A explosiva estréia de Kate Winslet no cinema...
Como fã do talentoso diretor Peter Jackson, fui assistir ao filme Um Olhar no Paraíso (The Lovely Bones, 2009) com ótimas expectativas, mas terminei por sair frustrado do cinema.
As belas imagens de um mundo idílico, o prestigiado nome do diretor, os desempenhos memoráveis de Saoirse Ronan, assim como de Stanley Tucci, e a presença de atores de primeira linha (Mark Whalberg, Susan Sarandon e Rachel Weisz) não ajudaram a emplacar a trêfega história da garota que, após ser assassinada por seu vizinho, acompanha a trajetória das investigações acerca de sua vida e visualiza o sofrimento de seus familiares.
Fantasia, drama, suspense, romance... Afinal, o que Peter Jackson quis apresentar ao produzir, roteirizar e dirigir esse filme?
Debates à parte, não é possível deixar de reconhecer a excelente qualidade das cenas passadas no mundo paralelo à realidade.
Assassinato e situações oníricas já nos foram apresentados pelo diretor em uma produção do início de sua carreira e, talvez, o filme Um Olhar no Paraíso tenha sido uma vontade de revisitar o supreendente Almas Gêmeas (Heavenly Creatures, 1994), o filme que marcou a estréia da premiada Kate Winslet no cinema.
O ponto positivo é que, no filme de 1994, o mundo surreal se encaixou perfeitamente ao contexto, visto que representava bem as mentes insanas e apaixonadas das duas garotas que protagonizam a história.
Baseado em fatos, o filme retrata a amizade obsessiva de duas adolescentes que, ao primeiro risco de serem afastadas por suas famílias, planejam o assassinato da mãe de uma delas. A primeira cena do filme é marcada por um momento da mais pura histeria e causa um certo incômodo, no entanto, isso é rapidamente atenuado com a transição para uma situação mais amena e corriqueira. E é com essa construção que percebemos a competente mão do diretor, pois, ao invés de nos colocar diante de uma mal arrumada ruptura, consegue-se transformar o impacto numa expectativa, numa vontade de saber o que irá nos conduzir àquele tenso prólogo, sem, contudo, tornar-se a espera fundamental dos espectadores, uma vez que o roteiro e o ótimo desempenho das atrizes preenchem os pensamentos com uma história firme e envolvente.
Kate Winslet, então com 19 anos, após participações em seriados de TV, com esse intenso filme, teve sua chance de aparecer na tela grande e de provar que não estava brincando de ser atriz.
Num dueto interessante com Melanie Lynskey (a Rose de Two and a Half Man, 2003-2011), Kate Winslet mantém-se firme nos momentos de docilidade, sensualidade e ferocidade de sua personagem. Uma atriz menos ousada não teria dado credibilidade ao dúbio sentimento que as garotas sentiam uma pela outra.
A partir desse trabalho, diretor e atriz começaram suas ascensões no mundo cinematográfico e estão presentes em vários filmes arrasa-quarteirões e em produções mais contidas, mas de inquestionáveis qualidades criativas.
Winslet mantém-se rigorosa em suas escolhas, seguindo uma linha de princípios e critérios parecida com a conduta adotada pela excepcional Jodie Foster, e Peter Jackson, após sucessivos sucessos de crítica e público, pode se dar ao luxo de escorregar nesses Olhares no Paraíso da vida...