terça-feira, 2 de agosto de 2011

Wake Wood


Brincar com a ideia de trazer um ente querido de volta à vida já foi um tema explorado com acerto por Stephen King, em seu livro Pet Sematary. A história foi roteirizada pelo próprio autor e se tornou o cult "Cemitério Maldito" (Pet Sematary, 1989), dirigido por Mary Lambert, e protagonizado por Dale Midkiff e Denise Crosby. O interessante nesta produção é que o título original está escrito propositalmente errado, em referência à pequena placa feita pelo garotinho da trama no seu cemitério de insetos e outro bichos pequenos.

A produção de "Floresta Viva" (Wake Wood, 2011) foi na fonte do renomado autor de "O Iluminado" (The Shining) para criar o argumento deste filme que, se não é de todo original, ao menos tem uma interessante proposta e uma condução eficiente.

Também,  ter como mote a perda de um filho ainda criança é garantia de sentimentos fortes e compartilhados pelo público, mesmo para aqueles que não passaram por um momento tão duro como esses.



Patrick (Aidan Gillen) e Louise (Eva Birthistle) é um um casal que tem a rotina abalada com a perda da filha de nove anos em situação trágica. O pai, que é um veterinário, não prende de forma devida um animal sob tratamento, talvez por não esperar que a garotinha voltasse cedo da escola. A menina, já acostumada com os animais desde a sua tenra infância, não  acredita que o belo pastor alemão pudesse ter outras intensões ao perceber sua chegada. A cena em que o cão raivoso ataca a garotinha é forte e nos causa um incômodo,  promovendo uma identificação com a dor do casal logo de início.

Abalados, o casal resolve se mudar para uma cidade mais tranquila, tentando superar o trauma pela morte da garotinha. Encontram um vilarejo pequeno e, aparentemente, acolhedor, onde vivem moradores pitorescos, tais como já estamos habituados a ver em outros filmes do gênero. Quanto à casa... Bem, a casa é daquele jeito que a gente já esperava...



Durante um retorno da cidade, o carro do casal enguiça em plena estrada escura e sem placas indicativas,  e é quando os dois resolvem procurar ajuda nas propriedades vizinhas. Nesta circunstância, Louise, que se antecipa ao marido, presencia uma evento estranho nos fundos de uma fazenda, o que parece ser um ritual pagão. Assustada, ela volta imediatamente e diz para o marido que eles deveriam se retirar dali o quanto antes. O problema é que, como já se era de esperar, ela foi vista por um dos integrantes.


A partir de então, somos apresentados a uma série de elementos que prenunciam os iminentes problemas: esquisitices por parte de alguns moradores, olhares sinistros daqueles que pareciam líderes, sonhos estranhos atordoando a jovem mãe amargurada e cenas sanguinárias de certo impacto visual. Calma! Não pensem em gore. Lembrem-se de que o pai da criança é um veterinário e as carnificinas são fragmentos de partos, retirada de placentas, suturas, abates e vários tipos de procedimentos que apresentam carne e sangue. De animais, claro.

Indagações, visitas estranhas e muita apreensão até chegar ao casal uma proposta, no mínimo, aterrorizante: "Querem ter sua filha de volta por três dias para poderem se despedir adequadamente?"

Isto é parte de Wake Wood. Uma cidade pequena de moradores estranhos e muito ligados entre si. O que a princípio parece uma grande ofensa, se pensado com emoção e inconsequência, pode ser o início de um desafiante jogo de trazer a vida após a morte.

Não será um spoiler se eu contar para vocês que o casal, após um  natural sentimento de ultraje, irá se interessar em entender a proposta e entrar no jogo. Mas... Por qual preço?


O desenvolvimento do processo para volta da garota é tenso e bem conduzido, merecendo destaque a boa atuação da menina, a bonitinha Ella Connolly, que consegue equilibrar a sinceridade pura de uma criança com os alternados e assustadores gestos de um ser trazido do obscuro.



