sábado, 5 de janeiro de 2013

A Última Casa da Rua


Se fosse tomar por base somente o primeiro trailer que vi de A Última Casa da Rua (House At End Of The Street, 2012), eu não iria ao cinema assistir ao filme. O longa teve alguns teasers de divulgação, com cenas claramente adaptadas para o impacto da chamada. Desta forma, a apresentação ficou por demais confusa, levando-nos a acreditar que se tratava de uma produção de puro delírio e roteiro não linear.

O outro trailer oficial, também editado para que o público visualizasse um bom filme de terror, ficou mais claro e atraente o bastante para angariar um público adolescente e adeptos ao  bom suspense com sobrenatural.

Podemos dizer, sim, que é um filme destinado ao público adolescente por causa das idades dos protagonistas, como também pelos ambientes de escola e de festinhas particulares (com bebedeiras), tendo ainda uma banda teen de garagem (a atriz principal canta). Por outro lado, não se trata de suspense com sobrenatural como o trailer procurou divulgar. O perigo é humano e o terror, psicológico. 

Outro aspecto que pesou na vontade de assistir ao filme foi o elenco, que conta com a estrela em ascensão Jennifer Lawrence, de Jogos Vorazes (The Hunger Games, 2012) e com a magnífica Elisabeth Shue, mais uma vez, emprestando seu talento e beleza para uma produção.


Foi legal constatar que a história tinha um rumo diferente daquele proposto no primeiro ato, pois tudo levava a crer que a personagem Carrie-Anne, que mata brutalmente os pais na primeira cena do longa, iria atazanar a vida tranquila da protagonista. Foi mais ou menos isso, mas não foi bem isso.

O filme é dirigido pelo novato Mark Tonderai e conta a história da jovem Elissa, que mudou-se de cidade com sua mãe (Elisabeth Shue), para iniciar uma vida nova após a separação dos pais. Durante um evento de boas vindas organizado pelos vizinhos, Elissa descobre que a casa ao lado da sua foi o cenário de um brutal assassinato. O duplo homicídio foi cometido por uma garota adolescente (a tal Carrie-Anne) que matou seus pais e fugiu para floresta dos arredores da residência, desaparecendo sem deixar vestígios. Barulhos, luzes, vozes e fatos estranhos levam a crer que a garota assassina rondava a região.



Apesar da reviravolta final e das presenças de duas adoráveis atrizes, o longa não cumpre a aventada possibilidade de ser um bom filme de suspense. A relação da personagem de Lawrence com o solitário Ryan (Max Thieriot), filho do casal assassinado, soa forçada e sem muitos atrativos, enquanto que a ótima Elisabeth Shue assume um papel que não sai dos conhecidos clichês empregados para as mães americanas de filmes de suspense.

O eficiente Gil Bellows, da famosa série de TV Ally McBeal (1997-2002), faz um policial tão bobão que em nada lembra seus áureos tempos televisivos, enquanto que o fraco Max Thieriot perde a oportunidade de desenvolver um personagem dramático interessante, revelando-se um ator medíocre e sem preparo para papéis mais complexos (e olhe que o papel nem exigia tanto assim).
 

Sem muito a oferecer, parece que o diretor se aproveitou, então, das curvas generosas de Lawrence para que a atração não fosse em vão, fazendo tomadas que valorizavam o corpo voluptuoso (que palavra!) da moça. Lawrence, por sua vez, esforçou-se para se convencer de que estava no filme certo dentro de sua carreira de acertos.

Por Jennifer Lawrence e por Elisabeth Shue, o filme não é uma perda de tempo. Também, com um pouco de boa vontade, é possível se entreter com a história e gostar das revelações finais.








quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

As Aventuras de Pi



Mais uma vez, eu havia entrado numa sessão de cinema sem ter buscado maiores informações sobre o filme. Tinha assistido ao trailer e considerado a produção uma boa diversão para família, mas que não serviria para um público adulto desacompanhado de crianças.

