ingênuo ao extremo para um filme adulto, porém, desprezando esses momentos irregulares do roteiro, o filme se revela como um eficaz entretenimento, com momentos de emoção e impactante fantasia.


Na realidade, não se trata de um menino, mas, sim, de um adolescente carismático, que já havia se apaixonado por uma garota, ainda que numa paquera bem rápida, e que estava de mudança com a família para o Canadá, onde iriam tentar uma vida melhor. Como seu pai, um homem rude, mas bastante inteligente, havia perdido os incentivos fiscais na manutenção de seu zoológico, a família decidiu se mudar para América do Norte, levando boa parte dos animais para venda no Ocidente.

O naufrágio, ocorrido por causa de uma tempestade, colocou o rapaz, único sobrevivente humano, na companhia dos quatro mencionados animais, à deriva no oceano.


A natureza dos ocupantes do bote fez com que o animal mais forte eliminasse seus companheiros (não precisa dizer como), sem, contudo, sucesso com o ser humano, pelo fato de este ser dotado de inteligência o bastante para manter uma distância segura, enquanto tentava domar o animal.

E é esta convivência que nos mostra um bem elaborado jogo de artimanhas, entrosamento e disputa. O acerto está em não permitir que o tigre se torne um felino dócil, mas, por outro lado, coloca o animal perigoso como um ser que, paulatinamente, consegue visualizar um parceiro de sobrevivência naquela circunstância.


É incrível saber que o jovem Suraj Sharma, que faz o protagonista Pi Patel, não tinha, até então, nenhuma experiência cinematográfica ou televisiva, tendo sido selecionado entre 3.000 candidatos, e que nem tinha ido ao estúdio para fazer testes, pois apenas acompanhava seu irmão mais novo, que é ator.

O rapaz é um artista nato e esbanja talento e desenvoltura em todas as cenas de seu personagem.

O longa, aproveitando-se de alguns delírios do rapaz, em virtude da situação ao qual é submetido, nos brinda com cenas de impecável beleza, como aquelas das travessias dos peixes, das visões do horizonte e da transformação da ilha carnívora. Outra cena de encanto visual é aquela em que Pi, como adulto, narra um episódio na piscina publica que fica perto do Bois de Boulougne, em Paris.


Curiosidades:

Suraj Sharma não contracenou com o tigre que, muito embora pareça perfeito, trata-se de uma criatura digital concebido por meio da tecnologia CGI (somente em algumas cenas isoladas o tigre é verdadeiro)

Tobey Maguire filmou todas as cenas no papel do escritor, mas Ang Lee entendeu por certo substituí-lo por um ator menos conhecido (Rafe Spall), para que não houvesse desequilíbrio na atenção do elenco (formado predominantemente por desconhecidos do grande público).





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