sábado, 21 de abril de 2012

Thor


Talvez seja a ampla expectativa criada em torno da estréia de Os Vingadores (The Avengers, 2012) a responsável pelo resultado mediano da grande produção Thor (idem, 2011). Sem dúvida que o longa teve uma produção digna de verdadeiro arrasa-quarteirão, mas a história morna e a ausência de ao menos uma cena de grande impacto impediram que a primeira parte da franquia causasse entusiasmo nos espectadores. 

Funcionando como uma apresentação de um dos personagens principais do grande lançamento de 2012, assim como foi o caso de Capitão América (Captain America: The First Avenger, 2011), Thor teve o compromisso de ser um bom entretenimento, sem vontade alguma de arriscar numa ousadia e incorrer num possível fracasso. Desta forma, não foi um estrondo, mas também não resultou num filme qualquer. Podemos dizer que ficou mais parecido com um piloto de série de TV. Algo que identificamos o esmero e a seriedade, porém, constatamos que, por ser cinema, poderia ser muito mais.

Apesar de as cenas não exigirem verossímil e habilidosa interpretação dramática, o australiano Chris Hemsworth se sai bem no papel-título e consegue tirar bom proveito de todos os momentos de seu personagem. Assim, seu carisma e seu adequado tom de interpretação em cada cena tornaram-se elementos importantes para não ofuscá-lo diante da grandiosa história e do elenco com atores de peso. 

Dando vida ao arrogante e poderoso filho de um cultuado rei (Anthony Hopkins),  Hemsworth nos apresenta um Thor impulsivo, justiceiro e desmedido, o que leva seu pai a retirar seus poderes e bani-lo de seu planeta, condenando-o a ser um mortal no Planeta Terra. Nesta circunstância, ele conhece a pesquisadora (Natalie Portman) que defende a existência de outros mundos nos espaço intergaláctico, fazendo com que, nesse contexto, o herói caia à sua frente (literalmente) como uma boa oportunidade de provar suas teorias.



SPOILER:

O problema é que amor sugerido entre os dois fica muito forçado e não convence de forma alguma, principalmente pelo fato de que, pelo menos como ficou instaurado na montagem, Thor não passou mais que dois dias na Terra. Se fosse um flerte, mas não, o roteiro quis nos convencer daquele amor que transforma, que impacta, que enaltece, um amor que fez o grandão lutar para  não destruir as criaturas que viviam ameaçando o reino de seu pai. A mudança fica mais patética ainda quando sabemos que esse exato desejo de destruição foi o motivo que levou seu heróico pai a expulsá-lo do planeta.

Talvez, a mudança se justificaria se o herói tivesse sofrido um amontoado de crises que abalassem sua razão: a expulsão de seu planeta, a perda de seus super poderes na terra (não ter conseguido levantar seu martelo foi um trauma), o fato de ter acreditado na morte de seu pai (e depois ter descoberto que foi enganado pelo irmão), a "Cisne Negro" ter sido sua primera paixão...  Mas isso tudo só se instauraria com o desenvolivmento de um lado dramático para (e pelo) ator, o que não era a proposta do filme, tampouco uma habilidade de Hemsworth. Risco demais para uma produção que integra um megaprojeto.

FIM DO SPOILER.


Os demais integrantes do elenco seguem a cartilha como bons atores e executam personagens dentro do esperado, sem nenhuma estrondosa interpretação. A coisa fica tão dentro do trivial que Tom Hiddleston fica entre o caricatural e o pouco expressivo, fazendo com que a ponta de Jeremy Renner se torne algo muito mais interessante que o papel do vilão. E também não posso deixar de mencionar o quão fracos são os personagens femininos, deixando evidente que Rene Russo e Natalie Portman pouco tiveram a mostrar.

