sábado, 19 de fevereiro de 2011

Bravura Indômita

Eu sinceramente gostaria de não torcer para Jeff Bridges ganhar o Oscar de Melhor Ator na Cerimônia deste ano, considerando que o astro já foi consagrado pela Academia e que já esteve sob os holofotes recentemente. Porém, não há como desconhecer o seu desempenho espetacular no filme Bravura Indômita (True Grit, 2010), em que interpreta o Agente Federal Cogburn, um policial beberrão, velho e desleixado,  irregular nos procedimentos, mas eficaz na maioria dos resultados. Além disso, assumir a releitura de um papel que proporcionou o único Oscar na carreira cinematográfica do ícone John Wayne, um dos maiores atores de filmes do Velho Oeste, poderia criar algum tipo de contenção num ator com menos bagagem, mas a tarefa foi tirada de letra pelo bom e velho Bridges, graças ao seu grande talento e à sua impecável técnica de atuação.



O resultado foi o que conferimos nas telas. Jeff Bridges corre o risco de ganhar o prêmio com louvor e causar aquela certa mágoa no público que gosta de ver premiações para aqueles que ainda não receberam a estatueta.
Eu assisto a todos os filmes de Joel e Ethan Cohen, até quando não tenho tanto apreço pela proposta,  pelo fato de ter me surpreendido e adorado a primeira vez que estive diante de uma produção desses irmãos-caras-de-pau, no bom sentido. Sempre saio do cinema certo de que estive diante de mais uma aula de cinema,  de entretenimento e  de uma boa dose de provocação.
No filme em questão, uma garota de 14 anos, inconformada com o assassinato injusto de seu pai, procura  um policial com fama de ser um matador implacável, intencionando contratá-lo para eliminar o bandido. Segura e determinada, ela negocia bens, enfrenta poderosos e se dirige até àquele homem com uma proposta fechada e sem negociações, com um detalhe: ela deveria estar junto na hora do acerto de contas.
A estreante Hailee Stenfeld, que interpreta a garota valente, tem grandes chances de vencer o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. O impacto de seu papel pode ser comparado ao mesmo que outras meninas tiveram em composições complexas para crianças, como Jodie Foster, Natalie Portman, Linda Blair, Isabelle Fuhrman e Anna Paquim.
 O elenco ainda conta com outras feras na interpretação: Barry Peeper, Matt Damon e Josh Brolin.

Nota no IMDb: 8.1.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Cisne Negro

Quando fiz a postagem sobre o longa Cisne Negro (Black Swan, 2010), em dezembro de 2010, já existia um certo alarde sobre o filme aqui no Brasil, sendo uma pena que sua estréia tenha se postergado para o início deste fevereiro de 2011.

Menos mal que o lançamento tardio na Terra Brasilis tenha ocorrido, ao menos, algumas semanas antes antes da cerimônia de entrega do Oscar. Assim, poderemos assistir à premiação, entendendo a razão de esta impecável produção estar na lista de indicados.
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Dirigido por Darren Aronofsky, do bem conceituado Réquiem para um Sonho (Requiem for a Dream, 2000), o filme nos apresenta a história de uma dedicada bailarina que se prepara para a montagem do clássico O Lago dos Cisnes, do compositor russo Tchaikovsky. Eficiente e perfeccionista, a garota se vê em dificuldades por não conseguir imprimir a sensualidade que o rigoroso diretor exigia em parte do espetáculo. Para complicar, ela fica sabendo que uma colega novata estava ensaiando o mesmo espetáculo para substituí-la em caso de alguma eventualidade. A garota não tinha a técnica e a precisão da protagonista, mas tinha a leveza e a sensualidade que o diretor tanto queria na sequência do Cisne Negro.
A partir de então, a tímida e infantilizada bailarina inicia um processo de libertação, confrontando sua mãe super-protetora e se desafiando junto à liberada colega de ballet.

A cena em que as garotas se pegam na cama é de uma ousadia poucas vezes vistas em filmes indicados ao Oscar. 
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A protagonista é ninguém menos que a talentosa Natalie Portman, que estará adicionando mais um trabalho primoroso à sua equilibrada carreira. A antagonista é a interessante Mila Kunis, que deu o ar da graça no trêfego Max Payne (Idem, 2008). Completando o elenco, os poderosos Vincent Cassell (Irreversível / Irreversible, 2002), Wynona Ryder (Garota, Interrompida / Girl, Interrupted, 1999)  e Barbara Hershey (Uma Mulher Perigosa / A Dangers Woman, 1993).
A sempre agradável Portman, atriz de grandes sucessos como Closer -  Perto Demais (Closer, 2004),V de Vingança (V for Vendetta, 2006) e Star Wars II - Ataque dos Clones (Star Wars: Episode II - Attack of the Clones), admitiu em entrevista que  se candidatou ao papel sem ter noção do quanto seria difícil executá-lo. Ela teve um treinamento árduo de nove horas por dia,  durante algumas semanas, e disse que passou a valorizar mais o trabalho das bailarinas após sentir na pele o quão árduo é o ofício dessas mulheres que precisam se exercitar duramente para aparentar graça e leveza no palco. 
Sobre a ousada cena com a bela Mila Kunis, Portman declarou:  "Como traremos homens para assistir a um filme de ballet? Como levaremos mulheres para um filme de terror? E a resposta foi uma cena lésbica. Todo mundo quer ver uma cena de sexo lésbico".