Assistam e procurem sair ilesos da proposta deste filme. Fantasia ou delírio, a ideia da  impossível recuperação da vida terrena  é sempre algo que incomoda.
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segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Lembranças



Alguns jovens atores alcançam o estrelato rápido em virtude de arrasa-quarteirões bem-sucedidos,  e muitos deles, aproveitando a onda do sucesso, procuram se firmar como bons atores antes que o estrondo  da fama se acabe.

Desta forma, rumam para papéis diferentes daqueles que os consagraram, buscando mostrar aos fãs e à crítica especializada que eles podem ser vistos (ou aproveitados) em outros estilos de interpretação ou em outras formas de apresentação da arte.

Foi o que pensei quando vi todo alarde em cima de "Lembranças" (Remember me, 2010), produção norte-americana dirigida por Allen Coulter, que conduziu a cultuada série "Família Soprano" (The Sopranos, 1999-2007), e estrelada por Robert Pattinson, o vampiro inexpressivo da cinessérie "Crepúsculo" (Twiligh, 2008; New Moon, 2009; e Eclipse, 2010).

O desinteresse foi tamanho que só deixei para assistir ao filme em casa, numa calma tarde de domingo, quando exibido na televisão. 

E que bom que existem esses momentos para que possamos nos redimir!



Acredito que grande parte dos especialistas em cinema ainda estão torcendo o nariz para o filme, pois, se pensarmos nas chamadas do cinema, a intenção foi mesmo a de promover Pattinson. Não por acaso, o desengonçado é um dos produtores executivos do filme.

A história está centrada no dia a dia de um jovem desajustado que rompeu com sua família após uma tragédia que se abateu sobre suas vidas. Apesar de contido, ele aceita o desafio de um amigo para seduzir a filha do policial que deu uma surra nos dois durante uma briga numa boate.



A bela garota, inicialmente invocada e arisca, cede aos encantos do rapaz e eles começam um namoro. No decorrer, o rebelde percebe que a mocinha também passava por um momento de superação, visto que ela havia perdido a mãe num assassinato cometido à sua frente. Forte o argumento, não?

Sem cair no piegas, o filme consegue mostrar  a gradativa e delicada inteiração de um jovem casal que tem dificuldades de encaixar a paixão sincera num mundo de dor e descrédito. Para piorar, havia a questão da mentira, pois a aproximação se deu  por uma irresponsável e perigosa intenção de vingança.


Interpretando o pai da moça, está o ótimo Chris Cooper, um policial rude que guarda a dor de não ter conseguido salvar a esposa de um assassino, mas que, em contrapartida, revela que seu jeito duro e pragmático é a sua maneira de proteger e amar a única filha. 



Pierce Brosnan está tão acostumado a papéis de homens sofisticados que parece conduzir o personagem do pai do protagonista num piloto automático, estando bem, como de costume, na personificação de um homem que usa o trabalho e a  projeção nos negócios como forma de não demonstrar a dor da perda. E isto é um problema, posto que o filho instável pensa em frieza e desamor, principalmente quando vê o desinteresse do pai pela  filha mais nova, um garota tímida e inteligente, interpretada com sinceridade e delicadeza pela doce Ruby Jerins.



Fechando o elenco principal, como a mocinha, temos a bela Emillie de Ravin, da série de TV Lost (idem, 2004-2010), e no papel da mãe do personagem de Pattinson, temos Lena Olin, de "A Insustentável Leveza do Ser" (The Unbearable Lightness of Bein, 1988).

Outro fator que me fez apreciar ainda mais o filme foi um item surpresa ao final. Acredito que todos se emocionam, de uma forma ou de outra, em maior ou menor grau, com um fato que abalou a opinião pública mundial. 

Sugiro uma visita a esta produção e finalizo com um registro que eu preciso fazer constar: eu não gosto de filmes (somente) românticos!
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