Pois bem, com os personagens de Jeremy Renner e Scarlett Johansson jogados de qualquer jeito neste Thor e em O Homem de Ferro 2 (Iron Man 2, 2010), respectivamente, com os lançamentos e os resultados rasoáveis de Thor e de Capitão América, com o sucesso da triloga de O Homem de Ferro, com Mark Ruffalo assumindo o personagem de Edward Norton (ou do Eric Bana), com os links criados nas cenas pós-créditos finais de cada filme, vamos nos preparar para o grande motivo de tanta coisa: Os Vingadores!


quarta-feira, 4 de abril de 2012

O Caçador (Chugyeogja, 2008)


Como estamos acostumados ao padrão norte-americano para filmes de ação, podemos sentir, a princípio, uma certa repulsa pela proposta sul-coreana.

Aceitei o quase desafio de assistir ao intenso O Caçador (Chugyeogja, 2008), um filme que apresenta uma estética similar ao do produto hollywoodiano, mas que reserva algumas surpresas (nem sempre boas) destoantes daquelas que estamos acostumados a ver no estilo ocidental.

Vamos à sinopse: um cafetão, meio camarada, meio pilantra,  está preocupado com o sumiço de duas de suas garotas, mas imagina que os desaparecimentos estejam relacionados com o tráfico de mulheres para prostituição em outros países. Precisando equilibrar suas contas, ele obriga sua melhor garota a fazer um programa de última hora, desprezando o fato de ela estar se tratando de uma gripe. Resignada, a moça, que é mãe de uma garotinha muito esperta, sai de casa e vai fazer seu serviço, sem saber que estava indo para residência de um cruel matador em séries. Quando esta também desaparece, o cafetão, que já foi um policial, resolve seguir os passos da garota para saber o que havia acontecido.

Podemos identificar alguns elementos que demonstram a intenção de ganhar o mercado internacional, como os clichês presentes nas produções do gênero, tais como o tratamento de ineficiência dado à polícia, a existência de autoridades obstinadas com a boa imagem perante a imprensa, o personagem central na velha concepção de um ex-policial decadente que corre contra o tempo, a prostituta de bom coração que trabalha para sustentar sua filha pequena, as cenas de perseguição pelas escuras ruas de uma metrópole e, por fim, um serial killer frio e vingativo.


Porém, ao mesmo tempo que visualizamos esses pontos que aproximam o filme do cinemão, somos surpreendidos com uma linguagem que quebra o ritmo das sequências e nos fazem questionar se estamos diante de algo que valha a pena continuar assistindo.

A óbvia tentativa de fazer graça é empregada exatamente em cenas que deveriam ser tratadas com mais seriedade, pelo menos dentro das regras do ocidente, ao passo que o sério é jogado em cenas inacreditavelmente risíveis.

À exceção do serial killer, que se abriga nas oscilantes características de um demente,  e da prostituta, que é atacada logo nos primeiros momentos do filme, os demais personagem surgem como caricaturas que perambulam num mundo farsesco.

Se as cenas cômicas (todas sem graça) não agradam, o que podemos dizer dos momentos de extrema violência? Poucas vezes o cinema norte-americano foi tão ousado com o grafismo explícito utilizado em O Caçador,  que não poupa os espectadores do realismo e da agressividade visual.


Acho que o mundo ocidental gosta de redenção, e talvez seja a ausência de compaixão com os personagens (e com o próprio público) que nos traga uma aversão à forma de desenvolvimento e de conclusão empregados nesse filme de ação coreano.

Existem também aqueles momentos em que os personagens agem como tolos e seguem caminhos difíceis de se acreditar, mas que, ante a insistência, terminamos por concordar com aquele jeito confuso de se resolver as questões.

Estou disposto a encarar outro filme dessa safra coreana para entender melhor a narrativa utilizada, afinal, assisti a um outro filme coreano, o bem humorado O Hospedeiro (Gwoemul, 2006), que mistura ação, terror e crítica política (difícil, não?) e que conseguiu combinar rasoáveis efeitos digitais com uma história bem amarrada.

Importante ressaltar que, após o caminho trêfego, conseguimos respirar aliviados por chegar ao fim da sessão e pensar: a história tem sentido... Só não foi contada da forma que esperávamos.
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