Nota no IMDb: 8.5.
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Destaque para vigorosa cena em que Portman encarna o Cisne Negro. Forte e visceralmente convicente.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Santuário

1 - Do produtor James Cameron;
2 - Efeitos especiais da mesma tecnologia de Avatar;
3 - Uma aventura de tirar o fôlego
4 - Baseado em fatos reais...

Com estes quatro predicados e mais um trailer com imagens de impressionar os olhos, o longa Santuário (Sanctum, 2011) parecia que ficaria entre um arrasa-quarteirão ou, no mínimo, na categoria de um bom filme de efeitos visuais.

Nem uma coisa e nem outra.
 
1 - Direção frouxa;
2 - Atuações fracas de um elenco medíocre;
3 - Efeitos visuais que não foram além do que já havia sido mostrado nos trailers;
4-  História insossa...


Nem o uso da tecnologia 3D salvou o filme.

Sinopse: Diante de uma inesperada tempestade, um grupo de experientes mergulhadores se vê obrigado a explorar as profundezas de uma caverna. Na liderança, um veterano aventureiro que tem problemas de relacionamento com o filho adolescente e que, naquele contexto, inicia uma reaproximação com o rapaz. Com ele, além do filho e da equipe de mergulho, um rico casal de namorados aventureiros sem experiência em mergulho (e sem charme algum também).

Não consegui me importar nem com a morte em sequência dos personagens.

Nota do IMDb: 5,6.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Picnic na Montanha Misteriosa

Finalmente assisti ao cult Picnic na Montanha Misteriosa (Picnic at Hanging Rock, 1975), filme que revelou o diretor australiano Peter Weir para Hollywood.

Escrevo com certo tom de alívio porque se trata de uma produção que há tempos eu vinha querendo conferir, mas não estava muito disposto a comprá-lo ou baixá-lo em torrent, tampouco estava a fim de ficar checando grade de TV para ver aqueles horários ótimos das madrugadas, pois, como toda obra cinematográfica classificada como Filme de Arte, este trunfo do cinema australiano corria o risco de ser uma bomba.

Felizmente não é, embora eu deva ressalvar que não é um filme indicado para o grande público. Alguns podem se incomodar com seu desenvolvimento lento e diálogos taciturnos.
Ambientado em 1900, num idílico colégio inglês vitoriano, em que moças ricas eram mandadas  para  receberem bons estudos, regras de etiquetas e controle emocional, o filme, logo de início, nos impressiona pela bela fotografia e pela trilha sonora envolvente.

A história se desenvolve em torno do momento de maior destaque do filme, que é o dia do piquenique na tal montanha do título original, em que três moças e uma governanta desaparecem sem deixar vestígios. Apesar de não haver ênfase nas investigações, as situações do filme giram, predominantemente, em cima desse único fato, sem se preocupar em distrair o público com tramas paralelas.
Por meio de imagens que mais parecem um quadro pintado, o espectador é conduzido a um jogo de  informações que, à medida que a história avança, vai ficando cada vez mais intrigante.

Existe uma certa angústia, pois tentamos veementemente descobrir a relação do fato com o dilema de uma das moças que, por motivos não esclarecidos, não havia ido ao piquenique, passando a ser, desde então, a estranha entre as garotas.

Quebrando um pouco do ritmo morno do filme, dois rapazes curiosos, que se mostraram sempre dispostos a ajudar nas buscas, conseguem encontrar uma das moças. O que parecia ser a solução do mistério, torna-se mais um elemento de inquietação, pois a garota, aparentemente normal e não tendo sofrido qualquer tipo de violência, não conseguia se recordar dos fatos mas, quando forçada a falar, entrava em prantos e tinha crises histéricas.

Alguns pontos merecem destaque, como o momento em que as moças parecem hipnotizadas ao subirem a montanha, numa cena de muito bom gosto do ponto de vista da fotografia, e a cena imediatamente após, em que temos uma moça que desce a montanha gritando e correndo,  instaurando um corte abrupto nas tomadas até então muito lentas.

Difícil explicar, mas, durante a projeção, temos insistentes e alternados trechos que nos mostram a força das árvores, a imponência dos rochedos, a destreza dos pequenos bichos, coisas que nos fazem acreditar que há uma força maior e oculta na natureza, algo que os humanos não podem controlar. Também, o fato de o desaparecimento ter acontecido no Dias dos Namorados sugere um possível crime passional, fortalecido com a curiosidade das adolescentes sobre o mundo adulto. Seria insinuação para o desejo sexual reprimido? 

O diretor conseguiu o que queria: incomodar o espectador. Imaginem aqueles que saíram do cinema,  após uma forte revelação nos minutos finais, com a notícia plantanda de que o longa se baseava em fatos reais.  Foram discussões e mais discussões. Não existia Google naquela época, o que deve ter deixado o público sedento por debates e esclarecimentos.

No elenco, dois destaques: a jovem Jacki Weaver e a veterana Rachel Roberts (1927–1980), num papel vigoroso e à altura de seu jeitão robusto.

Não procurem muitas informações sobre o filme. Vejam e se deixem seduzir por esta composição magnífica, mas fiquem certos de que, muito provavelmente, será uma experiência mágica e perturbadora.