Eis que sou convidado (insistentemente) a conferir este longa de classificação livre. Na entrada do cinema, uma sinopse breve: menino indiano, filho do dono de um zoológico, perde a família num naufrágio e tem de sobreviver num bote salva-vidas em meio ao Oceano Pacífico, na companhia de um tigre-de-bengala, de um orangotango, de uma hiena e de uma zebra.

Menino num bote na companhia de animais tão diferentes e (alguns) ferozes? Eu já estava imaginado diálogos, piadinhas e Moby Dick na história. Até uma cópia marítima de Mogli - O Menino Lobo (Jungle Book, 1942) passou pela minha cabeça.


Mas não era nada disso. O filme é ótimo e tem uma mensagem muito positiva sobre a vida. Dirigido pelo brilhante Ang Lee - de O Tigre e o Dragão (Wo hu cang long, 2000), Hulk (idem, 2003), Razão e Sensibilidade (Sense e Sensibility, 1995) e Tempestade de Gelo (The Ice Storm, 1997), ou seja, um diretor de incursões bem diferentes e de, na maioria das vezes, grande acerto na condução de seus trabalhos, o filme tem muitos predicados para agradar ao grande público e se tornar uma referência no estilo fábula moderna.

É certo que o filme é arrastado demais para o público infantil e, por vezes, ingênuo ao extremo para um filme adulto, porém, desprezando esses momentos irregulares do roteiro, o filme se revela como um eficaz entretenimento, com momentos de emoção e impactante fantasia.


Na realidade, não se trata de um menino, mas, sim, de um adolescente carismático, que já havia se apaixonado por uma garota, ainda que numa paquera bem rápida, e que estava de mudança com a família para o Canadá, onde iriam tentar uma vida melhor. Como seu pai, um homem rude, mas bastante inteligente, havia perdido os incentivos fiscais na manutenção de seu zoológico, a família decidiu se mudar para América do Norte, levando boa parte dos animais para venda no Ocidente.

O naufrágio, ocorrido por causa de uma tempestade, colocou o rapaz, único sobrevivente humano, na companhia dos quatro mencionados animais, à deriva no oceano.


A natureza dos ocupantes do bote fez com que o animal mais forte eliminasse seus companheiros (não precisa dizer como), sem, contudo, sucesso com o ser humano, pelo fato de este ser dotado de inteligência o bastante para manter uma distância segura, enquanto tentava domar o animal.

E é esta convivência que nos mostra um bem elaborado jogo de artimanhas, entrosamento e disputa. O acerto está em não permitir que o tigre se torne um felino dócil, mas, por outro lado, coloca o animal perigoso como um ser que, paulatinamente, consegue visualizar um parceiro de sobrevivência naquela circunstância.


É incrível saber que o jovem Suraj Sharma, que faz o protagonista Pi Patel, não tinha, até então, nenhuma experiência cinematográfica ou televisiva, tendo sido selecionado entre 3.000 candidatos, e que nem tinha ido ao estúdio para fazer testes, pois apenas acompanhava seu irmão mais novo, que é ator.

O rapaz é um artista nato e esbanja talento e desenvoltura em todas as cenas de seu personagem.

O longa, aproveitando-se de alguns delírios do rapaz, em virtude da situação ao qual é submetido, nos brinda com cenas de impecável beleza, como aquelas das travessias dos peixes, das visões do horizonte e da transformação da ilha carnívora. Outra cena de encanto visual é aquela em que Pi, como adulto, narra um episódio na piscina publica que fica perto do Bois de Boulougne, em Paris.


Curiosidades:

Suraj Sharma não contracenou com o tigre que, muito embora pareça perfeito, trata-se de uma criatura digital concebido por meio da tecnologia CGI (somente em algumas cenas isoladas o tigre é verdadeiro)

Tobey Maguire filmou todas as cenas no papel do escritor, mas Ang Lee entendeu por certo substituí-lo por um ator menos conhecido (Rafe Spall), para que não houvesse desequilíbrio na atenção do elenco (formado predominantemente por desconhecidos do grande público).